Sábado, 25 de agosto de 2007
Para os meus alunos, isso não é novidade. Já venho fazendo o mesmo há algum tempo. Sem modéstia! (rs) Hoje, o caderno Cotidiano da Folha paulista publica matéria.
Escolas adotam games e blogs nas aulas
Para melhorar a aprendizagem dos estudantes, colégios de SP aliam internet e jogos ao conhecimento dado em classe
A maioria das atividades e projetos interativos produzidos pelos alunos faz com que eles pesquisem e se interessem por novos temas
DANIELA TÓFOLI
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
A batalha de professores e pais contra o videogame e a internet ganhou uma trégua: colégios particulares de São Paulo começam a adotar ferramentas como blogs e jogos de última geração para melhorar a aprendizagem dos alunos.
O colégio Santa Maria, que fica na zona sul da cidade, por exemplo, agora tem um laboratório para que os estudantes criem os seus próprios games.
A idéia é simples. Já que os jovens gostam tanto de videogame, nada melhor do que escolherem eles mesmos a história, os personagens e os desafios do jogo. O que não é simples é fazer o game funcionar.
"Para isso, eles precisam usar história, geografia, física, biologia, geometria e educação artística. Sem perceber, aplicam na prática o que aprenderam na aula", diz o coordenador do grupo de pesquisa e desenvolvimento de jogos eletrônicos da escola, Muriel Vieira Rubens.
Aluno do nono ano do fundamental, Yuri Rodrigues, 14, pensou que seu trabalho seria bem mais fácil.
Com dois colegas, está desenvolvendo um game sobre a questão nuclear do Irã. O objetivo dos jogadores será impedir a Terceira Guerra Mundial no mundo virtual.
Para começar, o trio teve de ler sobre a atual situação iraniana, desvendar os significados da energia nuclear, desenhar os personagens com conceitos de geometria e aplicar fórmulas de física, como a da velocidade, para que os personagens corram. "Tem hora que é complicado, mas estou gostando. Não vejo a hora de ficar pronto", diz o garoto.
O projeto começou neste ano e, por enquanto, só os alunos que tiram boas notas podem participar da atividade.
Notas e pesquisas
Já no colégio Franciscano Nossa Senhora Aparecida, na zona sul, os alunos dependem de uma ferramenta interativa para ter boas notas. Por meio de um sistema chamado webquest, os alunos fazem pesquisas em vídeos e materiais gráficos. E utilizam o programa para apresentar seus trabalhos.
Os alunos da oitava série, por exemplo, foram divididos em grupos de cinco, e cada conjunto tem a missão de apresentar a melhor fonte de energia (elétrica, eólica, nuclear, entre outras) para uma cidade fictícia.
No final, precisarão apresentar relatórios com fundamentos econômicos, ambientais e tecnológicos para a opção, além de um jornal, que informaria a população sobre o tema.
A atividade começou neste mês e vale metade da nota do trimestre dos alunos, em ciências. "Buscamos um ambiente confortável para eles. A idéia é acompanhar essa geração de blog, do YouTube", diz o coordenador de tecnologia educacional, Fabiano Gonçalves.
Pela ferramenta, os professores conseguem monitorar quanto tempo cada aluno pesquisou e o que fez no grupo.
No colégio Ítaca, na zona oeste, a intenção é utilizar a internet para melhorar a integração entre os alunos. Por meio de blogs, alunos do sexto ao nono ano trocam informações sobre as pesquisas feitas. Cada grupo deverá apresentar um trabalho sobre o Brasil entre guerras.
"A idéia da atividade começou no ano passado, mas vimos que a comunicação entre alunos de diferentes anos não foi tão boa. Por isso, neste ano, adotamos os blogs", relata o coordenador-pedagógico da escola, Flávio Cidade.
No Santo Américo, zona sul, os alunos têm o conteúdo dado pelos professores na intranet do colégio. Há também um tira-dúvidas online, exercícios de reforço pela internet que valem nota e por todo o colégio há rede wi-fi para que laptops e celulares com internet sejam usados de qualquer lugar.
Já no Pio XII, na zona oeste, o conteúdo passado nas lousas digitais pode ser revisto pelos alunos via internet. O sistema foi adotada neste ano na escola.
Para educadores, idéia é positiva, mas há ressalvas
DA REPORTAGEM LOCAL
Educadores consultados pela reportagem afirmam ser positiva a idéia das escolas de adotar novas tecnologias -como blogs e jogos de última geração- para o aprendizado dos alunos. Eles, porém, fazem algumas ressalvas a essa estratégia.
"Se não houver um bom acompanhamento do professor, o tempo utilizado nessas ferramentas poderá ser perdido", afirma a presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Maria Irene Maluf.
A pedagoga afirma que a principal característica que indica a qualidade da escola é a formação dos seus professores -e não as tecnologias adotadas para o ensino.
Já o professor da Faculdade de Educação da Unicamp Sergio Amaral afirma que as novas ferramentas só têm eficácia se estiverem bem integradas com a proposta didática da instituição.
"A tecnologia não pode ser reduzida à simples utilização instrumental. Senão, fica apenas uma atividade lúdica, sem relação com o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem", afirma.
Andréa Jotta Nolf, do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP, destaca uma outra questão importante a ser considerada nessa discussão: o corretor ortográfico dos programas de computador.
"Quem faz texto no Word, por exemplo, tem tudo corrigido automaticamente." Dessa forma, diz ela, o estudante deixa de prestar atenção em regras básicas da ortografia. "A solução é que as escolas peçam alguns trabalhos escritos à mão, pelo menos nas séries iniciais", afirma Andréa.
Apesar dessa ressalva, a psicóloga é a favor da inclusão das novas tecnologias na sala de aula.
"Não dá mais para escapar do Google, do Orkut, dos games. O desafio é não estacionar e saber tirar proveito disso." (DT e FT)
Postado por pc guimarães às 10:11
Psicóloga, Professora e Pesquisadora da Interface Ser Humano, Tecnologia, Informação e Comunicação da PUC/SP desde 2005. Compõe a equipe do Janus - Laboratório de Estudos da Psicologia, Tecnologia, Informação e Comunicação da PUC-SP. Leciona, pesquisa e palestra sobre o que vem acontecendo com o ser humano, as mídias tradicionais, a sociedade e as ferramentas tecnológicas contemporâneas, como a internet, sites de relacionamento, redes sociais, comunicadores instantâneos entre outros.
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Características e Impactos do uso compulsivo da Internet
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Escola de Artes, Ciências e Humanidades
Projeto de Pesquisa para
Disciplina Resolução de Problemas II
Características e Impactos do uso compulsivo da Internet
Luiz Arthur Almeida de Freitas
Michel Perassi Melo
Rafael Chies da Silva
Roberto Masao Sato
Tiago Marques Machado
Tutor (a): Profa. Dra. Rosana Retsos S. Vargas
São Paulo, 2007
Projeto de Pesquisa apresentado para professores e alunos da turma 44 do 2° semestre de 2007 – Ciclo Básico para a conclusão da disciplina Resolução de Problemas II.
“Alguns qualificam o espaço cibernético como
um novo mundo, um mundo virtual, mas não podemos
nos equivocar. Não há dois mundos diferentes,
um real e outro virtual, mas apenas um, no qual
se devem aplicar e respeitar os mesmos valores
de liberdade e dignidade da pessoa”.
- Jacques Chirac
Sumário
1. Resumo................................................................. 05
2. Introdução e Justificativa................................................................. 06
3.Objetivos.................................................................... 08
4. Materiais e Métodos........................................................................ 09
5. Mudanças no Projeto....................................................................... 10
6. Resultados e Discussões................................................................ 11
6.1. Critérios de Diagnósticos................................................ 12
6.2. Formas de Tratamento...................................................... 13
6.3. O Problema no Brasil............................................................. 14
7. Considerações Finais...................................................................... 16
8. Referências Bibliográficas............................................................... 17
1. Resumo
As facilidades e oportunidades trazidas pela internet possibilitaram sua rápida difusão, tornando-se em pouco tempo um dos principais meios de comunicação. Estima-se que exista hoje, no mundo, mais de um bilhão de pessoas com acesso a internet, que a utilizam com as mais diversas finalidades. Com o aumento no número de internautas, o número de pessoas que fazem uso compulsivo da internet passou a chamar atenção em todo o mundo. O usuário dependente da internet é aquele que causa danos a sua vida social, familiar ou profissional devido ao uso excessivo da internet. O fato é que essa dependência de internet existe e em alguns países já tem alcançado níveis preocupantes. O objetivo desta pesquisa é estudar a compulsão a Internet, verificando as características da doença, conseqüências, e possíveis causas para o início de um hábito exagerado e vicioso no qual vive o dependente da Internet.
2. Introdução e Justificativa
As facilidades e oportunidades trazidas pela internet possibilitaram sua rápida difusão, tornando-se em pouco tempo um dos principais meios de comunicação e, por conseqüência, de diversão, lazer, informação, trabalho, pesquisa, etc. Estima-se que exista hoje, no mundo, mais de um bilhão de pessoas com acesso a internet, que a utilizam com as mais diversas finalidades. A tendência é que este número aumente a cada dia, assim como o número de vantagens oferecidas pela internet.
No entanto, esta rede mundial de computadores não está livre de perigos e desvantagens, que, assim como as vantagens, podem ser percebidas em diversas formas e áreas, tendendo a aumentar cada vez mais, como o uso excessivo da internet.
Desde que a internet começou a ser difundida, surgiram os primeiros estudos sobre os perigos da sua utilização em excesso, sendo Goldberg (1995) supostamente o primeiro a utilizar o termo "dependência de internet" e a propor a sua classificação como patologia.
Outros estudos mais aprofundados surgiram em seguida, como do da psiquiatra Kimberly Young (1996), que comparou a dependência de internet a outros vícios conhecidos e traçou o perfil dos usuários dependentes, utilizado com base de estudos posteriores. Outros pesquisadores divulgaram seus estudos, muitos divergentes dos existentes, porém, a maioria concordou que o Transtorno de Adicção a Internet (TAI) ou Uso Patológico da Internet (UPI), mal catalogado pela Associação Americana de psicologia como PIU (Pathological Internet Use), não depende exclusivamente do número de horas conectadas à rede e que os prejuízos à vida emocional do usuário é a característica determinante para a patologia, ou seja, pode-se considerar dependente de internet apenas o indivíduo que causa danos a sua vida social, familiar ou profissional devido ao uso excessivo da internet.
Entretanto, identificar quando uma pessoa passa de usuário assíduo a compulsivo não é uma tarefa simples, pois a internet é utilizada com diversos objetivos, sendo difícil separar aqueles que são realmente dependentes da internet dos que a usam para trabalho, lazer ou para obter informações. Muitas pessoas perdem o emprego, se afastam da família ou do convívio social e sequer se dão conta que esses fatos são conseqüências de seu vício.
O fato é que essa dependência de internet existe e em alguns países já tem alcançado níveis preocupantes. Uma pesquisa da Universidade de Stanford (2006) afirma que um a cada oito norte-americanos são viciados em internet. Além disso, a pesquisa advertiu que embora os serviços da internet que mais causam a dependência sejam os sites de pornografia e apostas on-line, os problemas podem surgir em atos aparentemente inofensivos, como checar o e-mail a cada cinco minutos, atualizar blogs ou acessar sites de informações financeiras para verificar o preço das ações.
Esta conclusão da pesquisa de Stanford, também colocada antes por Kimberly Young em seu site de tratamento aos dependentes, derruba as teorias anteriores de que os viciados em internet seriam em sua maioria pessoas já com algum distúrbio psicológico, apenas acentuado pela internet.
Outros países iniciaram também pesquisas e estudos sobre o vício de internet, como Suíça, China e Brasil, porém nenhum outro país se aprofundou tanto no assunto como os EUA.
3. Objetivos
Atualmente a grande gama de estudos sobre o uso patológico da internet foi realizada pelos pesquisadores norte-americanos e grande parte dos estudos realizados em outros países utilizou como base os estudos americanos. No Brasil os estudos sobre a compulsão ainda são recentes, das entidades que estudam a patologia destaca-se a AMITI (Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso), pertencente ao Instituto de Psiquiatra do Hospital das Clínicas, iniciou estudos independentes baseados em dados próprios, retirados de pesquisas com voluntários que apresentam características do vício em questão; o PROAD (Programa de Orientação e Atendimento aos Dependentes) da UNIFESP é um dos pioneiros, no Brasil, em relação ao atendimento e estudo dos dependentes de Internet; O NPPI (Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática), pertencente a PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
O objetivo desta pesquisa é estudar a compulsão a Internet, verificando as características da doença, conseqüências, e possíveis causas para o início de um hábito exagerado e vicioso no qual vive o dependente da Internet.
Dessa forma, será possível verificar se a compulsão a Internet pode ser considerada preocupante e se necessita de maior atenção e prevenção para que com o passar dos anos a quantidade de dependentes não aumente.
Além disso, esta pesquisa visa trazer informação e orientação, com base em dados concretos e próximos de nossa realidade, visto que as informações disponíveis na internet sobre este problema são na maioria contraditórias.
4. Materiais e Métodos
O método utilizado neste projeto foi a pesquisa aprofundada sobre o tema abordado, objetivando informações suficientes para compreender os efeitos psíquicos causados pelo uso excessivo da Internet. Procuramos obter, com a pesquisa em livros, Internet, artigos científicos e trabalhos acadêmicos, informações quantitativas e qualitativas sobre a compulsão e seus dependentes.
O contato com as instituições de tratamento aos dependentes (AMITI e PROAD), conforme proposto no Projeto de Pesquisa, mostrou-se lento e difícil como alertado pelos tutores durante a apresentação. O maior progresso foi realizado no contato com o AMITI, onde a pessoa responsável pelas relações públicas da instituição nos forneceu um guia de elaboração do documento de solicitação de entrevista com um dos profissionais do AMITI e/ou visita a um setor do ambulatório. Porém, não foi possível concluir o contato e realizar a entrevista dentro do tempo disponível. Apesar disso, as mudanças realizadas foram satisfatórias para solucionar os problemas encontrados no decorrer do projeto.
5. Mudanças no projeto
O projeto inicialmente tinha como objetivo analisar não só a compulsão a Internet, mas também os usuários. Foi proposta a comparação entre o perfil dos usuários norte-americanos e o perfil dos brasileiros, mas essa idéia foi descartada, pois esse tipo de comparação seria muito ambiciosa para o tempo de realização do Projeto.
Pelo fato do problema ainda ser pouco pesquisado no Brasil, não foi possível traçarmos o perfil do usuário brasileiro, principalmente porque, nos poucos estudos sobre a compulsão a internet no Brasil, há algumas divergências com relação às características dos usuários, outro fator que fez com que o trabalho fosse direcionado apenas ao problema em si. Além disso, alguns pesquisadores defendem que não existe um perfil de usuários dependentes.
6. Resultados e Discussões
6.1. Critérios de Diagnósticos
De acordo com a Dra. Kimberly Young, se forem detectados ao menos 5 dos 8 critérios abaixo, existem fortes indícios de dependência.
1- Preocupação com Internet, sobre o uso anterior ou o próximo uso.
2- Necessidade de usar a Internet durante cada vez mais tempo.
3- Tentativas frustradas de controlar, reduzir ou parar o uso de Internet.
4- Inquietação, mal-humor, depressão ou irritação ao tentar reduzir ou parar com o uso de Internet.
5- Conexões mais longas que o planejado originalmente.
6- Perda de alguma relação significativa, como o trabalho, a educação ou oportunidades sociais, devido ao uso excessivo da internet.
7 - Uso de mentiras para ocultar dos membros da família, terapeutas ou outros o tempo de permanência na Internet.
8 - Uso da Internet para fugir dos problemas ou de ocultar algum tipo de mal estar, como sentimentos de impotência, culpa, ansiedade, depressão, etc.
6.2. Formas de Tratamento
Existem basicamente duas formas de tratamento: presencial e à distância. O tratamento à distância, paradoxalmente feito através da própria internet via e-mail é utilizado principalmente como forma de orientação e triagem, podendo verificar se o paciente possui de fato o problema que acredita ter. Apesar de parecer contraditório, essa forma de tratamento é comum e não atrapalha na recuperação do paciente, visto que, para psiquiatras não é preciso deixar de usar a internet para obter a cura.
O principal centro de tratamento do mundo, criado por Kimberly Young, oferece tratamento completo também pela internet. Existem poucos lugares que oferecem o tratamento presencial específico para esse distúrbio e muitos deles são pagos. No Brasil existem três instituições que tratam e estudam esse distúrbio: o PROAD, da UNIFESP; o AMITI, do HC-USP e o NPPI, da PUC-SP.
Apesar do problema ainda ser recente no Brasil, outros paises já tem, em seu governo, planos de tratamento de seus pacientes. Em nossa pesquisa pudemos verificar algumas dessas formas de tratamento, que variavam das tradicionais até formas peculiares de lidar com o problema.
Exemplo disso pode ser encontrado na Coréia, país onde 90% das casas têm banda larga. O governo cobre os gastos de tratamento para grupos com até 18 jovens que passam 12 dias no acampamento “Jump Up Internet Rescue School” para se livrar do vício em Internet.
Situados em uma área florestal, à uma hora de Seul, o programa se assemelha a outros tratamentos aplicados a jovens. Instrutores os conduzem por circuitos com obstáculos no estilo exército, os acampantes passam por sessões de terapia em grupo e executam atividades relacionadas à poesia e à música. Proibidos de usar a Internet nesse período espera-se que eles construam conexões emocionais com o mundo real e enfraqueçam os elos com o mundo virtual. “É muito importante oferecer a esses jovens a experiência de um estilo de vida sem a internet. Os jovens sul-coreanos não sabem o que é isso”, afirmou Lee Yun-hee, profissional envolvida no programa.
6.3. O Problema no Brasil
Estudos divulgados pelo Ibope//NetRatings em setembro deste ano indicam que o Brasil chegou a 19,3 milhões de usuários da internet. O aumento de cerca de 40% no número de brasileiros que possuem internet em casa, em relação ao ano de 2006, e a média mensal de 23 horas e 28 minutos de conexão garantiram ao Brasil a permanência no primeiro lugar no ranking de usuários domésticos.
As pesquisas mostram que a internet se expande rapidamente no Brasil, atingindo índices consideráveis como o de usuários domésticos. Esses dados reafirmam a necessidade de melhores estudos sobre o uso que é feito desse serviço, principalmente sobre o compulsivo.
Atualmente no Brasil existem três instituições que se destacam nos estudos sobre o tema e na oferta de tratamento aos dependentes: o AMITI, o PROAD e o NPPI.
Segundo o Professor e Dr. Cristiano Nabuco de Abreu, coordenador do Projeto Dependentes de Internet do AMITI, o grupo de dependentes formado por seu projeto foi um dos primeiros no mundo.
O grupo formado por 15 voluntários de 18 a 73 anos, previamente diagnosticados como usuários compulsivos, foi submetido á análise cognitiva por um período de 18 semanas. Os resultados obtidos no primeiro grupo já foram suficientes para contrariar a teoria, defendida na literatura mundial, de que navegar na internet durante várias horas seria um distúrbio de jovens estudantes. As informações divulgadas mostraram que o uso compulsivo da internet pode afetar pessoas de qualquer idade, sexo, nível cultural ou classe social. Essa constatação é importante, pois demonstra quão amplo é o campo de atuação desse distúrbio e desmistifica o perfil de jovem tímido que se refugia na internet.
“Fiquei surpreso com os resultados. Apesar do grupo ser pequeno, ele vai contra as estatísticas americanas que servem de base para o mundo inteiro”, disse o Dr. Cristiano Nabuco. O AMITI iniciou a formação de um novo grupo e também oferece orientação aos interessados.
O PROAD é um dos pioneiros no tratamento aos dependentes de internet no Brasil e oferece tratamento presencial, além de orientação por telefone.
O NPPI oferece uma forma alternativa de tratamento, realizado via e-mail, para garantir o anonimato dos usuários e deixa-los em situação mais confortável para pedir ajuda. Inicialmente são trocados cerca de oito e-mails com os pacientes, afim de verificar se existe de fato o distúrbio e em caso positivo o usuário é indicado para o tratamento presencial e individual.
"Na conversa por e-mail, conduzimos o indivíduo a tomar consciência de que existe uma lacuna em sua vida que está sendo preenchida pela internet. E, em alguns casos, apenas essa conscientização já atua de forma positiva, diminuindo o acesso à rede", disse Andréa Jotta Ribeiro Nolf, psicóloga do NPPI.
