13/02/2009
Fonte:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI26648-15201,00-CIBERBULLYING+QUANDO+A+CRIANCA+E+O+AGRESSOR.html
Autor:
Revista Época / Francine Lima
Veículo de Imprensa:
Veículo Nacional
Ciberbullying: quando a criança é o agressor
O velho costume de tirar sarro de um colega ganha contornos mais graves na rede. Saiba como combater
Em qualquer escola, sempre existiu aquele aluno que vira o centro das atenções pelos piores motivos. Só por ser gordinho, ou muito estudioso, ou muito tímido, ou por ter um nariz meio grande, ganhava apelidos pejorativos, tomava lanche sozinho, era perseguido na saída. Agora, as brincadeiras de mau gosto ganharam novas proporções. Às vezes, exageradas. Em vez de recreio e saída, os xingamentos podem vir a qualquer hora, por mensagem de celular, emails destinados a dezenas de colegas e até páginas de internet dedicadas ao coitado. Fotos digitais adulteradas são usadas para denegrir sua imagem, e mesmo a distância o efeito é instantâneo: em pouco tempo sabe-se lá quantos internautas já terão visto e repassado a ofensa? Isso é o chamado cyberbullying, uma das principais preocupações atuais de quem estuda o comportamento dos jovens na internet. Principalmente pela dificuldade que a vítima tem de se defender.
Há cerca de três anos, no Instituto Educacional Stagium, em Diadema (SP), uma aluna com autismo foi provocada de propósito por algumas colegas do 7º ano para que aparecesse "surtando" num vídeo. O vídeo, feito com uma câmera fotográfica (proibida na escola), foi publicado num blog dedicado a falar mal dela. Quando a direção da escola ficou sabendo, já tinha dado tempo de a classe inteira assistir ao vídeo na internet. A solução foi chamar os pais dos envolvidos para definir como os culpados seriam repreendidos. “A escola não poderia ficar isenta”, afirma a diretora, Sônia Costa Pereira. No fim, os alunos reconheceram o erro e se retrataram publicamente, usando o mesmo blog em que tinham publicado a ofensa. E ainda se engajaram, por sugestão da escola, em uma ação social no município, como medida socioeducativa.
César Munhoz, do Portal Educacional, afirma que novos meios de cometer assédio pela internet são descobertos a toda hora. Uma das modas é criar perfil falso no Orkut usando o nome e a foto de algum colega. Basta copiar a foto do perfil verdadeiro e colar num outro perfil, usando algumas informações verdadeiras para dar credibilidade, e fazer o diabo em nome dessa pessoa. A "diversão" é acrescentar dados falsos que denigram a imagem do colega e usar o perfil dele para atacar publicamente outras pessoas da turma. Assim, várias vítimas são feitas ao mesmo tempo: os alvos das ofensas e seu suposto autor, que leva a culpa no lugar dos falsários. Quando a ofensa constitui crime, pode ser denunciada ao denunciar.org. As escolas têm poder limitado para interferir, pois não podem impor restrições ao que é feito do lado de fora de seus portões. Mas, como normalmente o bullying envolve colegas de classe, é fundamental que a escola participe da discussão. Trazer a questão para os estudantes analisarem juntos é uma forma de eles entenderem por que é que brincadeira tem limite. Segundo Andréa Jotta, da PUC, o serviço tem recebido muitos e-mails sobre esse tema. A principal dica para se livrar da perseguição é que a vítima não se isole. "Quando ela se fortalece, o bullying perde a graça”.
Como agir se seu filho for atacado virtualmente por colegas
Conforte a criança. Mostre que ela tem a quem recorrer quando se sentir sem defesas. Encontrar aliados dentro da turma costuma fortalecer a vítima
Procure a escola a fim de encontrar soluções e medidas preventivas que possam ser adotadas também dentro de casa
Eles gostam de mentir na internet
Como a facilidade de “teclar” anonimamente facilita os abusos e aumenta os riscos
Sem recursos que filtrem conteúdos impróprios durante sua navegação pela internet, as crianças e adolescentes estão sujeitos a se deparar com uma infinidade de textos, imagens e pessoas com potencial efeito ofensivo. O próprio Orkut, um site de relacionamentos tão popular entre eles, só deveria, segundo as normas, ser usado por maiores de idade, justamente por causa da exposição da intimidade. Os milhares de adolescentes que exibem suas carinhas lá estão mentindo a idade, com a conivência dos pais.
