terça-feira, 27 de outubro de 2009

Crianças e computador: uma relação delicada

Saiba como controlar o acesso de seu filho à internet e evitar que ele caia nas armadilhas da web. Segundo a psicóloga Andréa Nolf, o diálogo ainda é fundamental

por Redação Tudo Bem
01.01.2006

Em América, o personagem Rique (Matheus Costa) teclava com um adulto pensando ser um menino de 12 anos: pais não devem ceder aos pedidos de privacidade
São Paulo - Recentemente, a novela América expôs um fato delicado e que vem deixando muitos adultos de cabelo em pé: o assédio a crianças via internet. Na trama, um homem de meia-idade se fez passar por um garoto de 12 anos na web e, com a promessa de presentear o pequeno Rique (Matheus Costa) com jogos eletrônicos, marcou encontros com ele em um shopping. Os pais demoraram a perceber a cilada, já que o menino exigia privacidade para navegar e não deixava ninguém acompanhar os bate-papos. Exibido em horário nobre, o assunto ganhou destaque e trouxe à tona a seguinte polêmica: até que ponto a relação entre os baixinhos e o computador é saudável e inofensiva?

Por si só, a questão já é complexa, e piora quando se leva em consideração que, hoje, a criançada passa muito tempo em casa - e sozinha - e tem como principal diversão o trio monitor, mouse e teclado. Mas os adultos não precisam se desesperar. Existem meios de controlar o acesso dos pequenos à rede, com recursos que vão desde bloqueadores de conteúdo (veja quadro ao lado) até o simples e barato diálogo. “Estar com os filhos, e atentos ao uso que eles fazem de suas “vidas virtuais”, é o que há de mais importante”, afirma Andréa Jotta Ribeiro Nolf, psicóloga e integrante do Núcleo de Pesquisa de Psicologia e Informática da PUC/SP.

Para começo de conversa, é bom esclarecer uma coisa: cada faixa etária exige um tipo de controle diferente. “Assim como na “vida presencial” (face a face), as responsabilidades e perigos amadurecem conforme o usuário também evolui”, explica Andréa. Isso significa que, em idade pré-escolar - quando os baixinhos literalmente descobrem o mundo -, os cuidados devem ser redobrados. “Nessa fase, o acompanhamento deve ser ainda mais atento, pois o que é ensinado tende a prosseguir. Como o exemplo tem muito mais peso no aprendizado, os responsáveis precisam, antes de tudo, se preocupar com sua postura na “vida virtual”, principalmente para não parecerem incoerentes com aquilo que estão tentando ensinar”. Ou seja, de nada adianta impedir que seu filho entre em uma sala de bate-papo se você passa a noite inteira teclando com pessoas que, muitas vezes, nem conhece.

Tempo certo
Aí vem a dúvida: a partir de que momento, então, posso deixar meu filho navegar sozinho? “Com a mesma idade que o deixaria passear sozinho na “vida presencial””, responde a psicóloga, lembrando que cada família tem seu próprio “timing”. “Só o convívio nos dará essa medida. É no contato, no toque, no “estar junto” que podemos buscar a avaliação mais segura sobre o “certo”, o “melhor” e o mais viável a ser feito, tanto no mundo real (quando dizer por favor e obrigado) quanto no virtual (quando não freqüentar sites indevidos ou impróprios ou não vandalizar páginas alheias, só porque ainda não existe punição para isso)”. A dica vale para conversas simultâneas, comunidades do tipo Orkut e e-mails.

Uso e abuso
O período desprendido frente à tela também pode - e deve - ser rigorosamente controlado. “A “doença” não está no uso, mas no abuso”, diz a especialista. Só não vá limitar completamente a navegação. “Não esqueça que as crianças têm que experimentar e vivenciar dentro de suas rotinas”. Obedecendo a essa regrinha, até mesmo os games (brinquedo preferido de nove entre dez meninos atualmente) estão liberados.
Para Andréa, os riscos que uma criança corre ao utilizar a web de maneira desenfreada são os mesmos de andar pela rua sozinha, por exemplo. Assim, é fundamental ensiná-la a não falar com estranhos (principalmente se forem mais velhos) nem fornecer dados pessoais, como endereço e telefone. E nunca - em hipótese alguma - marcar encontros com pessoas que só conhece por um (vago) apelido. “Em ambos os mundos existem mocinhos e bandidos”, alerta.