Segundo a psicóloga Rosa Farah, coordenadora do NPPI, normalmente as pessoas que apresentam sintomas do distúrbio não pedem ajuda ou procuram tratamento, são as pessoas próximas aos dependentes que procuram os centros de tratamento para buscar orientação.
Apesar dos números, o assunto ainda não é encarado com seriedade pelos usuários de internet e aqueles que apresentam características de usuários dependentes não acreditam que isso seja algo tão prejudicial que o motive a fazer tratamento.
Além disso, os principais locais que oferecem suporte específico a essa dependência se concentram em São Paulo, desfavorecendo os habilitantes das outras regiões do país.
7. Considerações Finais
Ao analisarmos as diferentes pesquisas realizadas sobre o tema e o conteúdo bibliográfico disponível, podemos verificar que ainda não é possível concluir se a dependência da Internet é uma patologia com características próprias ou apenas uma expressão de outra patologia, como por exemplo, a depressão. Essa indefinição, causada pela carência de estudos aprofundados, não possibilita que o uso compulsivo da internet seja catalogado como uma patologia nos manuais diagnósticos (DSM-IV, CID-10).
Entretanto, não se pode negar a existência da dependência de internet, principalmente levando-se em conta o aumento exponencial no número de usuários na internet e no número de pessoas que apresentam os sintomas do problema. Se providências não forem tomadas, esse distúrbio pode se expandir silenciosamente de forma perigosa, justamente por não ser considerado algo tão prejudicial quanto outros vícios.
Vale salientar que a internet não deve ser condenada ou considerada a causa do problema, pois hoje se tornou uma ferramenta fundamental na vida cotidiana e prática da população. A causa desse e de outros problemas encontra-se no uso de forma errada da internet, muitas vezes por falta de informação ou conhecimento.
Um trabalho mais sério de conscientização dos usuários deveria ser desenvolvido em escala nacional, visando principalmente o público jovem e adolescente, que compreendem a grande maioria dos usuários domésticos.
A tendência é que o mundo torne-se cada vez ligado ao mundo virtual, sendo assim, devemos estar preparados para os impactos positivos e negativos que estes avanços tecnológicos nos causarão, somente assim estaremos um passo a frente do problema.
8. Referências Bibliográficas
"O impacto do uso (excessivo) da Internet no comportamento social das pessoas." Karin Sylvia Graeml, José Henrique Volpi, Alexandre Reis Graeml.
"Impactos da internet no cotidiano de acadêmicos."
Ivanilde Scussiatto Eyng, Dálcio Roberto dos Reis, Luciano Scandelari.
"Saúde x Evolução da Tecnologia."
Alice Andréia Pasquali, Edward Kleine Albers, Graciano dos Santos, Leandro Miranda de Araújo, Orlei Pombeiro.
"Comportamento patológico provocado pelo uso indevido de Internet: uma leitura do ambiente produtivo e social."
Gláucia T. Bardi de Moraes, Prof.Dr. Luiz Alberto Pilatti, Prof.Dr. Luciano Scandelari.
AMITI - http://www.amiti.com.br/ - acessado em 02/10/2007
PROAD - http://www.unifesp.br/dpsiq/proad/apresenta.htm - acessado em 02/10/2007
Ballone GJ - Compulsão à Internet, Mito ou Realidade - http://gballone.sites.uol.com.br/voce/internet.html - acessado em 02/10/2007
NPPI - http://www.pucsp.br/nppi/ - acessado em 25/11/2007
http://www.netaddiction.com/ - acessado em 2/10/2007
http://www.abpbrasil.org.br/clipping/exibClipping/?clipping=4186 - acessado em 25/11/2007
http://www1.folha.uol.com.br/folha/treinamento/vicios/te2206200405.shtml - acessado em 25/11/2007
http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u20334.shtml - acessado em 25/11/2007
http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u20332.shtml - acessado em 25/11/2007
http://www.psicoinfo.com.br/depo.shtml - acessado em 25/11/2007
http://www.jornaldedebates.ig.com.br/index.aspx?cnt_id=15&art_id=7243 - acessado em 25/11/2007
http://idgnow.uol.com.br/chat/2007/06/05/idgchat.2007-06-07.5442232789/ - acessado em 25/11/2007
http://www.redepsi.com.br/portal/modules/news/article.php?storyid=3986 - acessado em 25/11/2007
http://www.abpbrasil.org.br/clipping/exibClipping/?clipping=3231 - acessado em 25/11/2007
http://www.aecambui.com.br/index_01.php?menu=05&edicao=14&id=534 - acessado em 25/11/2007
http://www.dc2.com.br/conteudo/dc2/dcnews/dcnew.php?id=946 - acessado em 25/11/2007
Escola de Artes, Ciências e Humanidades
Projeto de Pesquisa para
Disciplina Resolução de Problemas II
Características e Impactos do uso compulsivo da Internet
Luiz Arthur Almeida de Freitas
Michel Perassi Melo
Rafael Chies da Silva
Roberto Masao Sato
Tiago Marques Machado
Tutor (a): Profa. Dra. Rosana Retsos S. Vargas
São Paulo, 2007
Projeto de Pesquisa apresentado para professores e alunos da turma 44 do 2° semestre de 2007 – Ciclo Básico para a conclusão da disciplina Resolução de Problemas II.
“Alguns qualificam o espaço cibernético como
um novo mundo, um mundo virtual, mas não podemos
nos equivocar. Não há dois mundos diferentes,
um real e outro virtual, mas apenas um, no qual
se devem aplicar e respeitar os mesmos valores
de liberdade e dignidade da pessoa”.
- Jacques Chirac
Sumário
1. Resumo................................................................. 05
2. Introdução e Justificativa................................................................. 06
3.Objetivos.................................................................... 08
4. Materiais e Métodos........................................................................ 09
5. Mudanças no Projeto....................................................................... 10
6. Resultados e Discussões................................................................ 11
6.1. Critérios de Diagnósticos................................................ 12
6.2. Formas de Tratamento...................................................... 13
6.3. O Problema no Brasil............................................................. 14
7. Considerações Finais...................................................................... 16
8. Referências Bibliográficas............................................................... 17
1. Resumo
As facilidades e oportunidades trazidas pela internet possibilitaram sua rápida difusão, tornando-se em pouco tempo um dos principais meios de comunicação. Estima-se que exista hoje, no mundo, mais de um bilhão de pessoas com acesso a internet, que a utilizam com as mais diversas finalidades. Com o aumento no número de internautas, o número de pessoas que fazem uso compulsivo da internet passou a chamar atenção em todo o mundo. O usuário dependente da internet é aquele que causa danos a sua vida social, familiar ou profissional devido ao uso excessivo da internet. O fato é que essa dependência de internet existe e em alguns países já tem alcançado níveis preocupantes. O objetivo desta pesquisa é estudar a compulsão a Internet, verificando as características da doença, conseqüências, e possíveis causas para o início de um hábito exagerado e vicioso no qual vive o dependente da Internet.
2. Introdução e Justificativa
As facilidades e oportunidades trazidas pela internet possibilitaram sua rápida difusão, tornando-se em pouco tempo um dos principais meios de comunicação e, por conseqüência, de diversão, lazer, informação, trabalho, pesquisa, etc. Estima-se que exista hoje, no mundo, mais de um bilhão de pessoas com acesso a internet, que a utilizam com as mais diversas finalidades. A tendência é que este número aumente a cada dia, assim como o número de vantagens oferecidas pela internet.
No entanto, esta rede mundial de computadores não está livre de perigos e desvantagens, que, assim como as vantagens, podem ser percebidas em diversas formas e áreas, tendendo a aumentar cada vez mais, como o uso excessivo da internet.
Desde que a internet começou a ser difundida, surgiram os primeiros estudos sobre os perigos da sua utilização em excesso, sendo Goldberg (1995) supostamente o primeiro a utilizar o termo "dependência de internet" e a propor a sua classificação como patologia.
Outros estudos mais aprofundados surgiram em seguida, como do da psiquiatra Kimberly Young (1996), que comparou a dependência de internet a outros vícios conhecidos e traçou o perfil dos usuários dependentes, utilizado com base de estudos posteriores. Outros pesquisadores divulgaram seus estudos, muitos divergentes dos existentes, porém, a maioria concordou que o Transtorno de Adicção a Internet (TAI) ou Uso Patológico da Internet (UPI), mal catalogado pela Associação Americana de psicologia como PIU (Pathological Internet Use), não depende exclusivamente do número de horas conectadas à rede e que os prejuízos à vida emocional do usuário é a característica determinante para a patologia, ou seja, pode-se considerar dependente de internet apenas o indivíduo que causa danos a sua vida social, familiar ou profissional devido ao uso excessivo da internet.
Entretanto, identificar quando uma pessoa passa de usuário assíduo a compulsivo não é uma tarefa simples, pois a internet é utilizada com diversos objetivos, sendo difícil separar aqueles que são realmente dependentes da internet dos que a usam para trabalho, lazer ou para obter informações. Muitas pessoas perdem o emprego, se afastam da família ou do convívio social e sequer se dão conta que esses fatos são conseqüências de seu vício.
O fato é que essa dependência de internet existe e em alguns países já tem alcançado níveis preocupantes. Uma pesquisa da Universidade de Stanford (2006) afirma que um a cada oito norte-americanos são viciados em internet. Além disso, a pesquisa advertiu que embora os serviços da internet que mais causam a dependência sejam os sites de pornografia e apostas on-line, os problemas podem surgir em atos aparentemente inofensivos, como checar o e-mail a cada cinco minutos, atualizar blogs ou acessar sites de informações financeiras para verificar o preço das ações.
Esta conclusão da pesquisa de Stanford, também colocada antes por Kimberly Young em seu site de tratamento aos dependentes, derruba as teorias anteriores de que os viciados em internet seriam em sua maioria pessoas já com algum distúrbio psicológico, apenas acentuado pela internet.
Outros países iniciaram também pesquisas e estudos sobre o vício de internet, como Suíça, China e Brasil, porém nenhum outro país se aprofundou tanto no assunto como os EUA.
3. Objetivos
Atualmente a grande gama de estudos sobre o uso patológico da internet foi realizada pelos pesquisadores norte-americanos e grande parte dos estudos realizados em outros países utilizou como base os estudos americanos. No Brasil os estudos sobre a compulsão ainda são recentes, das entidades que estudam a patologia destaca-se a AMITI (Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso), pertencente ao Instituto de Psiquiatra do Hospital das Clínicas, iniciou estudos independentes baseados em dados próprios, retirados de pesquisas com voluntários que apresentam características do vício em questão; o PROAD (Programa de Orientação e Atendimento aos Dependentes) da UNIFESP é um dos pioneiros, no Brasil, em relação ao atendimento e estudo dos dependentes de Internet; O NPPI (Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática), pertencente a PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
O objetivo desta pesquisa é estudar a compulsão a Internet, verificando as características da doença, conseqüências, e possíveis causas para o início de um hábito exagerado e vicioso no qual vive o dependente da Internet.
Dessa forma, será possível verificar se a compulsão a Internet pode ser considerada preocupante e se necessita de maior atenção e prevenção para que com o passar dos anos a quantidade de dependentes não aumente.
Além disso, esta pesquisa visa trazer informação e orientação, com base em dados concretos e próximos de nossa realidade, visto que as informações disponíveis na internet sobre este problema são na maioria contraditórias.
4. Materiais e Métodos
O método utilizado neste projeto foi a pesquisa aprofundada sobre o tema abordado, objetivando informações suficientes para compreender os efeitos psíquicos causados pelo uso excessivo da Internet. Procuramos obter, com a pesquisa em livros, Internet, artigos científicos e trabalhos acadêmicos, informações quantitativas e qualitativas sobre a compulsão e seus dependentes.
O contato com as instituições de tratamento aos dependentes (AMITI e PROAD), conforme proposto no Projeto de Pesquisa, mostrou-se lento e difícil como alertado pelos tutores durante a apresentação. O maior progresso foi realizado no contato com o AMITI, onde a pessoa responsável pelas relações públicas da instituição nos forneceu um guia de elaboração do documento de solicitação de entrevista com um dos profissionais do AMITI e/ou visita a um setor do ambulatório. Porém, não foi possível concluir o contato e realizar a entrevista dentro do tempo disponível. Apesar disso, as mudanças realizadas foram satisfatórias para solucionar os problemas encontrados no decorrer do projeto.
5. Mudanças no projeto
O projeto inicialmente tinha como objetivo analisar não só a compulsão a Internet, mas também os usuários. Foi proposta a comparação entre o perfil dos usuários norte-americanos e o perfil dos brasileiros, mas essa idéia foi descartada, pois esse tipo de comparação seria muito ambiciosa para o tempo de realização do Projeto.
Pelo fato do problema ainda ser pouco pesquisado no Brasil, não foi possível traçarmos o perfil do usuário brasileiro, principalmente porque, nos poucos estudos sobre a compulsão a internet no Brasil, há algumas divergências com relação às características dos usuários, outro fator que fez com que o trabalho fosse direcionado apenas ao problema em si. Além disso, alguns pesquisadores defendem que não existe um perfil de usuários dependentes.
6. Resultados e Discussões
6.1. Critérios de Diagnósticos
De acordo com a Dra. Kimberly Young, se forem detectados ao menos 5 dos 8 critérios abaixo, existem fortes indícios de dependência.
1- Preocupação com Internet, sobre o uso anterior ou o próximo uso.
2- Necessidade de usar a Internet durante cada vez mais tempo.
3- Tentativas frustradas de controlar, reduzir ou parar o uso de Internet.
4- Inquietação, mal-humor, depressão ou irritação ao tentar reduzir ou parar com o uso de Internet.
5- Conexões mais longas que o planejado originalmente.
6- Perda de alguma relação significativa, como o trabalho, a educação ou oportunidades sociais, devido ao uso excessivo da internet.
7 - Uso de mentiras para ocultar dos membros da família, terapeutas ou outros o tempo de permanência na Internet.
8 - Uso da Internet para fugir dos problemas ou de ocultar algum tipo de mal estar, como sentimentos de impotência, culpa, ansiedade, depressão, etc.
6.2. Formas de Tratamento
Existem basicamente duas formas de tratamento: presencial e à distância. O tratamento à distância, paradoxalmente feito através da própria internet via e-mail é utilizado principalmente como forma de orientação e triagem, podendo verificar se o paciente possui de fato o problema que acredita ter. Apesar de parecer contraditório, essa forma de tratamento é comum e não atrapalha na recuperação do paciente, visto que, para psiquiatras não é preciso deixar de usar a internet para obter a cura.
O principal centro de tratamento do mundo, criado por Kimberly Young, oferece tratamento completo também pela internet. Existem poucos lugares que oferecem o tratamento presencial específico para esse distúrbio e muitos deles são pagos. No Brasil existem três instituições que tratam e estudam esse distúrbio: o PROAD, da UNIFESP; o AMITI, do HC-USP e o NPPI, da PUC-SP.
Apesar do problema ainda ser recente no Brasil, outros paises já tem, em seu governo, planos de tratamento de seus pacientes. Em nossa pesquisa pudemos verificar algumas dessas formas de tratamento, que variavam das tradicionais até formas peculiares de lidar com o problema.
Exemplo disso pode ser encontrado na Coréia, país onde 90% das casas têm banda larga. O governo cobre os gastos de tratamento para grupos com até 18 jovens que passam 12 dias no acampamento “Jump Up Internet Rescue School” para se livrar do vício em Internet.
Situados em uma área florestal, à uma hora de Seul, o programa se assemelha a outros tratamentos aplicados a jovens. Instrutores os conduzem por circuitos com obstáculos no estilo exército, os acampantes passam por sessões de terapia em grupo e executam atividades relacionadas à poesia e à música. Proibidos de usar a Internet nesse período espera-se que eles construam conexões emocionais com o mundo real e enfraqueçam os elos com o mundo virtual. “É muito importante oferecer a esses jovens a experiência de um estilo de vida sem a internet. Os jovens sul-coreanos não sabem o que é isso”, afirmou Lee Yun-hee, profissional envolvida no programa.
6.3. O Problema no Brasil
Estudos divulgados pelo Ibope//NetRatings em setembro deste ano indicam que o Brasil chegou a 19,3 milhões de usuários da internet. O aumento de cerca de 40% no número de brasileiros que possuem internet em casa, em relação ao ano de 2006, e a média mensal de 23 horas e 28 minutos de conexão garantiram ao Brasil a permanência no primeiro lugar no ranking de usuários domésticos.
As pesquisas mostram que a internet se expande rapidamente no Brasil, atingindo índices consideráveis como o de usuários domésticos. Esses dados reafirmam a necessidade de melhores estudos sobre o uso que é feito desse serviço, principalmente sobre o compulsivo.
Atualmente no Brasil existem três instituições que se destacam nos estudos sobre o tema e na oferta de tratamento aos dependentes: o AMITI, o PROAD e o NPPI.
Segundo o Professor e Dr. Cristiano Nabuco de Abreu, coordenador do Projeto Dependentes de Internet do AMITI, o grupo de dependentes formado por seu projeto foi um dos primeiros no mundo.
O grupo formado por 15 voluntários de 18 a 73 anos, previamente diagnosticados como usuários compulsivos, foi submetido á análise cognitiva por um período de 18 semanas. Os resultados obtidos no primeiro grupo já foram suficientes para contrariar a teoria, defendida na literatura mundial, de que navegar na internet durante várias horas seria um distúrbio de jovens estudantes. As informações divulgadas mostraram que o uso compulsivo da internet pode afetar pessoas de qualquer idade, sexo, nível cultural ou classe social. Essa constatação é importante, pois demonstra quão amplo é o campo de atuação desse distúrbio e desmistifica o perfil de jovem tímido que se refugia na internet.
“Fiquei surpreso com os resultados. Apesar do grupo ser pequeno, ele vai contra as estatísticas americanas que servem de base para o mundo inteiro”, disse o Dr. Cristiano Nabuco. O AMITI iniciou a formação de um novo grupo e também oferece orientação aos interessados.
O PROAD é um dos pioneiros no tratamento aos dependentes de internet no Brasil e oferece tratamento presencial, além de orientação por telefone.
O NPPI oferece uma forma alternativa de tratamento, realizado via e-mail, para garantir o anonimato dos usuários e deixa-los em situação mais confortável para pedir ajuda. Inicialmente são trocados cerca de oito e-mails com os pacientes, afim de verificar se existe de fato o distúrbio e em caso positivo o usuário é indicado para o tratamento presencial e individual.
"Na conversa por e-mail, conduzimos o indivíduo a tomar consciência de que existe uma lacuna em sua vida que está sendo preenchida pela internet. E, em alguns casos, apenas essa conscientização já atua de forma positiva, diminuindo o acesso à rede", disse Andréa Jotta Ribeiro Nolf, psicóloga do NPPI.
Segundo a psicóloga Rosa Farah, coordenadora do NPPI, normalmente as pessoas que apresentam sintomas do distúrbio não pedem ajuda ou procuram tratamento, são as pessoas próximas aos dependentes que procuram os centros de tratamento para buscar orientação.
Apesar dos números, o assunto ainda não é encarado com seriedade pelos usuários de internet e aqueles que apresentam características de usuários dependentes não acreditam que isso seja algo tão prejudicial que o motive a fazer tratamento.
Além disso, os principais locais que oferecem suporte específico a essa dependência se concentram em São Paulo, desfavorecendo os habilitantes das outras regiões do país.
7. Considerações Finais
Ao analisarmos as diferentes pesquisas realizadas sobre o tema e o conteúdo bibliográfico disponível, podemos verificar que ainda não é possível concluir se a dependência da Internet é uma patologia com características próprias ou apenas uma expressão de outra patologia, como por exemplo, a depressão. Essa indefinição, causada pela carência de estudos aprofundados, não possibilita que o uso compulsivo da internet seja catalogado como uma patologia nos manuais diagnósticos (DSM-IV, CID-10).
Entretanto, não se pode negar a existência da dependência de internet, principalmente levando-se em conta o aumento exponencial no número de usuários na internet e no número de pessoas que apresentam os sintomas do problema. Se providências não forem tomadas, esse distúrbio pode se expandir silenciosamente de forma perigosa, justamente por não ser considerado algo tão prejudicial quanto outros vícios.
Vale salientar que a internet não deve ser condenada ou considerada a causa do problema, pois hoje se tornou uma ferramenta fundamental na vida cotidiana e prática da população. A causa desse e de outros problemas encontra-se no uso de forma errada da internet, muitas vezes por falta de informação ou conhecimento.