O que é que elas estão fazendo em ambientes feitos para adultos? Na visão de Andréa Jotta, do Núcleo de Pesquisas em Psicologia e Informática da PUC/SP, as páginas pessoais se tornaram o espaço onde eles experimentam se mostrar de um jeito como ainda não têm coragem de fazer diante de olhares críticos. "Eles usam o ambiente virtual para testar e ensaiar o que querem fazer na vida presencial", diz Jotta. Isso inclui se esconder atrás de personagens declaradamente fictícias para fuçar na vida - ou na ficção - alheia sem se comprometer. Adolescentes fãs de mangás deram origem a dezenas de perfis "fakes" no Orkut, em que no lugar da identidade real está a de alguma celebridade do mundo Anime. Essas personagens têm entre seus amigos de Orkut outras personagens de Anime, todas fruto de uma brincadeira coletiva entre totais desconhecidos. Às vezes, assim de mentirinha, um faker vira namorado de outra faker. Atrás da identidade falsa e aparentemente inofensiva, eles podem experimentar um tipo de namoro que ainda não conheceram na vida real. Eles podem experimentar de tudo. O que eles vão querer experimentar e onde vão querer se arriscar, acredita Jotta, depende da educação que estão recebendo.
O papel da família nesse novo mundo, dizem os especialistas, é fazer o que sempre fez com relação aos riscos que qualquer criança corre quando sai de casa, na "vida presencial": tomar conta. Perguntar aonde e com quem o filho vai, combinar horários de ida e volta e as regras do passeio. E, claro, ser bacana o bastante para que a criança ou o jovem se sintam à vontade para dizer a verdade. Não é preciso instaurar uma ditadura doméstica. O caminho é o diálogo. A dica para os pais é que comecem a orientar os filhos desde cedo. Foi o que fizeram Andréa Caran e seu marido, ambos profissionais da área de tecnologia da informação e pais de duas crianças, de 5 e 7 anos. Na sala em que ficam todos os computadores da casa, a família toda se reúne, cada um com sua atividade. O menino, que ainda não aprendeu a ler e escrever, traz indicações de sites divertidos que recebe de coleguinhas da escola, e a mãe checa antes do que se trata. Se tiver sala de bate-papo, ela já avisa que naquela parte do site ele não pode entrar. "Mesmo num site infantil, nunca se sabe quem está do outro lado", diz Andréa. Para a filha, Luana, já alfabetizada, trocar emails e falar no MSN, ela ou o pai autorizam previamente parentes e amigos, e as conversas são automaticamente gravadas. Essa forma de controle é possível a partir do próprio programa da Microsoft, que na criação do Windows Vista previu a necessidade de os adultos restringirem o uso do computador pelas crianças. Mas não dispensa o radar humano. Certa vez, a babá, que também ajuda a monitorar as crianças, viu que o amigo de MSN da menina estava usando palavras inadequadas e pedia que ela ligasse a webcam. A babá interrompeu a conversa e avisou à menina por que estava na hora de desligar. Mais tarde, descobriu-se que era um irmão mais velho do amigo dela que estava falando naquela hora, usando seu nome. O marido de Andréa conversou com a mãe dos garotos e vetou os dois no MSN da filha. Luana aceitou a decisão e explicou ao amigo que a partir dali só se falariam pessoalmente ou por telefone.
Psicóloga, Professora e Pesquisadora da Interface Ser Humano, Tecnologia, Informação e Comunicação da PUC/SP desde 2005. Compõe a equipe do Janus - Laboratório de Estudos da Psicologia, Tecnologia, Informação e Comunicação da PUC-SP. Leciona, pesquisa e palestra sobre o que vem acontecendo com o ser humano, as mídias tradicionais, a sociedade e as ferramentas tecnológicas contemporâneas, como a internet, sites de relacionamento, redes sociais, comunicadores instantâneos entre outros.
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