A melhor forma de descobrir o que seu filho faz na net é acompanhar de perto seus acessos. “Fique junto, dialogue e tecle com ele”, recomenda a pesquisadora. Isso ajuda, inclusive, a identificar um possível assédio (como o abordado em América). Caso desconfie que o baixinho esteja sofrendo algum tipo de abuso, denuncie imediatamente às autoridades competentes. E lembre-se: não ceda aos pedidos de privacidade da criança. “O problema não está no computador em si, mas na fraqueza e na inversão dos valores internos, ambos trazidos pela modernidade. A criança só pode andar sozinha na rua ou exigir alguma coisa quando tiver responsabilidade para tal”.

Dicas gerais
[-] Acompanhe seu filho durante as navegações


[-] Se possível, instale um bloqueador de conteúdo

[-] Ensine a criança a não fornecer dados pessoais, como nome completo, endereço e telefone, e não permita que ela marque encontros com desconhecidos

[-] Esteja sempre aberto ao diálogo, e saiba escutar

[-] Só deixe seu filho navegar sozinho quando perceber que ele tem maturidade para isso, e ainda assim com tempo limitado

[-] Explique para o baixinho o que é um abuso

[-] Redobre os cuidados com crianças em idade pré-escolar, que estão descobrindo o mundo

[-] Fique atento aos seus próprios hábitos. Seu filho sempre lhe tomará como exemplo

Bloqueadores de conteúdo
Uma ferramenta que pode auxiliar os pais a controlar o acesso dos pequenos à web são os bloqueadores de conteúdo. O próprio Internet Explorer possui essa função. Para ativá-la, basta clicar com o botão direito do mouse no ícone do Explorer e escolher a opção Propriedades. Clicando em Conteúdo, abrem-se as caixas Classificação - que bloqueia as páginas por Linguagem, Nudez, Sexo ou Violência, em níveis que vão de zero (inofensivas) a quatro (linguagem crua ou explícita) -, Sites aprovados - que bloqueia pelo endereço da home page - e Geral - que permite ao usuário criar uma senha para proteger as configurações que acabou de fazer. Escolhidas as opções de bloqueio, é só finalizar com um clique em Aplicar.

Há ainda o bloqueador do Norton Internet Security 2005 (que aparece na tela principal do programa como Controle para Pais), e aqueles disponíveis no formato de softwares, como o PureSight Home Edition, o NetFilter Família 2.39W, o CyberPatrol, o NetNanny e o Web-Fi Bloqueador, entre outros, que podem ser baixados pela internet mediante pagamento - apenas alguns são gratuitos. Eles funcionam por meio de palavras-chave (normalmente pornográficas) que impedem a exibição de sites desse teor. A única desvantagem é a dificuldade na instalação.

Palavra de especialista
“Temos que educar nossos filhos na vida real, uma vez que em suas cabecinhas o mundo virtual e o real coabitam sem conflitos. Neste momento, me parece impossível reinventar um mundo “presencial” onde o virtual não mais exista, como o que nós, adultos, vivenciamos. Particularmente, não me espantaria se meus filhos, em um futuro não muito longínqüo, tivessem outras mães, pais, irmãos e nacionalidades, fossem casados, de outro sexo e vivessem concomitantemente em várias épocas e planetas, em realidades tão importantes e significativas quanto a “presencial” - só que virtuais.
Andréa Jotta Ribeiro Nolf, psicóloga e integrante do Núcleo de Pesquisa de Psicologia e Informática da PUC/SP

Andressa Christofoletti Viviani

Matéria publicada na edição #656 do Jornal Tudo Bem

Publicado originalmente no site do jornal Tudo Bem em 01/01/2006.

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