Um trabalho mais sério de conscientização dos usuários deveria ser desenvolvido em escala nacional, visando principalmente o público jovem e adolescente, que compreendem a grande maioria dos usuários domésticos.
A tendência é que o mundo torne-se cada vez ligado ao mundo virtual, sendo assim, devemos estar preparados para os impactos positivos e negativos que estes avanços tecnológicos nos causarão, somente assim estaremos um passo a frente do problema.
8. Referências Bibliográficas
"O impacto do uso (excessivo) da Internet no comportamento social das pessoas." Karin Sylvia Graeml, José Henrique Volpi, Alexandre Reis Graeml.
"Impactos da internet no cotidiano de acadêmicos."
Ivanilde Scussiatto Eyng, Dálcio Roberto dos Reis, Luciano Scandelari.
"Saúde x Evolução da Tecnologia."
Alice Andréia Pasquali, Edward Kleine Albers, Graciano dos Santos, Leandro Miranda de Araújo, Orlei Pombeiro.
"Comportamento patológico provocado pelo uso indevido de Internet: uma leitura do ambiente produtivo e social."
Gláucia T. Bardi de Moraes, Prof.Dr. Luiz Alberto Pilatti, Prof.Dr. Luciano Scandelari.
AMITI - http://www.amiti.com.br/ - acessado em 02/10/2007
PROAD - http://www.unifesp.br/dpsiq/proad/apresenta.htm - acessado em 02/10/2007
Ballone GJ - Compulsão à Internet, Mito ou Realidade - http://gballone.sites.uol.com.br/voce/internet.html - acessado em 02/10/2007
NPPI - http://www.pucsp.br/nppi/ - acessado em 25/11/2007
http://www.netaddiction.com/ - acessado em 2/10/2007
http://www.abpbrasil.org.br/clipping/exibClipping/?clipping=4186 - acessado em 25/11/2007
http://www1.folha.uol.com.br/folha/treinamento/vicios/te2206200405.shtml - acessado em 25/11/2007
http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u20334.shtml - acessado em 25/11/2007
http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u20332.shtml - acessado em 25/11/2007
http://www.psicoinfo.com.br/depo.shtml - acessado em 25/11/2007
http://www.jornaldedebates.ig.com.br/index.aspx?cnt_id=15&art_id=7243 - acessado em 25/11/2007
http://idgnow.uol.com.br/chat/2007/06/05/idgchat.2007-06-07.5442232789/ - acessado em 25/11/2007
http://www.redepsi.com.br/portal/modules/news/article.php?storyid=3986 - acessado em 25/11/2007
http://www.abpbrasil.org.br/clipping/exibClipping/?clipping=3231 - acessado em 25/11/2007
http://www.aecambui.com.br/index_01.php?menu=05&edicao=14&id=534 - acessado em 25/11/2007
http://www.dc2.com.br/conteudo/dc2/dcnews/dcnew.php?id=946 - acessado em 25/11/2007
Já nascem sabendo
odo mundo sabe por onde elas andaram nos últimos nove meses, mas o que ninguém explica é essa incrível afinidade de crianças de hoje, quase ainda bebês, com os jogos e outros brinquedos eletrônicos
Já nascem sabendo
É sintomático nos dias que correm. Mal aprendeu a andar ou falar, a criança já demonstra habilidade para segurar o joystick e apertar os controles do videogame. É assim na mai oria dos países do mundo, é assim no Brasil; o videogame se tornou objeto de reflexão, e tem dividido as opiniões. Há quem o considere um aliado na formação da criança, há quem o olhe com desconfiança e até quem seja totalmente contrário, a ponto de defender a proibição deles. No meio termo, está a psico pedagoga Sílvia Amaral de Mello Pinto, coordenadora do Centro de Aprendizagem e Desenvolvimento (CAD), de São Paulo, que utiliza jogos eletrônicos em seu trabalho clínico.
Sílvia recomenda o uso dos vi deogames também nas escolas, pois eles, ao provocar uma grande ativação cerebral, são estimuladores da aprendizagem. “Na realidade, são processadores de informações. Quando se trabalha com estímulos visuais e auditivos de forma simultânea, o cé rebro também se beneficia dessa atividade. Ela mexe com diferentes áreas cerebrais, como a da visão, da audição e regiões cognitivas de proces samento de informações”, comenta.
De acordo com o jogo, a criança tem que realizar simulações, traçar estratégias e planejamentos, para que dê certo. “O processo da vida diária é esse. A pessoa precisa tomar decisões, há crianças que não sabem como fazer isso e podem aprender por meio de um jogo, seja ele de video game ou de computador. Por esse ponto de vista, o uso é positivo”, afirma a psicopedagoga.
Na contrapartida, o brinquedo passa a ser nocivo quando a criança o usa em demasia. Ela abandona outros jogos, abdica da convivência com seus amigos, não faz a lição de casa ou práticas esportivas. “É importante que tenha uma atividade física, porque ficar diante do video game ou do computador é outro problema. Apesar de ativar o cérebro, é uma ação muito parada. É necessário mobilizar o corpo por inteiro. Além disso, é importante o convívio so cial”, explica Sílvia.
Realidades diferentes
Para os especialistas, é fundamental que os pais escolham e anali sem os conteúdos dos jogos de vi deo game. Da mesma forma que há opções consideradas educativas, e xis tem aquelas excessivamente violentas, que transmitem valores inadequados e provocam agitação na criança. “Quem tem filhos hipe ra tivos, que não conseguem ficar muito tempo em atividades, adora is so, mas é preciso atenção na escolha dos jogos para não au mentar ainda mais a agitação”, in forma a psico pe da goga.
Não existe pes quisa científica sobre o assunto no Bra sil e no Exte rior, mas Andréa Jotta Ribeiro Nolf, psicóloga do Núcleo de Pesquisa de Psicologia e Informática da PUC-SP, lembra que a realidade brasileira no uso da informática e da tecnologia é muito diferente da americana, assim como da japonesa. “O videogame tem cerca de 20 a 25 anos no País. Começou com o Atari, aqueles jo gui nhos que eram ligados na televisão, bem remotos. A febre dos vi deogames se deu com o boom da tecnologia há cerca de 10 anos”, lembra.
Segundo a psicóloga, com um consumismo maior, veio a preocupação sobre o que esses jogos podem trazer de bom e de ruim para os usuá rios. “Estamos falando de uma parte da população que tem acesso a essas ferramentas, caras para a maioria das pessoas. Atualmente, os pais que buscam informações são mais graduados, eles estão conscientes de que há o lado bom e o preocupante”, analisa.
Tanto Sílvia quanto Andréa concordam que a faixa etária deve per mear o acesso da criança à tec no lo gia. A primeira diz que o contato pode ser feito a partir da pré-escola, em tor no dos 5 anos, porém, sempre com muito controle e acompanhamento dos pais. “No caso de crianças que têm epilepsia, existem jogos com ad ver tência na própria caixa. Eles não são adequados porque, ao ativarem muito o cérebro, podem desencadear uma crise”, alerta a psi copedagoga.
Andréa considera que, hoje em dia, existem pais inocentes nessa questão. Sabem que o filho entende mais de tecnologia do que eles e os atendem em tudo. “Vão à loja e compram o jogo XYZ, que a criança pede, e não prestam atenção na faixa etária nem aos prejuízos que aquele jogo pode trazer. A empresa é obrigada a destacar a faixa etária porque, de algum modo, aquilo foi visto como prejudicial. Os pais têm que respeitar isso e também acompanhar os filhos, apesar das diferenças na interação e entendimento tec no lógico”, alerta.
Sílvia, por sua vez, é contra o uso dos games como babá eletrônica, ao mesmo tempo em que destaca a importância da convivência familiar. “A maioria das famílias está num ritmo de trabalho intenso, mas os pais, quando estão em casa, precisam conversar com o filho. É necessária essa interação, esse carinho, essa troca, é isso que faz a família. Os pais devem ter isso como um valor interno, não podem abrir mão”, afirma.
Brinquedo eletrônico
Andréa enfatiza também outra característica social muito forte do mundo moderno, a violência urbana. A criança não pode sair para brincar na rua, por isso os games se tornam uma opção. “Seria positivo se ela utilizasse essa ferramenta acompanhada de um adulto. Hoje, uma criança de 6 anos já domina o videogame com muita facilidade, mas há o risco dela criar um vínculo direto com o brinquedo.”
Na opinião de Sílvia, o fato da criança gostar em demasia dos games não está relacionado a um suposto amadurecimento precoce, pois se trata de um brinquedo. “Quem não gosta de um brinquedo? Até o adulto. Todos nós precisamos de lazer. Às vezes, é mais perigoso a crian ça, o jovem, praticar um esporte radical, porque põe em risco a sua vida e a dos outros, do que brincar com games”, compara.
Segundo a psicopedagoga, é preciso cuidado com o vício. Como esses jogos oferecem etapas a serem cumpridas, muitas crianças, adolescentes, jovens e adultos, na fissura de passar para a etapa seguinte, ficam horas na frente da tela. “Diante dessa possibilidade, os pais têm que estipular o horário. Caso o filho não obedeça às regras, devem retirar o jogo e deixá-lo sem jogar por um tempo até que ele aceite o combinado”, orienta.
Para Andréa, as ferramentas ou brinquedos precisam estar integrados. “A criança brinca de carrinho, de pular corda; almoça; toma banho e joga videogame. Ao pular corda, desenvolve a parte motora grossa; no videogame, a parte motora fina.” Ela conclui que hoje há diversos trabalhos pedagógicos voltados para o desenvolvimento integrado da criança. “Vamos supor que na escola esteja sendo trabalhado a mariposa. Ela vai ver, tocar, conhecer o ciclo de desenvolvimento do inseto. No computador, ela pode pesquisar outros dados a respeito dele.” (M.A.)
Já nascem sabendo
É sintomático nos dias que correm. Mal aprendeu a andar ou falar, a criança já demonstra habilidade para segurar o joystick e apertar os controles do videogame. É assim na mai oria dos países do mundo, é assim no Brasil; o videogame se tornou objeto de reflexão, e tem dividido as opiniões. Há quem o considere um aliado na formação da criança, há quem o olhe com desconfiança e até quem seja totalmente contrário, a ponto de defender a proibição deles. No meio termo, está a psico pedagoga Sílvia Amaral de Mello Pinto, coordenadora do Centro de Aprendizagem e Desenvolvimento (CAD), de São Paulo, que utiliza jogos eletrônicos em seu trabalho clínico.
Sílvia recomenda o uso dos vi deogames também nas escolas, pois eles, ao provocar uma grande ativação cerebral, são estimuladores da aprendizagem. “Na realidade, são processadores de informações. Quando se trabalha com estímulos visuais e auditivos de forma simultânea, o cé rebro também se beneficia dessa atividade. Ela mexe com diferentes áreas cerebrais, como a da visão, da audição e regiões cognitivas de proces samento de informações”, comenta.
De acordo com o jogo, a criança tem que realizar simulações, traçar estratégias e planejamentos, para que dê certo. “O processo da vida diária é esse. A pessoa precisa tomar decisões, há crianças que não sabem como fazer isso e podem aprender por meio de um jogo, seja ele de video game ou de computador. Por esse ponto de vista, o uso é positivo”, afirma a psicopedagoga.
Na contrapartida, o brinquedo passa a ser nocivo quando a criança o usa em demasia. Ela abandona outros jogos, abdica da convivência com seus amigos, não faz a lição de casa ou práticas esportivas. “É importante que tenha uma atividade física, porque ficar diante do video game ou do computador é outro problema. Apesar de ativar o cérebro, é uma ação muito parada. É necessário mobilizar o corpo por inteiro. Além disso, é importante o convívio so cial”, explica Sílvia.
Realidades diferentes
Para os especialistas, é fundamental que os pais escolham e anali sem os conteúdos dos jogos de vi deo game. Da mesma forma que há opções consideradas educativas, e xis tem aquelas excessivamente violentas, que transmitem valores inadequados e provocam agitação na criança. “Quem tem filhos hipe ra tivos, que não conseguem ficar muito tempo em atividades, adora is so, mas é preciso atenção na escolha dos jogos para não au mentar ainda mais a agitação”, in forma a psico pe da goga.
Não existe pes quisa científica sobre o assunto no Bra sil e no Exte rior, mas Andréa Jotta Ribeiro Nolf, psicóloga do Núcleo de Pesquisa de Psicologia e Informática da PUC-SP, lembra que a realidade brasileira no uso da informática e da tecnologia é muito diferente da americana, assim como da japonesa. “O videogame tem cerca de 20 a 25 anos no País. Começou com o Atari, aqueles jo gui nhos que eram ligados na televisão, bem remotos. A febre dos vi deogames se deu com o boom da tecnologia há cerca de 10 anos”, lembra.
Segundo a psicóloga, com um consumismo maior, veio a preocupação sobre o que esses jogos podem trazer de bom e de ruim para os usuá rios. “Estamos falando de uma parte da população que tem acesso a essas ferramentas, caras para a maioria das pessoas. Atualmente, os pais que buscam informações são mais graduados, eles estão conscientes de que há o lado bom e o preocupante”, analisa.
Tanto Sílvia quanto Andréa concordam que a faixa etária deve per mear o acesso da criança à tec no lo gia. A primeira diz que o contato pode ser feito a partir da pré-escola, em tor no dos 5 anos, porém, sempre com muito controle e acompanhamento dos pais. “No caso de crianças que têm epilepsia, existem jogos com ad ver tência na própria caixa. Eles não são adequados porque, ao ativarem muito o cérebro, podem desencadear uma crise”, alerta a psi copedagoga.
Andréa considera que, hoje em dia, existem pais inocentes nessa questão. Sabem que o filho entende mais de tecnologia do que eles e os atendem em tudo. “Vão à loja e compram o jogo XYZ, que a criança pede, e não prestam atenção na faixa etária nem aos prejuízos que aquele jogo pode trazer. A empresa é obrigada a destacar a faixa etária porque, de algum modo, aquilo foi visto como prejudicial. Os pais têm que respeitar isso e também acompanhar os filhos, apesar das diferenças na interação e entendimento tec no lógico”, alerta.
Sílvia, por sua vez, é contra o uso dos games como babá eletrônica, ao mesmo tempo em que destaca a importância da convivência familiar. “A maioria das famílias está num ritmo de trabalho intenso, mas os pais, quando estão em casa, precisam conversar com o filho. É necessária essa interação, esse carinho, essa troca, é isso que faz a família. Os pais devem ter isso como um valor interno, não podem abrir mão”, afirma.
Brinquedo eletrônico
Andréa enfatiza também outra característica social muito forte do mundo moderno, a violência urbana. A criança não pode sair para brincar na rua, por isso os games se tornam uma opção. “Seria positivo se ela utilizasse essa ferramenta acompanhada de um adulto. Hoje, uma criança de 6 anos já domina o videogame com muita facilidade, mas há o risco dela criar um vínculo direto com o brinquedo.”
Na opinião de Sílvia, o fato da criança gostar em demasia dos games não está relacionado a um suposto amadurecimento precoce, pois se trata de um brinquedo. “Quem não gosta de um brinquedo? Até o adulto. Todos nós precisamos de lazer. Às vezes, é mais perigoso a crian ça, o jovem, praticar um esporte radical, porque põe em risco a sua vida e a dos outros, do que brincar com games”, compara.
Segundo a psicopedagoga, é preciso cuidado com o vício. Como esses jogos oferecem etapas a serem cumpridas, muitas crianças, adolescentes, jovens e adultos, na fissura de passar para a etapa seguinte, ficam horas na frente da tela. “Diante dessa possibilidade, os pais têm que estipular o horário. Caso o filho não obedeça às regras, devem retirar o jogo e deixá-lo sem jogar por um tempo até que ele aceite o combinado”, orienta.
Para Andréa, as ferramentas ou brinquedos precisam estar integrados. “A criança brinca de carrinho, de pular corda; almoça; toma banho e joga videogame. Ao pular corda, desenvolve a parte motora grossa; no videogame, a parte motora fina.” Ela conclui que hoje há diversos trabalhos pedagógicos voltados para o desenvolvimento integrado da criança. “Vamos supor que na escola esteja sendo trabalhado a mariposa. Ela vai ver, tocar, conhecer o ciclo de desenvolvimento do inseto. No computador, ela pode pesquisar outros dados a respeito dele.” (M.A.)
Crianças e computador: uma relação delicada
Saiba como controlar o acesso de seu filho à internet e evitar que ele caia nas armadilhas da web. Segundo a psicóloga Andréa Nolf, o diálogo ainda é fundamental
por Redação Tudo Bem
01.01.2006
Em América, o personagem Rique (Matheus Costa) teclava com um adulto pensando ser um menino de 12 anos: pais não devem ceder aos pedidos de privacidade
São Paulo - Recentemente, a novela América expôs um fato delicado e que vem deixando muitos adultos de cabelo em pé: o assédio a crianças via internet. Na trama, um homem de meia-idade se fez passar por um garoto de 12 anos na web e, com a promessa de presentear o pequeno Rique (Matheus Costa) com jogos eletrônicos, marcou encontros com ele em um shopping. Os pais demoraram a perceber a cilada, já que o menino exigia privacidade para navegar e não deixava ninguém acompanhar os bate-papos. Exibido em horário nobre, o assunto ganhou destaque e trouxe à tona a seguinte polêmica: até que ponto a relação entre os baixinhos e o computador é saudável e inofensiva?
Por si só, a questão já é complexa, e piora quando se leva em consideração que, hoje, a criançada passa muito tempo em casa - e sozinha - e tem como principal diversão o trio monitor, mouse e teclado. Mas os adultos não precisam se desesperar. Existem meios de controlar o acesso dos pequenos à rede, com recursos que vão desde bloqueadores de conteúdo (veja quadro ao lado) até o simples e barato diálogo. “Estar com os filhos, e atentos ao uso que eles fazem de suas “vidas virtuais”, é o que há de mais importante”, afirma Andréa Jotta Ribeiro Nolf, psicóloga e integrante do Núcleo de Pesquisa de Psicologia e Informática da PUC/SP.
Para começo de conversa, é bom esclarecer uma coisa: cada faixa etária exige um tipo de controle diferente. “Assim como na “vida presencial” (face a face), as responsabilidades e perigos amadurecem conforme o usuário também evolui”, explica Andréa. Isso significa que, em idade pré-escolar - quando os baixinhos literalmente descobrem o mundo -, os cuidados devem ser redobrados. “Nessa fase, o acompanhamento deve ser ainda mais atento, pois o que é ensinado tende a prosseguir. Como o exemplo tem muito mais peso no aprendizado, os responsáveis precisam, antes de tudo, se preocupar com sua postura na “vida virtual”, principalmente para não parecerem incoerentes com aquilo que estão tentando ensinar”. Ou seja, de nada adianta impedir que seu filho entre em uma sala de bate-papo se você passa a noite inteira teclando com pessoas que, muitas vezes, nem conhece.
Tempo certo
Aí vem a dúvida: a partir de que momento, então, posso deixar meu filho navegar sozinho? “Com a mesma idade que o deixaria passear sozinho na “vida presencial””, responde a psicóloga, lembrando que cada família tem seu próprio “timing”. “Só o convívio nos dará essa medida. É no contato, no toque, no “estar junto” que podemos buscar a avaliação mais segura sobre o “certo”, o “melhor” e o mais viável a ser feito, tanto no mundo real (quando dizer por favor e obrigado) quanto no virtual (quando não freqüentar sites indevidos ou impróprios ou não vandalizar páginas alheias, só porque ainda não existe punição para isso)”. A dica vale para conversas simultâneas, comunidades do tipo Orkut e e-mails.
Uso e abuso
O período desprendido frente à tela também pode - e deve - ser rigorosamente controlado. “A “doença” não está no uso, mas no abuso”, diz a especialista. Só não vá limitar completamente a navegação. “Não esqueça que as crianças têm que experimentar e vivenciar dentro de suas rotinas”. Obedecendo a essa regrinha, até mesmo os games (brinquedo preferido de nove entre dez meninos atualmente) estão liberados.
Para Andréa, os riscos que uma criança corre ao utilizar a web de maneira desenfreada são os mesmos de andar pela rua sozinha, por exemplo. Assim, é fundamental ensiná-la a não falar com estranhos (principalmente se forem mais velhos) nem fornecer dados pessoais, como endereço e telefone. E nunca - em hipótese alguma - marcar encontros com pessoas que só conhece por um (vago) apelido. “Em ambos os mundos existem mocinhos e bandidos”, alerta.
A melhor forma de descobrir o que seu filho faz na net é acompanhar de perto seus acessos. “Fique junto, dialogue e tecle com ele”, recomenda a pesquisadora. Isso ajuda, inclusive, a identificar um possível assédio (como o abordado em América). Caso desconfie que o baixinho esteja sofrendo algum tipo de abuso, denuncie imediatamente às autoridades competentes. E lembre-se: não ceda aos pedidos de privacidade da criança. “O problema não está no computador em si, mas na fraqueza e na inversão dos valores internos, ambos trazidos pela modernidade. A criança só pode andar sozinha na rua ou exigir alguma coisa quando tiver responsabilidade para tal”.
Dicas gerais
[-] Acompanhe seu filho durante as navegações
[-] Se possível, instale um bloqueador de conteúdo
[-] Ensine a criança a não fornecer dados pessoais, como nome completo, endereço e telefone, e não permita que ela marque encontros com desconhecidos
[-] Esteja sempre aberto ao diálogo, e saiba escutar
[-] Só deixe seu filho navegar sozinho quando perceber que ele tem maturidade para isso, e ainda assim com tempo limitado
[-] Explique para o baixinho o que é um abuso
[-] Redobre os cuidados com crianças em idade pré-escolar, que estão descobrindo o mundo
[-] Fique atento aos seus próprios hábitos. Seu filho sempre lhe tomará como exemplo
Bloqueadores de conteúdo
Uma ferramenta que pode auxiliar os pais a controlar o acesso dos pequenos à web são os bloqueadores de conteúdo. O próprio Internet Explorer possui essa função. Para ativá-la, basta clicar com o botão direito do mouse no ícone do Explorer e escolher a opção Propriedades. Clicando em Conteúdo, abrem-se as caixas Classificação - que bloqueia as páginas por Linguagem, Nudez, Sexo ou Violência, em níveis que vão de zero (inofensivas) a quatro (linguagem crua ou explícita) -, Sites aprovados - que bloqueia pelo endereço da home page - e Geral - que permite ao usuário criar uma senha para proteger as configurações que acabou de fazer. Escolhidas as opções de bloqueio, é só finalizar com um clique em Aplicar.
Há ainda o bloqueador do Norton Internet Security 2005 (que aparece na tela principal do programa como Controle para Pais), e aqueles disponíveis no formato de softwares, como o PureSight Home Edition, o NetFilter Família 2.39W, o CyberPatrol, o NetNanny e o Web-Fi Bloqueador, entre outros, que podem ser baixados pela internet mediante pagamento - apenas alguns são gratuitos. Eles funcionam por meio de palavras-chave (normalmente pornográficas) que impedem a exibição de sites desse teor. A única desvantagem é a dificuldade na instalação.
Palavra de especialista
“Temos que educar nossos filhos na vida real, uma vez que em suas cabecinhas o mundo virtual e o real coabitam sem conflitos. Neste momento, me parece impossível reinventar um mundo “presencial” onde o virtual não mais exista, como o que nós, adultos, vivenciamos. Particularmente, não me espantaria se meus filhos, em um futuro não muito longínqüo, tivessem outras mães, pais, irmãos e nacionalidades, fossem casados, de outro sexo e vivessem concomitantemente em várias épocas e planetas, em realidades tão importantes e significativas quanto a “presencial” - só que virtuais.
Andréa Jotta Ribeiro Nolf, psicóloga e integrante do Núcleo de Pesquisa de Psicologia e Informática da PUC/SP
Andressa Christofoletti Viviani
Matéria publicada na edição #656 do Jornal Tudo Bem
Publicado originalmente no site do jornal Tudo Bem em 01/01/2006.
por Redação Tudo Bem
01.01.2006
Em América, o personagem Rique (Matheus Costa) teclava com um adulto pensando ser um menino de 12 anos: pais não devem ceder aos pedidos de privacidade
São Paulo - Recentemente, a novela América expôs um fato delicado e que vem deixando muitos adultos de cabelo em pé: o assédio a crianças via internet. Na trama, um homem de meia-idade se fez passar por um garoto de 12 anos na web e, com a promessa de presentear o pequeno Rique (Matheus Costa) com jogos eletrônicos, marcou encontros com ele em um shopping. Os pais demoraram a perceber a cilada, já que o menino exigia privacidade para navegar e não deixava ninguém acompanhar os bate-papos. Exibido em horário nobre, o assunto ganhou destaque e trouxe à tona a seguinte polêmica: até que ponto a relação entre os baixinhos e o computador é saudável e inofensiva?
Por si só, a questão já é complexa, e piora quando se leva em consideração que, hoje, a criançada passa muito tempo em casa - e sozinha - e tem como principal diversão o trio monitor, mouse e teclado. Mas os adultos não precisam se desesperar. Existem meios de controlar o acesso dos pequenos à rede, com recursos que vão desde bloqueadores de conteúdo (veja quadro ao lado) até o simples e barato diálogo. “Estar com os filhos, e atentos ao uso que eles fazem de suas “vidas virtuais”, é o que há de mais importante”, afirma Andréa Jotta Ribeiro Nolf, psicóloga e integrante do Núcleo de Pesquisa de Psicologia e Informática da PUC/SP.
Para começo de conversa, é bom esclarecer uma coisa: cada faixa etária exige um tipo de controle diferente. “Assim como na “vida presencial” (face a face), as responsabilidades e perigos amadurecem conforme o usuário também evolui”, explica Andréa. Isso significa que, em idade pré-escolar - quando os baixinhos literalmente descobrem o mundo -, os cuidados devem ser redobrados. “Nessa fase, o acompanhamento deve ser ainda mais atento, pois o que é ensinado tende a prosseguir. Como o exemplo tem muito mais peso no aprendizado, os responsáveis precisam, antes de tudo, se preocupar com sua postura na “vida virtual”, principalmente para não parecerem incoerentes com aquilo que estão tentando ensinar”. Ou seja, de nada adianta impedir que seu filho entre em uma sala de bate-papo se você passa a noite inteira teclando com pessoas que, muitas vezes, nem conhece.
Tempo certo
Aí vem a dúvida: a partir de que momento, então, posso deixar meu filho navegar sozinho? “Com a mesma idade que o deixaria passear sozinho na “vida presencial””, responde a psicóloga, lembrando que cada família tem seu próprio “timing”. “Só o convívio nos dará essa medida. É no contato, no toque, no “estar junto” que podemos buscar a avaliação mais segura sobre o “certo”, o “melhor” e o mais viável a ser feito, tanto no mundo real (quando dizer por favor e obrigado) quanto no virtual (quando não freqüentar sites indevidos ou impróprios ou não vandalizar páginas alheias, só porque ainda não existe punição para isso)”. A dica vale para conversas simultâneas, comunidades do tipo Orkut e e-mails.
Uso e abuso
O período desprendido frente à tela também pode - e deve - ser rigorosamente controlado. “A “doença” não está no uso, mas no abuso”, diz a especialista. Só não vá limitar completamente a navegação. “Não esqueça que as crianças têm que experimentar e vivenciar dentro de suas rotinas”. Obedecendo a essa regrinha, até mesmo os games (brinquedo preferido de nove entre dez meninos atualmente) estão liberados.
Para Andréa, os riscos que uma criança corre ao utilizar a web de maneira desenfreada são os mesmos de andar pela rua sozinha, por exemplo. Assim, é fundamental ensiná-la a não falar com estranhos (principalmente se forem mais velhos) nem fornecer dados pessoais, como endereço e telefone. E nunca - em hipótese alguma - marcar encontros com pessoas que só conhece por um (vago) apelido. “Em ambos os mundos existem mocinhos e bandidos”, alerta.
A melhor forma de descobrir o que seu filho faz na net é acompanhar de perto seus acessos. “Fique junto, dialogue e tecle com ele”, recomenda a pesquisadora. Isso ajuda, inclusive, a identificar um possível assédio (como o abordado em América). Caso desconfie que o baixinho esteja sofrendo algum tipo de abuso, denuncie imediatamente às autoridades competentes. E lembre-se: não ceda aos pedidos de privacidade da criança. “O problema não está no computador em si, mas na fraqueza e na inversão dos valores internos, ambos trazidos pela modernidade. A criança só pode andar sozinha na rua ou exigir alguma coisa quando tiver responsabilidade para tal”.
Dicas gerais
[-] Acompanhe seu filho durante as navegações
[-] Se possível, instale um bloqueador de conteúdo
[-] Ensine a criança a não fornecer dados pessoais, como nome completo, endereço e telefone, e não permita que ela marque encontros com desconhecidos
[-] Esteja sempre aberto ao diálogo, e saiba escutar
[-] Só deixe seu filho navegar sozinho quando perceber que ele tem maturidade para isso, e ainda assim com tempo limitado
[-] Explique para o baixinho o que é um abuso
[-] Redobre os cuidados com crianças em idade pré-escolar, que estão descobrindo o mundo
[-] Fique atento aos seus próprios hábitos. Seu filho sempre lhe tomará como exemplo
Bloqueadores de conteúdo
Uma ferramenta que pode auxiliar os pais a controlar o acesso dos pequenos à web são os bloqueadores de conteúdo. O próprio Internet Explorer possui essa função. Para ativá-la, basta clicar com o botão direito do mouse no ícone do Explorer e escolher a opção Propriedades. Clicando em Conteúdo, abrem-se as caixas Classificação - que bloqueia as páginas por Linguagem, Nudez, Sexo ou Violência, em níveis que vão de zero (inofensivas) a quatro (linguagem crua ou explícita) -, Sites aprovados - que bloqueia pelo endereço da home page - e Geral - que permite ao usuário criar uma senha para proteger as configurações que acabou de fazer. Escolhidas as opções de bloqueio, é só finalizar com um clique em Aplicar.
Há ainda o bloqueador do Norton Internet Security 2005 (que aparece na tela principal do programa como Controle para Pais), e aqueles disponíveis no formato de softwares, como o PureSight Home Edition, o NetFilter Família 2.39W, o CyberPatrol, o NetNanny e o Web-Fi Bloqueador, entre outros, que podem ser baixados pela internet mediante pagamento - apenas alguns são gratuitos. Eles funcionam por meio de palavras-chave (normalmente pornográficas) que impedem a exibição de sites desse teor. A única desvantagem é a dificuldade na instalação.
Palavra de especialista
“Temos que educar nossos filhos na vida real, uma vez que em suas cabecinhas o mundo virtual e o real coabitam sem conflitos. Neste momento, me parece impossível reinventar um mundo “presencial” onde o virtual não mais exista, como o que nós, adultos, vivenciamos. Particularmente, não me espantaria se meus filhos, em um futuro não muito longínqüo, tivessem outras mães, pais, irmãos e nacionalidades, fossem casados, de outro sexo e vivessem concomitantemente em várias épocas e planetas, em realidades tão importantes e significativas quanto a “presencial” - só que virtuais.
Andréa Jotta Ribeiro Nolf, psicóloga e integrante do Núcleo de Pesquisa de Psicologia e Informática da PUC/SP
Andressa Christofoletti Viviani
Matéria publicada na edição #656 do Jornal Tudo Bem
Publicado originalmente no site do jornal Tudo Bem em 01/01/2006.
O mundo tecnológico deu origem aos viciados em internet. Estima-se que cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo fazem mal uso da rede.
Dependentes.com
Por Andrea Guedes
Um distúrbio moderno, fruto de um mundo tecnológico, a dependência da internet já afeta um batalhão de cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo. Calma, você não vai aumentar esta estatística porque está lendo esta matéria e navegando já há algumas longas horas. Paradoxalmente, a própria rede ajuda a tratar o vício.
Não é o tempo de conexão que determina a dependência, explica a psicóloga Andréa Jotta Ribeiro Nolf, do Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática da PUC de São Paulo. Segundo ela, existem duas formas de se usar a rede: a criativa e a restritiva ou nociva.
No primeiro caso, o indivíduo insere a internet em sua rotina. Ou seja, trabalha, pesquisa, bate-papo com os amigos, vê e-mails, sem deixar de fazer nada em sua vida por conta disso. Já o uso nocivo se caracteriza quando a pessoa chega em casa, por exemplo, e se conecta, sem conversar com o cônjuge ou os filhos. Deixa de sair, de comer, de conviver com os amigos em função da rede. Até o trabalho é prejudicado, quando o tempo é gasto em blogs, fotologs e outros sites.
Conforme explica a psicóloga, não há um perfil do dependente, nem algo específico que ele busque na rede. Apenas os rapazes entre 15 e 25 anos têm mais tendência a se viciar em jogos online e pornografia, como o caso de um dos estudantes atendidos por Andréa. O hábito de acessar a internet de madrugada em busca de sites pornográficos começou a prejudicá-lo na escola e na vida social, já que quase não saía mais com os amigos.
Na faixa acima de 50 anos, porém, os casos de dependência são menos freqüentes. "O que temos percebido é o aumento de pessoas nessa faixa etária acessando a internet e fazendo o uso positivo dela, já que eles buscam a rede para conversar com filhos distantes ou fazer cursos online. E a maioria dos e-mails que chega ao núcleo, de pessoas com mais de 50 anos, são de pais preocupados com os filhos", destaca Andréa.
Criado há 15 anos, o núcleo oferece atendimento e orientações via e-mail sobre todos os problemas relacionados à informática, desde traições virtuais à dependência da internet. Nesse último caso, os terapeutas trocam oito e-mails com o paciente, para caracterizar se de fato existe o vício. Em caso afirmativo, começa o atendimento presencial e individual. "Na conversa por e-mail, conduzimos o indivíduo a tomar consciência de que existe uma lacuna em sua vida que está sendo preenchida pela internet. E, em alguns casos, apenas essa conscientização já atua de forma positiva, diminuindo o acesso à rede", aponta Andréa.
Portanto, se há alguma suspeita de dependência, o ideal é procurar ajuda profissional. O Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática (NPPI) da PUC de São Paulo oferece orientação por e-mail, e caso seja necessário, indica um tratamento terapêutico na cidade do paciente.
http://www.maisde50.com.br/artigo.asp?id=6471
Por Andrea Guedes
Um distúrbio moderno, fruto de um mundo tecnológico, a dependência da internet já afeta um batalhão de cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo. Calma, você não vai aumentar esta estatística porque está lendo esta matéria e navegando já há algumas longas horas. Paradoxalmente, a própria rede ajuda a tratar o vício.
Não é o tempo de conexão que determina a dependência, explica a psicóloga Andréa Jotta Ribeiro Nolf, do Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática da PUC de São Paulo. Segundo ela, existem duas formas de se usar a rede: a criativa e a restritiva ou nociva.
No primeiro caso, o indivíduo insere a internet em sua rotina. Ou seja, trabalha, pesquisa, bate-papo com os amigos, vê e-mails, sem deixar de fazer nada em sua vida por conta disso. Já o uso nocivo se caracteriza quando a pessoa chega em casa, por exemplo, e se conecta, sem conversar com o cônjuge ou os filhos. Deixa de sair, de comer, de conviver com os amigos em função da rede. Até o trabalho é prejudicado, quando o tempo é gasto em blogs, fotologs e outros sites.
Conforme explica a psicóloga, não há um perfil do dependente, nem algo específico que ele busque na rede. Apenas os rapazes entre 15 e 25 anos têm mais tendência a se viciar em jogos online e pornografia, como o caso de um dos estudantes atendidos por Andréa. O hábito de acessar a internet de madrugada em busca de sites pornográficos começou a prejudicá-lo na escola e na vida social, já que quase não saía mais com os amigos.
Na faixa acima de 50 anos, porém, os casos de dependência são menos freqüentes. "O que temos percebido é o aumento de pessoas nessa faixa etária acessando a internet e fazendo o uso positivo dela, já que eles buscam a rede para conversar com filhos distantes ou fazer cursos online. E a maioria dos e-mails que chega ao núcleo, de pessoas com mais de 50 anos, são de pais preocupados com os filhos", destaca Andréa.
Criado há 15 anos, o núcleo oferece atendimento e orientações via e-mail sobre todos os problemas relacionados à informática, desde traições virtuais à dependência da internet. Nesse último caso, os terapeutas trocam oito e-mails com o paciente, para caracterizar se de fato existe o vício. Em caso afirmativo, começa o atendimento presencial e individual. "Na conversa por e-mail, conduzimos o indivíduo a tomar consciência de que existe uma lacuna em sua vida que está sendo preenchida pela internet. E, em alguns casos, apenas essa conscientização já atua de forma positiva, diminuindo o acesso à rede", aponta Andréa.
Portanto, se há alguma suspeita de dependência, o ideal é procurar ajuda profissional. O Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática (NPPI) da PUC de São Paulo oferece orientação por e-mail, e caso seja necessário, indica um tratamento terapêutico na cidade do paciente.
http://www.maisde50.com.br/artigo.asp?id=6471
domingo, 25 de outubro de 2009
BARRACO MTV tema Orkut, Msn,Linkedin, twitter são uteis ou perda de tempo
BARRACO MTV
tema Orkut, Msn,Linkedin, twitter são uteis ou perda de tempo
a partir do segundo bloco
http://mtv.uol.com.br/debate/videos/mtv-debate-redes-sociais-são-úteis-ou-perda-de-tempo-clique-e-assista-na-íntegra
tema Orkut, Msn,Linkedin, twitter são uteis ou perda de tempo
a partir do segundo bloco
http://mtv.uol.com.br/debate/videos/mtv-debate-redes-sociais-são-úteis-ou-perda-de-tempo-clique-e-assista-na-íntegra
Saiba como educar as crianças para uma navegação segura na internet
Quando as crianças começam a usar a internet, é natural que surjam dúvidas sobre como protegê-las no ciberespaço. Adotar filtros de segurança ou deixar que naveguem livremente? Monitorar a navegação ou confiar na educação? Manter o computador na sala ou levá-lo para o quarto? Conversar abertamente sobre os perigos ou tratar a questão de forma velada? Cadastrar os pequenos em redes sociais ou proibi-los de acessar essas páginas? Navegar junto ou deixar que eles descubram o universo virtual sozinhos? Limitar o tempo de uso ou permitir que a criança navegue até cansar?
Doutora em educação, Maria Beatriz Loureiro de Oliveira acredita que os pais não estão fazendo a lição de casa e fala em “omissão” quando o assunto é instruir as crianças sobre a navegação on-line. “É pequena a quantidade de pais e mães que estão realmente preocupados com o que seus filhos fazem na web e com o conteúdo que acessam. Talvez isso aconteça porque os adultos não estejam muito atentos aos perigos da internet”, considera a psicopedagoga da Unesp de Araraquara.
Para Maria, a resposta ao desafio está na participação dos adultos no universo virtual, onde as crianças inevitavelmente já estão inseridas. E nesse contexto em que é necessário conhecer novas ferramentas, sites, programas e até formas de se relacionar, a função de ensinar pode ficar para os mais jovens. “Os pais podem se sentar com os filhos em frente ao computador para aprender mais sobre a internet. Quando participa, o adulto passa a fazer parte do mundo da criança”, diz a psicopedagoga, que gosta de assistir a vídeos no YouTube com seus dois filhos, de 37 e 27 anos.
De fato, como aponta a especialista, a tarefa de educar na era do ciberespaço não tem se mostrado simples. Um estudo divulgado recentemente pela empresa de segurança Symantec indica que os pais brasileiros se sentem mais preparados para discutir sexo com seus filhos do que para abordar as páginas visitadas por esses menores durante a navegação. Ou seja: pode estar mais fácil falar sobre o uso da camisinha do que sobre aquele amigos fakes que os jovens insistem em adicionar no Orkut.
Bê-a-bá
Para a psicóloga Andréa Jotta, ensinar as crianças sobre o uso seguro da internet faz parte do “pacote” que envolve outras questões relacionadas à educação. “Os pais devem estar cientes de que o universo virtual não é o terror do mundo contemporâneo e que seus filhos precisam de orientação para navegar”, diz a especialista do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática (NPPI) da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.
Segundo Andrea, os cuidados dos pais em relação ao universo virtual devem ser parecidos com aqueles já tomados no mundo off-line: se a criança é instruída a não conversar com estranhos na rua, por exemplo, a mesma regra vale para os sites onde ela navega. “A internet pode parecer um espaço privado, pelo fato de ela estar dentro de casa. Mas trata-se de um ambiente público, pois abre uma janela para o mundo lá fora”, reforça.
Djalma Andrade, coordenador do Movimento Internet Segura, tem a mesma opinião. “Muitos pais consideram a web um mundo virtual, quando na verdade é uma extensão de nossa sociedade. Qualquer ação executada na internet pode trazer resultados positivos ou negativos, dependendo dos fatores envolvidos.” Por isso, Andrade defende que os adultos -- mesmo aqueles que torcem o nariz para novidades tecnológicas -- se informem e participem do universo virtual. Somente assim será possível entender as oportunidades e desafios dessa extensão do mundo virtual cada vez mais habitado pelas novas gerações.
Não faltam alternativas para conhecer mais sobre o ciberespaço e saber como ele pode ser incorporado de forma responsável à vida das crianças. A ONG que defende os direitos humanos na internet, citada no início deste texto, tem uma cartilha que explica conceitos básicos da web, além de dicas de segurança para diferentes grupos de internautas. A navegação com foco nas nos pequenos também tem espaço no site Navegue Protegido, em um guia da Microsoft e na página do Movimento Internet Segura, entre outras opções.
Bate-papo
O pacote da participação também inclui conversas familiares sobre a web (justamente aquele assunto que, segundo o estudo da Symantec, está tão difícil de ser abordado).
Nessa hora, os especialistas ouvidos são unânimes: o tema tem de ser tratado às claras, abordando os aspectos positivos e também os negativos do ciberespaço. É, sim, para falar de sites e programas legais. E também é importante deixar claro a existência de pessoas com intenções ruins, que parecem boas na tela do computador – somente desta forma, a criança terá informações para procurar seus pais, casos suspeitem de comportamentos, textos e até imagens divulgadas por desconhecidos.
Outra unanimidade é em relação à criação de uma rotina e de regras para o uso do computador. Com isso, a hora de usar o PC, com tempo pré-estabelecido e combinado entre as partes, soma-se à hora do banho, à hora de comer, à hora da lição, à hora de dormir e à hora de brincar. “Para a criança, o computador é uma forma de lazer, como a televisão e o videogame. Por isso, seu uso deve estar sempre atrelado ao cumprimento das obrigações”, ensina Andrea, da PUC-SP.
Para facilitar a criação e cumprimento das regras, a Safernet dá dicas sobre como pais e filhos podem elaborar, conjuntamente, um acordo sobre o uso seguro e saudável do ambiente virtual.
A psicóloga acredita ainda que, com a popularização dos netbooks (notebooks de dimensões e capacidades reduzidas), os computadores se tornarão cada vez mais “brincadeira de criança”. Mesmo com a adoção dos portáteis, ela defende que até os 12 anos não existe a necessidade de os internautas transportarem seus computadores para fora de casa, ambiente onde podem ser monitorados constantemente por seus responsáveis.
Fonte: Portal G1
Doutora em educação, Maria Beatriz Loureiro de Oliveira acredita que os pais não estão fazendo a lição de casa e fala em “omissão” quando o assunto é instruir as crianças sobre a navegação on-line. “É pequena a quantidade de pais e mães que estão realmente preocupados com o que seus filhos fazem na web e com o conteúdo que acessam. Talvez isso aconteça porque os adultos não estejam muito atentos aos perigos da internet”, considera a psicopedagoga da Unesp de Araraquara.
Para Maria, a resposta ao desafio está na participação dos adultos no universo virtual, onde as crianças inevitavelmente já estão inseridas. E nesse contexto em que é necessário conhecer novas ferramentas, sites, programas e até formas de se relacionar, a função de ensinar pode ficar para os mais jovens. “Os pais podem se sentar com os filhos em frente ao computador para aprender mais sobre a internet. Quando participa, o adulto passa a fazer parte do mundo da criança”, diz a psicopedagoga, que gosta de assistir a vídeos no YouTube com seus dois filhos, de 37 e 27 anos.
De fato, como aponta a especialista, a tarefa de educar na era do ciberespaço não tem se mostrado simples. Um estudo divulgado recentemente pela empresa de segurança Symantec indica que os pais brasileiros se sentem mais preparados para discutir sexo com seus filhos do que para abordar as páginas visitadas por esses menores durante a navegação. Ou seja: pode estar mais fácil falar sobre o uso da camisinha do que sobre aquele amigos fakes que os jovens insistem em adicionar no Orkut.
Bê-a-bá
Para a psicóloga Andréa Jotta, ensinar as crianças sobre o uso seguro da internet faz parte do “pacote” que envolve outras questões relacionadas à educação. “Os pais devem estar cientes de que o universo virtual não é o terror do mundo contemporâneo e que seus filhos precisam de orientação para navegar”, diz a especialista do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática (NPPI) da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.
Segundo Andrea, os cuidados dos pais em relação ao universo virtual devem ser parecidos com aqueles já tomados no mundo off-line: se a criança é instruída a não conversar com estranhos na rua, por exemplo, a mesma regra vale para os sites onde ela navega. “A internet pode parecer um espaço privado, pelo fato de ela estar dentro de casa. Mas trata-se de um ambiente público, pois abre uma janela para o mundo lá fora”, reforça.
Djalma Andrade, coordenador do Movimento Internet Segura, tem a mesma opinião. “Muitos pais consideram a web um mundo virtual, quando na verdade é uma extensão de nossa sociedade. Qualquer ação executada na internet pode trazer resultados positivos ou negativos, dependendo dos fatores envolvidos.” Por isso, Andrade defende que os adultos -- mesmo aqueles que torcem o nariz para novidades tecnológicas -- se informem e participem do universo virtual. Somente assim será possível entender as oportunidades e desafios dessa extensão do mundo virtual cada vez mais habitado pelas novas gerações.
Não faltam alternativas para conhecer mais sobre o ciberespaço e saber como ele pode ser incorporado de forma responsável à vida das crianças. A ONG que defende os direitos humanos na internet, citada no início deste texto, tem uma cartilha que explica conceitos básicos da web, além de dicas de segurança para diferentes grupos de internautas. A navegação com foco nas nos pequenos também tem espaço no site Navegue Protegido, em um guia da Microsoft e na página do Movimento Internet Segura, entre outras opções.
Bate-papo
O pacote da participação também inclui conversas familiares sobre a web (justamente aquele assunto que, segundo o estudo da Symantec, está tão difícil de ser abordado).
Nessa hora, os especialistas ouvidos são unânimes: o tema tem de ser tratado às claras, abordando os aspectos positivos e também os negativos do ciberespaço. É, sim, para falar de sites e programas legais. E também é importante deixar claro a existência de pessoas com intenções ruins, que parecem boas na tela do computador – somente desta forma, a criança terá informações para procurar seus pais, casos suspeitem de comportamentos, textos e até imagens divulgadas por desconhecidos.
Outra unanimidade é em relação à criação de uma rotina e de regras para o uso do computador. Com isso, a hora de usar o PC, com tempo pré-estabelecido e combinado entre as partes, soma-se à hora do banho, à hora de comer, à hora da lição, à hora de dormir e à hora de brincar. “Para a criança, o computador é uma forma de lazer, como a televisão e o videogame. Por isso, seu uso deve estar sempre atrelado ao cumprimento das obrigações”, ensina Andrea, da PUC-SP.
Para facilitar a criação e cumprimento das regras, a Safernet dá dicas sobre como pais e filhos podem elaborar, conjuntamente, um acordo sobre o uso seguro e saudável do ambiente virtual.
A psicóloga acredita ainda que, com a popularização dos netbooks (notebooks de dimensões e capacidades reduzidas), os computadores se tornarão cada vez mais “brincadeira de criança”. Mesmo com a adoção dos portáteis, ela defende que até os 12 anos não existe a necessidade de os internautas transportarem seus computadores para fora de casa, ambiente onde podem ser monitorados constantemente por seus responsáveis.
Fonte: Portal G1
Entrando numa fria Jogo virtual animado por pinguins estimula o consumo infantil
Renata Cabral
TROCA No Club Penguin, os pontos ganhos são transformados em moedas
Uma cidade virtual cheia de pinguins simpáticos e desajeitados está deixando crianças eufóricas e colocando os pais numa "gelada". O jogo Club Penguin, da Walt Disney, lembra o adulto Second life no exercício da interatividade. Mas, no site dos pinguins, ambiciona-se comprar iglus, decoração para o seu interior, roupas e até espaço vip em eventos e festas. Pode-se brincar de graça, mas a navegação é bem limitada.
A versão completa do jogo, e paga, é que é legal: tem festas e catálogos com produtos restritos para quem desembolsa, no cartão de crédito, R$ 8,90 por mês. Quem não assina, recebe mensagens interditando a entrada em determinadas áreas e convive com a frustração de não ter os mesmos privilégios. Mas não é no valor da mensalidade que o dinheiro escoa e sim na compra de acessórios e produtos. Como se vê, atrás da figura carismática do pinguim, há um negócio rentável e um aprendizado capitalista.
"Infelizmente, esse é o modelo que mais se vê no mundo virtual: eles jogam a isca e depois cobram", constata a designer e antropóloga carioca Zoy Anastassakis, 35 anos, que cedeu aos apelos da filha Mina, 7 anos, e fez uma assinatura do Club Penguin. Há poucas semanas, sua casa foi palco de uma crise que a assustou. Uma colega da filha caiu em prantos porque o pinguim dela estava "pelado", como disse. A menina revoltou-se contra a mãe que não tinha lhe dado, ainda, o pacote de mensalidade. "O jogo tem seus méritos, é bastante criativo e engraçado", avalia a psicanalista Lulli Milman, do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. "Mas acenar com uma ilusão, uma amostra de algo que a criança talvez não possa ter, é algo nefasto."
MEU MUNDO É UM IGLU As amigas Victoria e Renata brincam com os puffles, bichos de estimação dos pinguins. Antonio prefere colecionar exemplares
O sucesso do jogo, voltado para crianças de 6 a 14 anos, é tão grande no Brasil que o Club ganhou, em novembro, uma versão em português, graças a uma intensa campanha dos usuários brasileiros, que somavam meio milhão na ocasião. Um deles é o carioca Antonio Pedro, 11 anos, que tem uma coleção de 16 pinguins originais (que custam cerca de US$ 10 cada). O pai, o designer de interiores carioca Leonardo de Magalhães Pinto, 41 anos, controla o tempo que o filho passa plugado, mas aprova a brincadeira. "Não acho caro e me pareceu inofensivo", disse.
Os criadores defendem a criatura. "Damos a eles um lugar para aprender e praticar a administração do dinheiro, onde uma decisão mal tomada não tem uma repercussão tão rígida quanto no mundo real", justifica o canadense Lane Merrifield, vicepresidente- executivo da Disney Online Studios. Para a psicóloga Andréa Jotta, do núcleo de pesquisas de psicologia em informática da PUC-SP, esse contato precoce só será benéfico se bem orientado.
"Essa dinâmica pode ter um lado bom, desde que a criança compreenda que, quanto mais se esforça, mais ganha. O problema é se ela não aceitar parar de ganhar", alerta. As amigas Victoria Borda e Renata Ávila, 11 anos, batalharam em casa até convencer os pais de que a assinatura valia a pena. "Mas não compro os brinquedos extras para não instigar o consumismo", diz a mãe de Renata, a contadora carioca Denise Ávila. Estimular o consumo entre crianças é mesmo arriscado, explica a professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Leila Tardivo. "Que tipo de moral se está oferecendo? A de quem tem mais pode mais?" Eis a questão.
FOTOS: DANIELA DACORSO/AG. ISTOÉ E IMAGENS DE DIVULGAÇÃO
TROCA No Club Penguin, os pontos ganhos são transformados em moedas
Uma cidade virtual cheia de pinguins simpáticos e desajeitados está deixando crianças eufóricas e colocando os pais numa "gelada". O jogo Club Penguin, da Walt Disney, lembra o adulto Second life no exercício da interatividade. Mas, no site dos pinguins, ambiciona-se comprar iglus, decoração para o seu interior, roupas e até espaço vip em eventos e festas. Pode-se brincar de graça, mas a navegação é bem limitada.
A versão completa do jogo, e paga, é que é legal: tem festas e catálogos com produtos restritos para quem desembolsa, no cartão de crédito, R$ 8,90 por mês. Quem não assina, recebe mensagens interditando a entrada em determinadas áreas e convive com a frustração de não ter os mesmos privilégios. Mas não é no valor da mensalidade que o dinheiro escoa e sim na compra de acessórios e produtos. Como se vê, atrás da figura carismática do pinguim, há um negócio rentável e um aprendizado capitalista.
"Infelizmente, esse é o modelo que mais se vê no mundo virtual: eles jogam a isca e depois cobram", constata a designer e antropóloga carioca Zoy Anastassakis, 35 anos, que cedeu aos apelos da filha Mina, 7 anos, e fez uma assinatura do Club Penguin. Há poucas semanas, sua casa foi palco de uma crise que a assustou. Uma colega da filha caiu em prantos porque o pinguim dela estava "pelado", como disse. A menina revoltou-se contra a mãe que não tinha lhe dado, ainda, o pacote de mensalidade. "O jogo tem seus méritos, é bastante criativo e engraçado", avalia a psicanalista Lulli Milman, do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. "Mas acenar com uma ilusão, uma amostra de algo que a criança talvez não possa ter, é algo nefasto."
MEU MUNDO É UM IGLU As amigas Victoria e Renata brincam com os puffles, bichos de estimação dos pinguins. Antonio prefere colecionar exemplares
O sucesso do jogo, voltado para crianças de 6 a 14 anos, é tão grande no Brasil que o Club ganhou, em novembro, uma versão em português, graças a uma intensa campanha dos usuários brasileiros, que somavam meio milhão na ocasião. Um deles é o carioca Antonio Pedro, 11 anos, que tem uma coleção de 16 pinguins originais (que custam cerca de US$ 10 cada). O pai, o designer de interiores carioca Leonardo de Magalhães Pinto, 41 anos, controla o tempo que o filho passa plugado, mas aprova a brincadeira. "Não acho caro e me pareceu inofensivo", disse.
Os criadores defendem a criatura. "Damos a eles um lugar para aprender e praticar a administração do dinheiro, onde uma decisão mal tomada não tem uma repercussão tão rígida quanto no mundo real", justifica o canadense Lane Merrifield, vicepresidente- executivo da Disney Online Studios. Para a psicóloga Andréa Jotta, do núcleo de pesquisas de psicologia em informática da PUC-SP, esse contato precoce só será benéfico se bem orientado.
"Essa dinâmica pode ter um lado bom, desde que a criança compreenda que, quanto mais se esforça, mais ganha. O problema é se ela não aceitar parar de ganhar", alerta. As amigas Victoria Borda e Renata Ávila, 11 anos, batalharam em casa até convencer os pais de que a assinatura valia a pena. "Mas não compro os brinquedos extras para não instigar o consumismo", diz a mãe de Renata, a contadora carioca Denise Ávila. Estimular o consumo entre crianças é mesmo arriscado, explica a professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Leila Tardivo. "Que tipo de moral se está oferecendo? A de quem tem mais pode mais?" Eis a questão.
FOTOS: DANIELA DACORSO/AG. ISTOÉ E IMAGENS DE DIVULGAÇÃO
INTERNET EM SP Da criatividade à futilidade do uso
Por Sergio Batisteli em 11/3/2008
Reproduzido do blog do autor, 19/2/2008
Em pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em março de 2007, o estado de São Paulo está em segundo lugar em número de usuários da internet, com 29,9%, perdendo apenas para o Distrito Federal, com 41,1% dos acessos à rede de computadores no Brasil.
O acesso à rede na maior cidade da América Latina significa trabalhar e como conseguir trabalho. Significa conhecer a futura mãe ou o futuro pai dos seus filhos. Exprime a resposta concreta de idéias quando se cria um site ou um blog. Para muitos é não sair ou sair menos de casa. Pode ir desde encontrar um filme para assistir, até achar o endereço de um hospital em que um parente acaba de dar entrada e o telefone do famigerado lugar só dá ocupado.
Com o uso da web em São Paulo, podem ocorrer reduções de custos provocadas por mudanças de comportamento – porque hoje se enviam menos cartas e mais e-mails.
Através de um programa de mensagens instantâneas, é possível um usuário da internet se comunicar com um outro que tenha o mesmo programa, em tempo real, por um preço menor em relação à telefonia fixa.
Entrevistas e histórias
Muda-se o tipo das cantadas nas noites paulistanas; ao invés de se pedir o telefone, se pede o e-mail da paquera. E não podemos deixar de falar na febre do Orkut, que conquistou internautas de diferentes idades, estilos e pensamentos. Basta ir a bibliotecas, lan houses, cibercafés e você verá o azul-claro do site de relacionamento brilhando nos monitores de Sampa.
Hoje, ter computador em casa é quase tão necessário quanto um microondas ou televisor, e mais: quem conhece pouco de informática tem a chance reduzida no mercado de trabalho, sendo classificado quase como um analfabeto. A internet deve ser um instrumento de desenvolvimento social. Ela possibilita a partilha de bens como a memória, a percepção e a imaginação.
Nesta reportagem, abordaremos como a ciência define um netviciado e os problemas que a rede poder trazer para algumas pessoas, em entrevista com a psicóloga dra. Andréa Jotta Ribeiro Nolf.
Mostraremos como escolas paulistanas auxiliam na formação de jovens internautas e as conseqüências dos seus atos perante a lei no ambiente virtual. Contaremos como foi o surgimento das lan houses e a história de Vinícius Ortiz Pinelli, um ex-viciado em games que se tornou gerente da Monkey Paulista.
Escolas ensinam implicações jurídicas
Para tentar disciplinar a pesquisa de trabalhos e frear as agressões entre alunos em ambientes virtuais, escolas particulares de São Paulo decidiram incluir nas suas atividades o ensino de ética no uso da internet.
O exemplo mais recente é o tradicional colégio Bandeirantes (zona sul). Neste ano, os professores passaram por uma capacitação específica sobre o tema e os alunos recebem uma cartilha que mostra, entre outras coisas, as implicações criminais que algumas ações na rede podem acarretar. Uma das situações apontadas é o repasse de e-mail que espalhe um boato, ação que se encaixa no Código Penal como difamação – pena de três meses a um ano. Se o autor do crime for menor de idade, os pais serão responsabilizados.
Alunos já publicaram em sites e blogs fotos de professores em posições desconfortáveis e a coordenação de tecnologia do colégio Bandeirantes decidiu fazer ações de prevenção. A partir do ano que vem, os estudantes da 5ª série do ensino médio do Bandeirantes terão no currículo uma disciplina específica sobre ética na internet. Muitos pais, alunos e professores não têm idéia do transtorno legal que pode causar uma simples comunidade no Orkut que ataque um colega de classe.
Outra escola que procurou auxílio jurídico foi o Humboldt, colégio bilíngüe na zona sul. Um grupo de estudantes criou uma comunidade contra professores e alunos. A escola Humboldt consultou um advogado e decidiu promover palestras sobre o assunto. A internet potencializa as agressões verbais porque o adolescente acha que está protegido, não precisa se identificar.
No colégio Augusto Laranja (zona sul), o foco é como pesquisar corretamente. O trabalho começa já para as crianças da 2ª série, que estão na casa dos oito anos. Elas ganham uma cartilha logo no começo do ano e trabalham com professores nos laboratórios. Desde cedo, eles querem mostrar que pesquisar na internet não é só copiar e colar. Tem de se verificar a fonte e qual o autor. E essa informação precisa ser apenas uma parte da pesquisa; o texto final deve ser do aluno.
No Dante Alighieri (zona oeste), as discussões são amplas e vão desde a pesquisa para trabalhos até as ofensas de alunos pela rede.
A febre das lan houses
A ação da escola ajudou Ana (nome fictício), 16 anos, em sua recuperação. Ela sofreu depressão por se achar gorda. Nas férias, ficava o dia todo na internet, não saía de casa. Era uma fuga da realidade. Quando as aulas retornaram, ela não fazia as lições nem estudava; só tinha ânimo para ficar no computador, o que fazia por dez horas ao dia. Não queria nem mais se alimentar. Por isso, teve um princípio de anorexia e chegou a ser internada, com fraqueza. Sua mãe, que é psicóloga e tem 53 anos, conta que, como trabalha o dia todo, tentava monitorar pelo telefone o tempo que a filha usava a internet, mas era difícil. A internação fez com que a estudante passasse a ser tratada por um psicólogo. Mas o que impulsionou sua recuperação foi uma palestra na sua escola, o Santa Maria (zona sul), cujo tema era "Perigos e Ameaças Online", segundo matéria publicada na Folha de S.Paulo.
Elas se espalham pela cidade como rastilho de pólvora; são as lan houses. Uma opção de entretenimento inicialmente introduzida na Coréia do Sul, em 1996. Lá, existem cerca de 22 mil lojas, nos Estados Unidos cerca de 15 mil e há uma multiplicação das casas de jogos em rede no Brasil. As primeiras lans surgiram aqui em 1998, quando o empresário brasileiro Sunami Chun voltou de uma viagem à Coréia do Sul e trouxe a idéia para São Paulo. Fundou a Monkey, hoje a maior rede em território nacional. Depois da Monkey, milhares de lan houses ganharam o espaço de cibercafés e se espalham na terra tupiniquim. É uma febre entre jovens de 13 a 27 anos, dos quais 90% são do sexo masculino. Existem 3,5 mil lan houses no Brasil, das quais 600 estão em São Paulo. Lan vem do inglês Local Area Network. Na versão hi-tech do velho fliperama, vários jogadores se divertem com as últimas novidades no ramo de jogos, todos conectados em rede num único ambiente virtual, diz Lino Pereira, diretor-geral da Monkey.
O estímulo de estar online
Na tarde de quinta-feira, 12 de julho de 2007, fui até a mega-lan house Monkey, que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana. Localizada num lugar onde muitos sonham em morar na capital paulista, alameda Santos – bairro Cerqueira César. Entrei pelo lado direito da alameda, nº 1217, e pedi autorização ao gerente Vinícius para fazer entrevistas com alguns ciberviciados. Entrevistei várias pessoas que ele me garantiu serem dependentes do mundo virtual, mas na hora H elas se mostravam muito equilibradas e me disseram que não passavam mais do que duas horas lá dentro. Quando já estava quase indo embora, eis que surge Vinícius Ortiz Pinelli, 22 anos, ciberatleta e gerente da casa.
E ele me diz: "Por que você não me entrevista, pô?"
E eu pergunto, surpreso: "Mas você viciado, realmente faz uso excessivo da tecnologia?"
– Me entrevista que eu te conto direito.
Liguei o microfone e...
Quanto tempo você jogava por dia?
– Quando tinha 16, anos ficava jogando o dia inteiro, minha vida era só jogo e estar em frente ao computador. Ficava em torno de 10 horas por dia, mas já fiquei, várias vezes, bem mais do que isso. Me lembro de jogar 27 horas com intervalos de 30 minutos para descansar e voltar a ativa. Jogava profissionalmente o game "Counter Strike".
O resto como ficava, e quais as conseqüências que esse hábito teve na sua vida?
– Não tinha resto, trocava tudo para jogar desde a balada de final de semana com amigos, namoro, até tomar banho e comer. Só comia porcaria, quando comia. Jogava em casa, ia para a lan house, acabava o dinheiro e continuava jogando em casa. Cheguei a pedir grana emprestada e fiquei devendo na lan só para jogar.
Você se considera um ex-viciado?
– Sim, me considero um cara que foi e atualmente não tenho mais pique e nem quero mais fazer isso.
Você buscou algum tratamento psicológico para amenizar a dependência do jogo?
– Não, o meu uso foi decaindo com a idade e força de vontade. É bem parecido com o vício do cigarro. Se a pessoa tiver o fumo como mais importante que a vida dela, não vai parar de fumar. O mesmo acontece com os jogos e o jogador. A pessoa deve ter a capacidade de sair do vício.
A compulsão por ciberjogos foi um dos motivos que te credenciaram a trabalhar numa lan house?
– Estou há cinco anos neste ramo e um dos requisitos básicos para ser gerente da Monkey é, sem dúvida, ser um profundo conhecedor de jogos. Também faço faculdade de designer em informática. Está tudo relacionado. A principal fonte de renda de uma lan são os games, e não a internet, como muitos pensam que é.
Hoje você joga quanto tempo; em média?
– Agora, aos 22 anos, fico cerca de três horas por dia, mas conheço pessoas que continuam jogando muitas horas diariamente, preferem se enturmar com os games e pessoas online do que buscar amigos na vida real.
Como é o game "Counter Strike"?
– É um jogo em que um bando de terroristas confronta um grupo de policiais em diferentes situações e o fato de estar online com qualquer jogador do mundo em tempo real é um grande estímulo para a molecada.
Problemas com o uso
No mundo, há entre 50 milhões e 100 milhões de dependentes da internet. Isso corresponde a algo entre 5% e 10% do total de internautas do planeta, segundo artigo da pesquisadora Diane Wieland publicado na revista Perspectivas em Cuidados Psiquiátricos. Em São Paulo, há serviços que cuidam de pacientes que deixaram a web tomar conta de suas vidas.
É o caso do NPPI (Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática), localizado na Clínica Psicológica da PUC-SP. O NPPI foi criado em 1995 a fim de auxiliar as pessoas com problemas psicológicos de grau ampliado, como medo de sair de casa, medo de dirigir, medo de amar demais, pedofilia etc. Os profissionais que atuam nesse grupo são psicólogos formados que buscam um aperfeiçoamento clínico, que vai da triagem com o internauta até o chamado atendimento presencial (face a face). Os especialistas da mente cumprem seus serviços dentro da clínica da PUC.
Em 2006, foi implantado no NPPI o atendimento para pessoas que têm problemas com o uso da internet. Foi a partir de uma matéria publicada na Folha de S.Paulo, em julho daquele ano, que houve um boom com a repercussão da reportagem, pois o jornal recebeu uma enxurrada de e-mails por parte da comunidade com queixas do tipo: "Estou perdendo o meu emprego", "Meu filho está perdendo o ano letivo", "Meu marido ou esposa quer sair de casa"... Assim, esse grupo teve que estudar mais a fundo as implicações do uso da rede e foi como se consolidou e se manteve, segundo a dra. Andréa Jotta Ribeiro Nolf.
Características do que não é sadio
Qual é a faixa etária, sexo e classe social dos dependentes da internet?
– Os dependentes não têm uma determinada classe social, idade e sexo. Nos casos dos hard users que atendemos, há de tudo. Desde meninas de 12 anos a senhores de 70, de donas de casa até funcionários públicos e padres.
Quais são os sites e os serviços mais acessados pelos viciados?
– Sem dúvida, a pornografia, seja sites ou salas de bate-papo, e em seguida os games.
Segundo a psicologia, quando uma pessoa é considerada viciada e quais são os critérios de avaliação para se chegar a tal conclusão?
– Quando a pessoa deixa de fazer coisas na vida presencial para na fazer vida virtual e começa a ter um uso restritivo ou patológico, ou seja, restringe as atividades normais – por exemplo, não transa com a mulher para visitar site pornográfico, fica conectado o dia inteiro, não quer trabalhar, estudar, comer ou conviver com a família e deixa de ter amigos. Os problemas são do tipo de uso, do mau uso. Ninguém fica viciado em internet por causa da internet, e sim, por problemas anteriores. Veja o clássico exemplo do assassino que mata por causa do revólver e dizermos que não é por um instinto ou por conta de algo dentro dele. Assim como o revólver, a web é um instrumento que as pessoas usam para viabilizar um conteúdo que já é delas, aquilo já estava ali. O que acontece é que, pela impunidade e inocência, o mundo virtual é uma coisa muito ampla e desconexa com o que temos como realidade.
Alguns internautas não se enxergam nesse tipo de atitude e se escondem numa virtualidade. Fingem que aquela pessoa matando velhinhas, por exemplo, não são eles – é só um jogo. Tentam disfarçar que essas coisas não lhes pertencem. O que começamos a perceber é que existe agora uma intersecção entre vida presencial e vida virtual. Para nós, do NPPI, desde 2003 vida real é a presencial mais a virtual. O que faço dentro da internet, o que faço na minha vida virtual, é o que faço nas minhas relações face a face, isto é, a minha vida real. Daqui a dez anos, ninguém poderá dizer que tem uma vida virtual e que esta não tem nada a ver com a vida presencial, coisa que já se reflete hoje, com a web 2.0 e o preenchimento da cultura com a virtualidade em grandes metrópoles como São Paulo.
Repetição e restrição: é assim que a psicologia avalia um netviciado, quando chega a ponto da tecnologia não fazer parte da vida do viciado, mas sim, ela ser a vida dele. Ele não se relaciona mais com amigos numa balada e só quer se comunicar com amigos virtuais, não tem mais relacionamento sexual com sua esposa ou outras mulheres para fazer sexo virtual.
O dependente da web não se satisfaz mais com a vida face a face; fica ansioso em se conectar novamente e só fala sobre isso. O que o faz se sentir bem é estar conectado à internet. Viver em um lugar onde a pessoa pode tudo e tudo é perfeito. Exemplo disso é o ambiente virtual e tridimensional "Second Life". Ali, ter um avatar é ser a versão perfeita de você mesmo e a pessoa pode viver mais nesse ambiente do que com ela mesma.
A tecnologia facilita muito a fantasia e, fazendo isso, o viciado evita entrar em contato com a vida presencial. Lá ele voa, tem dinheiro, casa e uma série de coisas que não tem aqui. Então, essa pessoa se dá conta do que tem aqui e prefere ficar lá. Isso é considerado um sofrimento, não é sadio. Outra característica de mau uso é consumir toda a informação e conter tudo de uma vez, como se alguém pudesse absorver todo o conteúdo da internet. Da mesma maneira em que se iria ao museu ou a uma biblioteca para se identificar todo o conteúdo das obras desses lugares em apenas um dia.
Largou tudo por um saudita
Quem são os personagens problemáticos do ciberespaço?
– Um casal adulto, marido ou esposa, começa a conversar com ex-namorados (as), almoça com amigos (as) virtuais e muita coisa pode acontecer... Isso tem interferido nos relacionamentos. Recebo vários e-mails a respeito disso. É o caso de uma esposa que descobriu que seu marido conversa com outras mulheres no MSN. Criou um perfil fictício, conversou com o homem, seduziu o próprio marido e o levou a ter um encontro presencial com ela. Sem que ele soubesse que era ela. Isso criou uma cisão no casamento e eles se separaram porque, de certa forma, essa esposa se sentiu traída por ela mesma.
Casais estão tendo que conversar e esclarecer o que pode e o que não pode na internet. Como, por exemplo, conversar no MSN, ter perfil no Orkut, ter a senha para acessar os e-mails do outro etc.O comportamento está tendo que ser revisto, os casais inteligentes já fazem isso. Alguns chegam a englobar no relacionamento o uso da tecnologia e vêem juntos sites pornográficos.
Outro exemplo da era da modernidade, mas fora do NPPI, é o de Carolina, 24 anos, e Luciano, 27, moradores do bairro Jardim Miriam, zona sul de São Paulo. Namoravam havia três anos e fazia três meses que moravam juntos. Eram um típico casal de classe média. Luciano, desempregado, se viu deslumbrado pelo mundo virtual, que se tornou bem real. Pulou a cerca duas vezes, ou seja, conheceu duas mulheres fora do casamento pelo Orkut (site de relacionamento na internet). Ele ficava direto conectado à web e fez de tudo para a sua companheira não ter um perfil no Orkut. Doce ilusão. Na facilidade que essa ferramenta tecnológica traz, Carolina desacatou a "ordem" e rapidamente encontrou o seu homem e as sua "amiguinhas". Conversou com o namorado pessoalmente, Luciano confirmou a história e se separaram.
Há um caso de uma jovem que conheceu um rapaz da Arábia Saudita, se apaixonou, largou tudo em São Paulo para ir morar no país dele. A mãe dela estava em grande sofrimento, mandou um e-mail desesperada, pois a menina não conhecia o rapaz pessoalmente e a cultura dele era completamente diferente da nossa.
"Todo ser humano é agressivo"
Onde fica o lado bom da internet, existem mudanças positivas?
– Quando é feito o uso correto dessa ferramenta, o normal é que essa tecnologia nos ajude não só a trabalharmos, mas também a nos relacionarmos. Se pensarmos numa cidade como São Paulo, onde existe trânsito intenso, dificuldade de estar em contato presencial com nossos amigos todos os dias para encontrar com as pessoas que conhecemos e utilizar o ciberespaço para fazer isso é uma prova de bom uso. Você pode facilitar a comunicação para estar com as suas escolhas e, em vez de ligar para uma só pessoa de cada vez, é possível enviar um e-mail de tarde com uma mensagem para vários destinatários. Dessa forma, ocorre um ganho de tempo e espaço para combinar um encontro com eles à noite.
O bom uso da internet é isso, o uso criativo que traz coisas boas. Posso fazer uma pesquisa escolar bem feita. Se não puder me deslocar fisicamente a uma biblioteca, eu acesso um mundo de informação que, se souber usar, irá acrescentar alguma coisa, como cultura e conhecimento. Nós, aqui, somos apaixonados pela internet e a estudamos porque é extremamente prazerosa e se você usar corretamente será maravilhoso.
Há meio termo para não cair no vício?
– Olha, isso depende do ser humano que está acessando a tecnologia. O meio termo é o resultado da forma que cuidamos da nossa vida fora da web, nos relacionamento com amigos, parentes, namoros e vida profissional. Não devemos deixar lacunas nos relacionamentos presenciais. Tomando esses cuidados, como conseguir ter equilíbrio na vida face a face e sentir prazer em tudo isso, dificilmente você será um netviciado, pois automaticamente haverá uma normalização no uso, ou seja, usar a internet para aquilo que me serve, e não como uma válvula de escape sobre algum problema na vida face a face.
Somos assassinos por natureza?
– Todo ser humano é agressivo por natureza. Com o advento do virtual, isso se tornou mais tolerável pela sociedade que atualmente está num limiar mais próximo de aceitação desse sentimento. O que antes ficava escondido dentro de nós era tido como ruim. Hoje, você pode, através de um jogo, matar pessoas. É melhor matar gente pela internet do que matar nas ruas porque o ser humano já era agressivo e sempre foi.
Como é feito o contato com o NPPI?
– No caso do uso patológico, temos uma orientação que dura oito semanas e começa por correio eletrônico. Na quarta troca de e-mail, é possível notar qual é o problema do netviciado e se a pessoa chegar até a oitava semana com o uso restritivo ela é encaminhada para um tratamento psicológico. O dependente tem a opção de procurar quem o atendeu por e-mail e ter a assistência do profissional na clínica. Depois é feito o processo formal pelo paciente, que preenche uma ficha com seus dados, como nome completo, endereço etc. O NPPI segue as normas do CFP (Conselho Federal de Psicologia), que considera o grupo como um serviço clínico apto em psicologia. O custo por consulta presencial é o valor referência R$100,00, com quatro consultas mensais.
Para mais informações acesse o site http://www.pucsp.br/nppi/
Reproduzido do blog do autor, 19/2/2008
Em pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em março de 2007, o estado de São Paulo está em segundo lugar em número de usuários da internet, com 29,9%, perdendo apenas para o Distrito Federal, com 41,1% dos acessos à rede de computadores no Brasil.
O acesso à rede na maior cidade da América Latina significa trabalhar e como conseguir trabalho. Significa conhecer a futura mãe ou o futuro pai dos seus filhos. Exprime a resposta concreta de idéias quando se cria um site ou um blog. Para muitos é não sair ou sair menos de casa. Pode ir desde encontrar um filme para assistir, até achar o endereço de um hospital em que um parente acaba de dar entrada e o telefone do famigerado lugar só dá ocupado.
Com o uso da web em São Paulo, podem ocorrer reduções de custos provocadas por mudanças de comportamento – porque hoje se enviam menos cartas e mais e-mails.
Através de um programa de mensagens instantâneas, é possível um usuário da internet se comunicar com um outro que tenha o mesmo programa, em tempo real, por um preço menor em relação à telefonia fixa.
Entrevistas e histórias
Muda-se o tipo das cantadas nas noites paulistanas; ao invés de se pedir o telefone, se pede o e-mail da paquera. E não podemos deixar de falar na febre do Orkut, que conquistou internautas de diferentes idades, estilos e pensamentos. Basta ir a bibliotecas, lan houses, cibercafés e você verá o azul-claro do site de relacionamento brilhando nos monitores de Sampa.
Hoje, ter computador em casa é quase tão necessário quanto um microondas ou televisor, e mais: quem conhece pouco de informática tem a chance reduzida no mercado de trabalho, sendo classificado quase como um analfabeto. A internet deve ser um instrumento de desenvolvimento social. Ela possibilita a partilha de bens como a memória, a percepção e a imaginação.
Nesta reportagem, abordaremos como a ciência define um netviciado e os problemas que a rede poder trazer para algumas pessoas, em entrevista com a psicóloga dra. Andréa Jotta Ribeiro Nolf.
Mostraremos como escolas paulistanas auxiliam na formação de jovens internautas e as conseqüências dos seus atos perante a lei no ambiente virtual. Contaremos como foi o surgimento das lan houses e a história de Vinícius Ortiz Pinelli, um ex-viciado em games que se tornou gerente da Monkey Paulista.
Escolas ensinam implicações jurídicas
Para tentar disciplinar a pesquisa de trabalhos e frear as agressões entre alunos em ambientes virtuais, escolas particulares de São Paulo decidiram incluir nas suas atividades o ensino de ética no uso da internet.
O exemplo mais recente é o tradicional colégio Bandeirantes (zona sul). Neste ano, os professores passaram por uma capacitação específica sobre o tema e os alunos recebem uma cartilha que mostra, entre outras coisas, as implicações criminais que algumas ações na rede podem acarretar. Uma das situações apontadas é o repasse de e-mail que espalhe um boato, ação que se encaixa no Código Penal como difamação – pena de três meses a um ano. Se o autor do crime for menor de idade, os pais serão responsabilizados.
Alunos já publicaram em sites e blogs fotos de professores em posições desconfortáveis e a coordenação de tecnologia do colégio Bandeirantes decidiu fazer ações de prevenção. A partir do ano que vem, os estudantes da 5ª série do ensino médio do Bandeirantes terão no currículo uma disciplina específica sobre ética na internet. Muitos pais, alunos e professores não têm idéia do transtorno legal que pode causar uma simples comunidade no Orkut que ataque um colega de classe.
Outra escola que procurou auxílio jurídico foi o Humboldt, colégio bilíngüe na zona sul. Um grupo de estudantes criou uma comunidade contra professores e alunos. A escola Humboldt consultou um advogado e decidiu promover palestras sobre o assunto. A internet potencializa as agressões verbais porque o adolescente acha que está protegido, não precisa se identificar.
No colégio Augusto Laranja (zona sul), o foco é como pesquisar corretamente. O trabalho começa já para as crianças da 2ª série, que estão na casa dos oito anos. Elas ganham uma cartilha logo no começo do ano e trabalham com professores nos laboratórios. Desde cedo, eles querem mostrar que pesquisar na internet não é só copiar e colar. Tem de se verificar a fonte e qual o autor. E essa informação precisa ser apenas uma parte da pesquisa; o texto final deve ser do aluno.
No Dante Alighieri (zona oeste), as discussões são amplas e vão desde a pesquisa para trabalhos até as ofensas de alunos pela rede.
A febre das lan houses
A ação da escola ajudou Ana (nome fictício), 16 anos, em sua recuperação. Ela sofreu depressão por se achar gorda. Nas férias, ficava o dia todo na internet, não saía de casa. Era uma fuga da realidade. Quando as aulas retornaram, ela não fazia as lições nem estudava; só tinha ânimo para ficar no computador, o que fazia por dez horas ao dia. Não queria nem mais se alimentar. Por isso, teve um princípio de anorexia e chegou a ser internada, com fraqueza. Sua mãe, que é psicóloga e tem 53 anos, conta que, como trabalha o dia todo, tentava monitorar pelo telefone o tempo que a filha usava a internet, mas era difícil. A internação fez com que a estudante passasse a ser tratada por um psicólogo. Mas o que impulsionou sua recuperação foi uma palestra na sua escola, o Santa Maria (zona sul), cujo tema era "Perigos e Ameaças Online", segundo matéria publicada na Folha de S.Paulo.
Elas se espalham pela cidade como rastilho de pólvora; são as lan houses. Uma opção de entretenimento inicialmente introduzida na Coréia do Sul, em 1996. Lá, existem cerca de 22 mil lojas, nos Estados Unidos cerca de 15 mil e há uma multiplicação das casas de jogos em rede no Brasil. As primeiras lans surgiram aqui em 1998, quando o empresário brasileiro Sunami Chun voltou de uma viagem à Coréia do Sul e trouxe a idéia para São Paulo. Fundou a Monkey, hoje a maior rede em território nacional. Depois da Monkey, milhares de lan houses ganharam o espaço de cibercafés e se espalham na terra tupiniquim. É uma febre entre jovens de 13 a 27 anos, dos quais 90% são do sexo masculino. Existem 3,5 mil lan houses no Brasil, das quais 600 estão em São Paulo. Lan vem do inglês Local Area Network. Na versão hi-tech do velho fliperama, vários jogadores se divertem com as últimas novidades no ramo de jogos, todos conectados em rede num único ambiente virtual, diz Lino Pereira, diretor-geral da Monkey.
O estímulo de estar online
Na tarde de quinta-feira, 12 de julho de 2007, fui até a mega-lan house Monkey, que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana. Localizada num lugar onde muitos sonham em morar na capital paulista, alameda Santos – bairro Cerqueira César. Entrei pelo lado direito da alameda, nº 1217, e pedi autorização ao gerente Vinícius para fazer entrevistas com alguns ciberviciados. Entrevistei várias pessoas que ele me garantiu serem dependentes do mundo virtual, mas na hora H elas se mostravam muito equilibradas e me disseram que não passavam mais do que duas horas lá dentro. Quando já estava quase indo embora, eis que surge Vinícius Ortiz Pinelli, 22 anos, ciberatleta e gerente da casa.
E ele me diz: "Por que você não me entrevista, pô?"
E eu pergunto, surpreso: "Mas você viciado, realmente faz uso excessivo da tecnologia?"
– Me entrevista que eu te conto direito.
Liguei o microfone e...
Quanto tempo você jogava por dia?
– Quando tinha 16, anos ficava jogando o dia inteiro, minha vida era só jogo e estar em frente ao computador. Ficava em torno de 10 horas por dia, mas já fiquei, várias vezes, bem mais do que isso. Me lembro de jogar 27 horas com intervalos de 30 minutos para descansar e voltar a ativa. Jogava profissionalmente o game "Counter Strike".
O resto como ficava, e quais as conseqüências que esse hábito teve na sua vida?
– Não tinha resto, trocava tudo para jogar desde a balada de final de semana com amigos, namoro, até tomar banho e comer. Só comia porcaria, quando comia. Jogava em casa, ia para a lan house, acabava o dinheiro e continuava jogando em casa. Cheguei a pedir grana emprestada e fiquei devendo na lan só para jogar.
Você se considera um ex-viciado?
– Sim, me considero um cara que foi e atualmente não tenho mais pique e nem quero mais fazer isso.
Você buscou algum tratamento psicológico para amenizar a dependência do jogo?
– Não, o meu uso foi decaindo com a idade e força de vontade. É bem parecido com o vício do cigarro. Se a pessoa tiver o fumo como mais importante que a vida dela, não vai parar de fumar. O mesmo acontece com os jogos e o jogador. A pessoa deve ter a capacidade de sair do vício.
A compulsão por ciberjogos foi um dos motivos que te credenciaram a trabalhar numa lan house?
– Estou há cinco anos neste ramo e um dos requisitos básicos para ser gerente da Monkey é, sem dúvida, ser um profundo conhecedor de jogos. Também faço faculdade de designer em informática. Está tudo relacionado. A principal fonte de renda de uma lan são os games, e não a internet, como muitos pensam que é.
Hoje você joga quanto tempo; em média?
– Agora, aos 22 anos, fico cerca de três horas por dia, mas conheço pessoas que continuam jogando muitas horas diariamente, preferem se enturmar com os games e pessoas online do que buscar amigos na vida real.
Como é o game "Counter Strike"?
– É um jogo em que um bando de terroristas confronta um grupo de policiais em diferentes situações e o fato de estar online com qualquer jogador do mundo em tempo real é um grande estímulo para a molecada.
Problemas com o uso
No mundo, há entre 50 milhões e 100 milhões de dependentes da internet. Isso corresponde a algo entre 5% e 10% do total de internautas do planeta, segundo artigo da pesquisadora Diane Wieland publicado na revista Perspectivas em Cuidados Psiquiátricos. Em São Paulo, há serviços que cuidam de pacientes que deixaram a web tomar conta de suas vidas.
É o caso do NPPI (Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática), localizado na Clínica Psicológica da PUC-SP. O NPPI foi criado em 1995 a fim de auxiliar as pessoas com problemas psicológicos de grau ampliado, como medo de sair de casa, medo de dirigir, medo de amar demais, pedofilia etc. Os profissionais que atuam nesse grupo são psicólogos formados que buscam um aperfeiçoamento clínico, que vai da triagem com o internauta até o chamado atendimento presencial (face a face). Os especialistas da mente cumprem seus serviços dentro da clínica da PUC.
Em 2006, foi implantado no NPPI o atendimento para pessoas que têm problemas com o uso da internet. Foi a partir de uma matéria publicada na Folha de S.Paulo, em julho daquele ano, que houve um boom com a repercussão da reportagem, pois o jornal recebeu uma enxurrada de e-mails por parte da comunidade com queixas do tipo: "Estou perdendo o meu emprego", "Meu filho está perdendo o ano letivo", "Meu marido ou esposa quer sair de casa"... Assim, esse grupo teve que estudar mais a fundo as implicações do uso da rede e foi como se consolidou e se manteve, segundo a dra. Andréa Jotta Ribeiro Nolf.
Características do que não é sadio
Qual é a faixa etária, sexo e classe social dos dependentes da internet?
– Os dependentes não têm uma determinada classe social, idade e sexo. Nos casos dos hard users que atendemos, há de tudo. Desde meninas de 12 anos a senhores de 70, de donas de casa até funcionários públicos e padres.
Quais são os sites e os serviços mais acessados pelos viciados?
– Sem dúvida, a pornografia, seja sites ou salas de bate-papo, e em seguida os games.
Segundo a psicologia, quando uma pessoa é considerada viciada e quais são os critérios de avaliação para se chegar a tal conclusão?
– Quando a pessoa deixa de fazer coisas na vida presencial para na fazer vida virtual e começa a ter um uso restritivo ou patológico, ou seja, restringe as atividades normais – por exemplo, não transa com a mulher para visitar site pornográfico, fica conectado o dia inteiro, não quer trabalhar, estudar, comer ou conviver com a família e deixa de ter amigos. Os problemas são do tipo de uso, do mau uso. Ninguém fica viciado em internet por causa da internet, e sim, por problemas anteriores. Veja o clássico exemplo do assassino que mata por causa do revólver e dizermos que não é por um instinto ou por conta de algo dentro dele. Assim como o revólver, a web é um instrumento que as pessoas usam para viabilizar um conteúdo que já é delas, aquilo já estava ali. O que acontece é que, pela impunidade e inocência, o mundo virtual é uma coisa muito ampla e desconexa com o que temos como realidade.
Alguns internautas não se enxergam nesse tipo de atitude e se escondem numa virtualidade. Fingem que aquela pessoa matando velhinhas, por exemplo, não são eles – é só um jogo. Tentam disfarçar que essas coisas não lhes pertencem. O que começamos a perceber é que existe agora uma intersecção entre vida presencial e vida virtual. Para nós, do NPPI, desde 2003 vida real é a presencial mais a virtual. O que faço dentro da internet, o que faço na minha vida virtual, é o que faço nas minhas relações face a face, isto é, a minha vida real. Daqui a dez anos, ninguém poderá dizer que tem uma vida virtual e que esta não tem nada a ver com a vida presencial, coisa que já se reflete hoje, com a web 2.0 e o preenchimento da cultura com a virtualidade em grandes metrópoles como São Paulo.
Repetição e restrição: é assim que a psicologia avalia um netviciado, quando chega a ponto da tecnologia não fazer parte da vida do viciado, mas sim, ela ser a vida dele. Ele não se relaciona mais com amigos numa balada e só quer se comunicar com amigos virtuais, não tem mais relacionamento sexual com sua esposa ou outras mulheres para fazer sexo virtual.
O dependente da web não se satisfaz mais com a vida face a face; fica ansioso em se conectar novamente e só fala sobre isso. O que o faz se sentir bem é estar conectado à internet. Viver em um lugar onde a pessoa pode tudo e tudo é perfeito. Exemplo disso é o ambiente virtual e tridimensional "Second Life". Ali, ter um avatar é ser a versão perfeita de você mesmo e a pessoa pode viver mais nesse ambiente do que com ela mesma.
A tecnologia facilita muito a fantasia e, fazendo isso, o viciado evita entrar em contato com a vida presencial. Lá ele voa, tem dinheiro, casa e uma série de coisas que não tem aqui. Então, essa pessoa se dá conta do que tem aqui e prefere ficar lá. Isso é considerado um sofrimento, não é sadio. Outra característica de mau uso é consumir toda a informação e conter tudo de uma vez, como se alguém pudesse absorver todo o conteúdo da internet. Da mesma maneira em que se iria ao museu ou a uma biblioteca para se identificar todo o conteúdo das obras desses lugares em apenas um dia.
Largou tudo por um saudita
Quem são os personagens problemáticos do ciberespaço?
– Um casal adulto, marido ou esposa, começa a conversar com ex-namorados (as), almoça com amigos (as) virtuais e muita coisa pode acontecer... Isso tem interferido nos relacionamentos. Recebo vários e-mails a respeito disso. É o caso de uma esposa que descobriu que seu marido conversa com outras mulheres no MSN. Criou um perfil fictício, conversou com o homem, seduziu o próprio marido e o levou a ter um encontro presencial com ela. Sem que ele soubesse que era ela. Isso criou uma cisão no casamento e eles se separaram porque, de certa forma, essa esposa se sentiu traída por ela mesma.
Casais estão tendo que conversar e esclarecer o que pode e o que não pode na internet. Como, por exemplo, conversar no MSN, ter perfil no Orkut, ter a senha para acessar os e-mails do outro etc.O comportamento está tendo que ser revisto, os casais inteligentes já fazem isso. Alguns chegam a englobar no relacionamento o uso da tecnologia e vêem juntos sites pornográficos.
Outro exemplo da era da modernidade, mas fora do NPPI, é o de Carolina, 24 anos, e Luciano, 27, moradores do bairro Jardim Miriam, zona sul de São Paulo. Namoravam havia três anos e fazia três meses que moravam juntos. Eram um típico casal de classe média. Luciano, desempregado, se viu deslumbrado pelo mundo virtual, que se tornou bem real. Pulou a cerca duas vezes, ou seja, conheceu duas mulheres fora do casamento pelo Orkut (site de relacionamento na internet). Ele ficava direto conectado à web e fez de tudo para a sua companheira não ter um perfil no Orkut. Doce ilusão. Na facilidade que essa ferramenta tecnológica traz, Carolina desacatou a "ordem" e rapidamente encontrou o seu homem e as sua "amiguinhas". Conversou com o namorado pessoalmente, Luciano confirmou a história e se separaram.
Há um caso de uma jovem que conheceu um rapaz da Arábia Saudita, se apaixonou, largou tudo em São Paulo para ir morar no país dele. A mãe dela estava em grande sofrimento, mandou um e-mail desesperada, pois a menina não conhecia o rapaz pessoalmente e a cultura dele era completamente diferente da nossa.
"Todo ser humano é agressivo"
Onde fica o lado bom da internet, existem mudanças positivas?
– Quando é feito o uso correto dessa ferramenta, o normal é que essa tecnologia nos ajude não só a trabalharmos, mas também a nos relacionarmos. Se pensarmos numa cidade como São Paulo, onde existe trânsito intenso, dificuldade de estar em contato presencial com nossos amigos todos os dias para encontrar com as pessoas que conhecemos e utilizar o ciberespaço para fazer isso é uma prova de bom uso. Você pode facilitar a comunicação para estar com as suas escolhas e, em vez de ligar para uma só pessoa de cada vez, é possível enviar um e-mail de tarde com uma mensagem para vários destinatários. Dessa forma, ocorre um ganho de tempo e espaço para combinar um encontro com eles à noite.
O bom uso da internet é isso, o uso criativo que traz coisas boas. Posso fazer uma pesquisa escolar bem feita. Se não puder me deslocar fisicamente a uma biblioteca, eu acesso um mundo de informação que, se souber usar, irá acrescentar alguma coisa, como cultura e conhecimento. Nós, aqui, somos apaixonados pela internet e a estudamos porque é extremamente prazerosa e se você usar corretamente será maravilhoso.
Há meio termo para não cair no vício?
– Olha, isso depende do ser humano que está acessando a tecnologia. O meio termo é o resultado da forma que cuidamos da nossa vida fora da web, nos relacionamento com amigos, parentes, namoros e vida profissional. Não devemos deixar lacunas nos relacionamentos presenciais. Tomando esses cuidados, como conseguir ter equilíbrio na vida face a face e sentir prazer em tudo isso, dificilmente você será um netviciado, pois automaticamente haverá uma normalização no uso, ou seja, usar a internet para aquilo que me serve, e não como uma válvula de escape sobre algum problema na vida face a face.
Somos assassinos por natureza?
– Todo ser humano é agressivo por natureza. Com o advento do virtual, isso se tornou mais tolerável pela sociedade que atualmente está num limiar mais próximo de aceitação desse sentimento. O que antes ficava escondido dentro de nós era tido como ruim. Hoje, você pode, através de um jogo, matar pessoas. É melhor matar gente pela internet do que matar nas ruas porque o ser humano já era agressivo e sempre foi.
Como é feito o contato com o NPPI?
– No caso do uso patológico, temos uma orientação que dura oito semanas e começa por correio eletrônico. Na quarta troca de e-mail, é possível notar qual é o problema do netviciado e se a pessoa chegar até a oitava semana com o uso restritivo ela é encaminhada para um tratamento psicológico. O dependente tem a opção de procurar quem o atendeu por e-mail e ter a assistência do profissional na clínica. Depois é feito o processo formal pelo paciente, que preenche uma ficha com seus dados, como nome completo, endereço etc. O NPPI segue as normas do CFP (Conselho Federal de Psicologia), que considera o grupo como um serviço clínico apto em psicologia. O custo por consulta presencial é o valor referência R$100,00, com quatro consultas mensais.
Para mais informações acesse o site http://www.pucsp.br/nppi/
Pais e escola devem estipular limites no uso de celulares, dizem especialistas Alunos foram punidos em colégio após filmagem com aparelho.
Mãe diz que não deixa filha sair sem em 'cidade violenta como SP'.
Thiago Reis
Do G1, em São Paulo
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Ana Cristina e a filha Letícia, de 9 anos: limites pré-acordados para o uso do celular (Foto: Thiago Reis/G1)
O número de crianças e adolescentes utilizando celulares cresce a cada dia. E a polêmica também. Há aqueles que acham que o aparelho pode causar problemas de saúde e prejudicar o aprendizado. Há os que dizem que hoje em dia o item é quase indispensável e ajuda no monitoramento do filho. Neste Dia das Crianças, ele será um dos presentes mais pedidos. Surge então o dilema: afinal, o celular é indicado ou não a crianças e adolescentes?
A resposta dos especialistas é uma só: “depende para o quê”. “O celular é uma ferramenta tecnológica como outra qualquer. O problema é saber se o propósito do uso deles por crianças é apenas o consumo, se a criança vai ganhar o celular apenas para se mostrar para os amigos”, afirma a professora Andréa Jotta, do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP.
“Se o celular for utilizado por uma criança que vai ser deixada na natação e vai ter que ligar para a mãe buscar depois, ele já começa a ter mais sentido”, diz. “Já para crianças abaixo de oito anos, não há motivo. Como elas não saem sozinhas, não têm necessidade de ter um. Senão, ele vai funcionar como um brinquedo.”
saiba mais
Veja como preservar seus direitos ao comprar o presente do Dia das Crianças
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Mas nem sempre as crianças entendem isso. As empresas, interessadas em vender, dificultam ainda mais o trabalho dos pais. Para seduzir o público infanto-juvenil, muitas têm lançado aparelhos chamativos, com bonecas e temas de desenhos infantis como mote e uma promessa infindável de joguinhos.
Para a psicóloga Andréa Jotta, cabe aos pais ou aos cuidadores da criança estabelecer limites, até para que a conta no fim do mês não seja uma surpresa. “As crianças são seduzidas por qualquer coisa. Do mesmo jeito que consomem balas, chocolates e outras guloseimas sem limite, elas consumirão tecnologia também sem saber quando parar.”
A professora da Faculdade de Educação da USP Stela Piconez concorda. “Os pais e a escola têm que buscar o equilíbrio. Não se trata de proibir, mas de haver um consumo sustentável. Tudo o que é usado em excesso tende a não ter consequências benéficas. Há os adolescentes que ficam torpedeando sem parar, como desesperados.”
Escola pune
No colégio Móbile, em Moema, na Zona Sul da capital paulista, alunos de 10 e 11 anos chegaram a ser punidos após utilizar o celular de maneira inapropriada.
Um dos meninos filmou uma briga ocorrida na semana passada entre dois colegas de sala. Passou o vídeo por meio do bluetooth para outros alunos e, junto com o agressor, ameaçou colocar a filmagem no Youtube, site de compartilhamento de vídeos.
"Eles foram advertidos, perderam as aulas de atividades físicas à tarde e tiveram de fazer um trabalho sobre o uso responsável da teconologia. Depois, apresentaram na classe e participaram de um debate em grupo", diz a diretora do ensino fundamental da escola, Cleuza Vilas Boas Bourgogne.
"Hoje o celular é um pacotão de recursos, com câmera, música, torpedos, bluetooth. E é preciso lidar com tudo isso." Na escola, o uso só é permitido nos intervalos e na hora da saída. "As regras atendem a um coletivo. Há um vínculo de confiança com cada um. E ele raramente é quebrado", afirma Cleuza.
Foi por uma “questão de segurança” que a dona de casa Ana Cristina Valdez, de 37 anos, resolveu dar um celular à filha já aos 7 anos de idade.
Foi por segurança. A gente vive em uma cidade muito violenta"
“A gente vive em uma cidade muito violenta, o que faz com que cada um tenha suas neuras", diz. Apesar da pouca idade da garota, Ana Cristina diz que ela não extrapola no uso do aparelho nem baixa joguinhos ou ringtones (os toques musicais). “No começo, quando a gente estava em casa, ela falava: ‘Mãe, já que você está no telefone fixo, vou ligar para minha amiguinha do celular’. E eu falava que não, para ela esperar um pouquinho, que eu já saía. Ela sempre respeitou.”
Segundo ela, Letícia, hoje com 9 anos, não carrega o celular na ida à escola, usa apenas quando vai a casa de amigas ou a festinhas. “É bom ela ligar se precisar de algo sem ter que pedir para alguém. Quanto mais segurança ela sentir que tem, mais independente ela será”, diz.
A professora Stela Piconez, no entanto, vê uma contradição neste raciocínio. “Em nome de uma pseudo-autonomia, a criança passa a não resolver seus problemas. Qualquer coisa que acontece, ela liga para a mãe, pede ajuda para o papai.”
DICAS DE COMO ENSINAR A CRIANÇA A USAR O CELULAR
- Combine com seu filho quanto ele pode gastar, quantos torpedos mandar ou toques comprar e os horários em que pode usar o aparelho;
- Avise a criança que o celular deve ser usado em conversas rápidas ou de emergência e que seu uso para lazer deve estar condicionado ao fato de não haver nenhuma tarefa para cumprir;
- Peça para que o celular seja carregado longe do corpo, de preferência em uma mochila;
- Tente fazer com que a criança só leve o celular ao ouvido após a chamada ser confirmada no visor e, na hora de atender, após aceitá-la.
Saúde
Os problemas de saúde que o celular pode acarretar também são uma incógnita. Há estudos que indicam que as crianças são mais suscetíveis à radiação emitida pelo aparelho. “Eu me preocupo muito com isso”, diz Ana Cristina.
Segundo Marcelo Valente, doutor em radiologia e médico do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, há, de fato, um risco maior às crianças, já que o tecido delas é mais imaturo. Por isso, diz, o ideal é retardar ao máximo o uso do aparelho. "Quanto mais velha a criança for e menos utilizar, melhor."
Ele diz que não há razão para pânico, mas que algumas medidas podem ser tomadas para amenizar os efeitos da radiação. Uma delas é carregar o celular a uma distância de 1 a 2 centímetros do corpo, em uma mochila, por exemplo.
"Na hora em que se faz ou se recebe uma chamada, a radiação é amplificada. É importante levar o telefone ao ouvido apenas após a chamada ser confirmada", completa.
Thiago Reis
Do G1, em São Paulo
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Ana Cristina e a filha Letícia, de 9 anos: limites pré-acordados para o uso do celular (Foto: Thiago Reis/G1)
O número de crianças e adolescentes utilizando celulares cresce a cada dia. E a polêmica também. Há aqueles que acham que o aparelho pode causar problemas de saúde e prejudicar o aprendizado. Há os que dizem que hoje em dia o item é quase indispensável e ajuda no monitoramento do filho. Neste Dia das Crianças, ele será um dos presentes mais pedidos. Surge então o dilema: afinal, o celular é indicado ou não a crianças e adolescentes?
A resposta dos especialistas é uma só: “depende para o quê”. “O celular é uma ferramenta tecnológica como outra qualquer. O problema é saber se o propósito do uso deles por crianças é apenas o consumo, se a criança vai ganhar o celular apenas para se mostrar para os amigos”, afirma a professora Andréa Jotta, do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP.
“Se o celular for utilizado por uma criança que vai ser deixada na natação e vai ter que ligar para a mãe buscar depois, ele já começa a ter mais sentido”, diz. “Já para crianças abaixo de oito anos, não há motivo. Como elas não saem sozinhas, não têm necessidade de ter um. Senão, ele vai funcionar como um brinquedo.”
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Mas nem sempre as crianças entendem isso. As empresas, interessadas em vender, dificultam ainda mais o trabalho dos pais. Para seduzir o público infanto-juvenil, muitas têm lançado aparelhos chamativos, com bonecas e temas de desenhos infantis como mote e uma promessa infindável de joguinhos.
Para a psicóloga Andréa Jotta, cabe aos pais ou aos cuidadores da criança estabelecer limites, até para que a conta no fim do mês não seja uma surpresa. “As crianças são seduzidas por qualquer coisa. Do mesmo jeito que consomem balas, chocolates e outras guloseimas sem limite, elas consumirão tecnologia também sem saber quando parar.”
A professora da Faculdade de Educação da USP Stela Piconez concorda. “Os pais e a escola têm que buscar o equilíbrio. Não se trata de proibir, mas de haver um consumo sustentável. Tudo o que é usado em excesso tende a não ter consequências benéficas. Há os adolescentes que ficam torpedeando sem parar, como desesperados.”
Escola pune
No colégio Móbile, em Moema, na Zona Sul da capital paulista, alunos de 10 e 11 anos chegaram a ser punidos após utilizar o celular de maneira inapropriada.
Um dos meninos filmou uma briga ocorrida na semana passada entre dois colegas de sala. Passou o vídeo por meio do bluetooth para outros alunos e, junto com o agressor, ameaçou colocar a filmagem no Youtube, site de compartilhamento de vídeos.
"Eles foram advertidos, perderam as aulas de atividades físicas à tarde e tiveram de fazer um trabalho sobre o uso responsável da teconologia. Depois, apresentaram na classe e participaram de um debate em grupo", diz a diretora do ensino fundamental da escola, Cleuza Vilas Boas Bourgogne.
"Hoje o celular é um pacotão de recursos, com câmera, música, torpedos, bluetooth. E é preciso lidar com tudo isso." Na escola, o uso só é permitido nos intervalos e na hora da saída. "As regras atendem a um coletivo. Há um vínculo de confiança com cada um. E ele raramente é quebrado", afirma Cleuza.
Foi por uma “questão de segurança” que a dona de casa Ana Cristina Valdez, de 37 anos, resolveu dar um celular à filha já aos 7 anos de idade.
Foi por segurança. A gente vive em uma cidade muito violenta"
“A gente vive em uma cidade muito violenta, o que faz com que cada um tenha suas neuras", diz. Apesar da pouca idade da garota, Ana Cristina diz que ela não extrapola no uso do aparelho nem baixa joguinhos ou ringtones (os toques musicais). “No começo, quando a gente estava em casa, ela falava: ‘Mãe, já que você está no telefone fixo, vou ligar para minha amiguinha do celular’. E eu falava que não, para ela esperar um pouquinho, que eu já saía. Ela sempre respeitou.”
Segundo ela, Letícia, hoje com 9 anos, não carrega o celular na ida à escola, usa apenas quando vai a casa de amigas ou a festinhas. “É bom ela ligar se precisar de algo sem ter que pedir para alguém. Quanto mais segurança ela sentir que tem, mais independente ela será”, diz.
A professora Stela Piconez, no entanto, vê uma contradição neste raciocínio. “Em nome de uma pseudo-autonomia, a criança passa a não resolver seus problemas. Qualquer coisa que acontece, ela liga para a mãe, pede ajuda para o papai.”
DICAS DE COMO ENSINAR A CRIANÇA A USAR O CELULAR
- Combine com seu filho quanto ele pode gastar, quantos torpedos mandar ou toques comprar e os horários em que pode usar o aparelho;
- Avise a criança que o celular deve ser usado em conversas rápidas ou de emergência e que seu uso para lazer deve estar condicionado ao fato de não haver nenhuma tarefa para cumprir;
- Peça para que o celular seja carregado longe do corpo, de preferência em uma mochila;
- Tente fazer com que a criança só leve o celular ao ouvido após a chamada ser confirmada no visor e, na hora de atender, após aceitá-la.
Saúde
Os problemas de saúde que o celular pode acarretar também são uma incógnita. Há estudos que indicam que as crianças são mais suscetíveis à radiação emitida pelo aparelho. “Eu me preocupo muito com isso”, diz Ana Cristina.
Segundo Marcelo Valente, doutor em radiologia e médico do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, há, de fato, um risco maior às crianças, já que o tecido delas é mais imaturo. Por isso, diz, o ideal é retardar ao máximo o uso do aparelho. "Quanto mais velha a criança for e menos utilizar, melhor."
Ele diz que não há razão para pânico, mas que algumas medidas podem ser tomadas para amenizar os efeitos da radiação. Uma delas é carregar o celular a uma distância de 1 a 2 centímetros do corpo, em uma mochila, por exemplo.
"Na hora em que se faz ou se recebe uma chamada, a radiação é amplificada. É importante levar o telefone ao ouvido apenas após a chamada ser confirmada", completa.
Ciberbullying: quando a criança é o agressor
13/02/2009
Fonte:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI26648-15201,00-CIBERBULLYING+QUANDO+A+CRIANCA+E+O+AGRESSOR.html
Autor:
Revista Época / Francine Lima
Veículo de Imprensa:
Veículo Nacional
Ciberbullying: quando a criança é o agressor
O velho costume de tirar sarro de um colega ganha contornos mais graves na rede. Saiba como combater
Em qualquer escola, sempre existiu aquele aluno que vira o centro das atenções pelos piores motivos. Só por ser gordinho, ou muito estudioso, ou muito tímido, ou por ter um nariz meio grande, ganhava apelidos pejorativos, tomava lanche sozinho, era perseguido na saída. Agora, as brincadeiras de mau gosto ganharam novas proporções. Às vezes, exageradas. Em vez de recreio e saída, os xingamentos podem vir a qualquer hora, por mensagem de celular, emails destinados a dezenas de colegas e até páginas de internet dedicadas ao coitado. Fotos digitais adulteradas são usadas para denegrir sua imagem, e mesmo a distância o efeito é instantâneo: em pouco tempo sabe-se lá quantos internautas já terão visto e repassado a ofensa? Isso é o chamado cyberbullying, uma das principais preocupações atuais de quem estuda o comportamento dos jovens na internet. Principalmente pela dificuldade que a vítima tem de se defender.
Há cerca de três anos, no Instituto Educacional Stagium, em Diadema (SP), uma aluna com autismo foi provocada de propósito por algumas colegas do 7º ano para que aparecesse "surtando" num vídeo. O vídeo, feito com uma câmera fotográfica (proibida na escola), foi publicado num blog dedicado a falar mal dela. Quando a direção da escola ficou sabendo, já tinha dado tempo de a classe inteira assistir ao vídeo na internet. A solução foi chamar os pais dos envolvidos para definir como os culpados seriam repreendidos. “A escola não poderia ficar isenta”, afirma a diretora, Sônia Costa Pereira. No fim, os alunos reconheceram o erro e se retrataram publicamente, usando o mesmo blog em que tinham publicado a ofensa. E ainda se engajaram, por sugestão da escola, em uma ação social no município, como medida socioeducativa.
César Munhoz, do Portal Educacional, afirma que novos meios de cometer assédio pela internet são descobertos a toda hora. Uma das modas é criar perfil falso no Orkut usando o nome e a foto de algum colega. Basta copiar a foto do perfil verdadeiro e colar num outro perfil, usando algumas informações verdadeiras para dar credibilidade, e fazer o diabo em nome dessa pessoa. A "diversão" é acrescentar dados falsos que denigram a imagem do colega e usar o perfil dele para atacar publicamente outras pessoas da turma. Assim, várias vítimas são feitas ao mesmo tempo: os alvos das ofensas e seu suposto autor, que leva a culpa no lugar dos falsários. Quando a ofensa constitui crime, pode ser denunciada ao denunciar.org. As escolas têm poder limitado para interferir, pois não podem impor restrições ao que é feito do lado de fora de seus portões. Mas, como normalmente o bullying envolve colegas de classe, é fundamental que a escola participe da discussão. Trazer a questão para os estudantes analisarem juntos é uma forma de eles entenderem por que é que brincadeira tem limite. Segundo Andréa Jotta, da PUC, o serviço tem recebido muitos e-mails sobre esse tema. A principal dica para se livrar da perseguição é que a vítima não se isole. "Quando ela se fortalece, o bullying perde a graça”.
Como agir se seu filho for atacado virtualmente por colegas
Conforte a criança. Mostre que ela tem a quem recorrer quando se sentir sem defesas. Encontrar aliados dentro da turma costuma fortalecer a vítima
Procure a escola a fim de encontrar soluções e medidas preventivas que possam ser adotadas também dentro de casa
Eles gostam de mentir na internet
Como a facilidade de “teclar” anonimamente facilita os abusos e aumenta os riscos
Sem recursos que filtrem conteúdos impróprios durante sua navegação pela internet, as crianças e adolescentes estão sujeitos a se deparar com uma infinidade de textos, imagens e pessoas com potencial efeito ofensivo. O próprio Orkut, um site de relacionamentos tão popular entre eles, só deveria, segundo as normas, ser usado por maiores de idade, justamente por causa da exposição da intimidade. Os milhares de adolescentes que exibem suas carinhas lá estão mentindo a idade, com a conivência dos pais.
O que é que elas estão fazendo em ambientes feitos para adultos? Na visão de Andréa Jotta, do Núcleo de Pesquisas em Psicologia e Informática da PUC/SP, as páginas pessoais se tornaram o espaço onde eles experimentam se mostrar de um jeito como ainda não têm coragem de fazer diante de olhares críticos. "Eles usam o ambiente virtual para testar e ensaiar o que querem fazer na vida presencial", diz Jotta. Isso inclui se esconder atrás de personagens declaradamente fictícias para fuçar na vida - ou na ficção - alheia sem se comprometer. Adolescentes fãs de mangás deram origem a dezenas de perfis "fakes" no Orkut, em que no lugar da identidade real está a de alguma celebridade do mundo Anime. Essas personagens têm entre seus amigos de Orkut outras personagens de Anime, todas fruto de uma brincadeira coletiva entre totais desconhecidos. Às vezes, assim de mentirinha, um faker vira namorado de outra faker. Atrás da identidade falsa e aparentemente inofensiva, eles podem experimentar um tipo de namoro que ainda não conheceram na vida real. Eles podem experimentar de tudo. O que eles vão querer experimentar e onde vão querer se arriscar, acredita Jotta, depende da educação que estão recebendo.
O papel da família nesse novo mundo, dizem os especialistas, é fazer o que sempre fez com relação aos riscos que qualquer criança corre quando sai de casa, na "vida presencial": tomar conta. Perguntar aonde e com quem o filho vai, combinar horários de ida e volta e as regras do passeio. E, claro, ser bacana o bastante para que a criança ou o jovem se sintam à vontade para dizer a verdade. Não é preciso instaurar uma ditadura doméstica. O caminho é o diálogo. A dica para os pais é que comecem a orientar os filhos desde cedo. Foi o que fizeram Andréa Caran e seu marido, ambos profissionais da área de tecnologia da informação e pais de duas crianças, de 5 e 7 anos. Na sala em que ficam todos os computadores da casa, a família toda se reúne, cada um com sua atividade. O menino, que ainda não aprendeu a ler e escrever, traz indicações de sites divertidos que recebe de coleguinhas da escola, e a mãe checa antes do que se trata. Se tiver sala de bate-papo, ela já avisa que naquela parte do site ele não pode entrar. "Mesmo num site infantil, nunca se sabe quem está do outro lado", diz Andréa. Para a filha, Luana, já alfabetizada, trocar emails e falar no MSN, ela ou o pai autorizam previamente parentes e amigos, e as conversas são automaticamente gravadas. Essa forma de controle é possível a partir do próprio programa da Microsoft, que na criação do Windows Vista previu a necessidade de os adultos restringirem o uso do computador pelas crianças. Mas não dispensa o radar humano. Certa vez, a babá, que também ajuda a monitorar as crianças, viu que o amigo de MSN da menina estava usando palavras inadequadas e pedia que ela ligasse a webcam. A babá interrompeu a conversa e avisou à menina por que estava na hora de desligar. Mais tarde, descobriu-se que era um irmão mais velho do amigo dela que estava falando naquela hora, usando seu nome. O marido de Andréa conversou com a mãe dos garotos e vetou os dois no MSN da filha. Luana aceitou a decisão e explicou ao amigo que a partir dali só se falariam pessoalmente ou por telefone.
Fonte:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI26648-15201,00-CIBERBULLYING+QUANDO+A+CRIANCA+E+O+AGRESSOR.html
Autor:
Revista Época / Francine Lima
Veículo de Imprensa:
Veículo Nacional
Ciberbullying: quando a criança é o agressor
O velho costume de tirar sarro de um colega ganha contornos mais graves na rede. Saiba como combater
Em qualquer escola, sempre existiu aquele aluno que vira o centro das atenções pelos piores motivos. Só por ser gordinho, ou muito estudioso, ou muito tímido, ou por ter um nariz meio grande, ganhava apelidos pejorativos, tomava lanche sozinho, era perseguido na saída. Agora, as brincadeiras de mau gosto ganharam novas proporções. Às vezes, exageradas. Em vez de recreio e saída, os xingamentos podem vir a qualquer hora, por mensagem de celular, emails destinados a dezenas de colegas e até páginas de internet dedicadas ao coitado. Fotos digitais adulteradas são usadas para denegrir sua imagem, e mesmo a distância o efeito é instantâneo: em pouco tempo sabe-se lá quantos internautas já terão visto e repassado a ofensa? Isso é o chamado cyberbullying, uma das principais preocupações atuais de quem estuda o comportamento dos jovens na internet. Principalmente pela dificuldade que a vítima tem de se defender.
Há cerca de três anos, no Instituto Educacional Stagium, em Diadema (SP), uma aluna com autismo foi provocada de propósito por algumas colegas do 7º ano para que aparecesse "surtando" num vídeo. O vídeo, feito com uma câmera fotográfica (proibida na escola), foi publicado num blog dedicado a falar mal dela. Quando a direção da escola ficou sabendo, já tinha dado tempo de a classe inteira assistir ao vídeo na internet. A solução foi chamar os pais dos envolvidos para definir como os culpados seriam repreendidos. “A escola não poderia ficar isenta”, afirma a diretora, Sônia Costa Pereira. No fim, os alunos reconheceram o erro e se retrataram publicamente, usando o mesmo blog em que tinham publicado a ofensa. E ainda se engajaram, por sugestão da escola, em uma ação social no município, como medida socioeducativa.
César Munhoz, do Portal Educacional, afirma que novos meios de cometer assédio pela internet são descobertos a toda hora. Uma das modas é criar perfil falso no Orkut usando o nome e a foto de algum colega. Basta copiar a foto do perfil verdadeiro e colar num outro perfil, usando algumas informações verdadeiras para dar credibilidade, e fazer o diabo em nome dessa pessoa. A "diversão" é acrescentar dados falsos que denigram a imagem do colega e usar o perfil dele para atacar publicamente outras pessoas da turma. Assim, várias vítimas são feitas ao mesmo tempo: os alvos das ofensas e seu suposto autor, que leva a culpa no lugar dos falsários. Quando a ofensa constitui crime, pode ser denunciada ao denunciar.org. As escolas têm poder limitado para interferir, pois não podem impor restrições ao que é feito do lado de fora de seus portões. Mas, como normalmente o bullying envolve colegas de classe, é fundamental que a escola participe da discussão. Trazer a questão para os estudantes analisarem juntos é uma forma de eles entenderem por que é que brincadeira tem limite. Segundo Andréa Jotta, da PUC, o serviço tem recebido muitos e-mails sobre esse tema. A principal dica para se livrar da perseguição é que a vítima não se isole. "Quando ela se fortalece, o bullying perde a graça”.
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Conforte a criança. Mostre que ela tem a quem recorrer quando se sentir sem defesas. Encontrar aliados dentro da turma costuma fortalecer a vítima
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Sem recursos que filtrem conteúdos impróprios durante sua navegação pela internet, as crianças e adolescentes estão sujeitos a se deparar com uma infinidade de textos, imagens e pessoas com potencial efeito ofensivo. O próprio Orkut, um site de relacionamentos tão popular entre eles, só deveria, segundo as normas, ser usado por maiores de idade, justamente por causa da exposição da intimidade. Os milhares de adolescentes que exibem suas carinhas lá estão mentindo a idade, com a conivência dos pais.
O que é que elas estão fazendo em ambientes feitos para adultos? Na visão de Andréa Jotta, do Núcleo de Pesquisas em Psicologia e Informática da PUC/SP, as páginas pessoais se tornaram o espaço onde eles experimentam se mostrar de um jeito como ainda não têm coragem de fazer diante de olhares críticos. "Eles usam o ambiente virtual para testar e ensaiar o que querem fazer na vida presencial", diz Jotta. Isso inclui se esconder atrás de personagens declaradamente fictícias para fuçar na vida - ou na ficção - alheia sem se comprometer. Adolescentes fãs de mangás deram origem a dezenas de perfis "fakes" no Orkut, em que no lugar da identidade real está a de alguma celebridade do mundo Anime. Essas personagens têm entre seus amigos de Orkut outras personagens de Anime, todas fruto de uma brincadeira coletiva entre totais desconhecidos. Às vezes, assim de mentirinha, um faker vira namorado de outra faker. Atrás da identidade falsa e aparentemente inofensiva, eles podem experimentar um tipo de namoro que ainda não conheceram na vida real. Eles podem experimentar de tudo. O que eles vão querer experimentar e onde vão querer se arriscar, acredita Jotta, depende da educação que estão recebendo.
O papel da família nesse novo mundo, dizem os especialistas, é fazer o que sempre fez com relação aos riscos que qualquer criança corre quando sai de casa, na "vida presencial": tomar conta. Perguntar aonde e com quem o filho vai, combinar horários de ida e volta e as regras do passeio. E, claro, ser bacana o bastante para que a criança ou o jovem se sintam à vontade para dizer a verdade. Não é preciso instaurar uma ditadura doméstica. O caminho é o diálogo. A dica para os pais é que comecem a orientar os filhos desde cedo. Foi o que fizeram Andréa Caran e seu marido, ambos profissionais da área de tecnologia da informação e pais de duas crianças, de 5 e 7 anos. Na sala em que ficam todos os computadores da casa, a família toda se reúne, cada um com sua atividade. O menino, que ainda não aprendeu a ler e escrever, traz indicações de sites divertidos que recebe de coleguinhas da escola, e a mãe checa antes do que se trata. Se tiver sala de bate-papo, ela já avisa que naquela parte do site ele não pode entrar. "Mesmo num site infantil, nunca se sabe quem está do outro lado", diz Andréa. Para a filha, Luana, já alfabetizada, trocar emails e falar no MSN, ela ou o pai autorizam previamente parentes e amigos, e as conversas são automaticamente gravadas. Essa forma de controle é possível a partir do próprio programa da Microsoft, que na criação do Windows Vista previu a necessidade de os adultos restringirem o uso do computador pelas crianças. Mas não dispensa o radar humano. Certa vez, a babá, que também ajuda a monitorar as crianças, viu que o amigo de MSN da menina estava usando palavras inadequadas e pedia que ela ligasse a webcam. A babá interrompeu a conversa e avisou à menina por que estava na hora de desligar. Mais tarde, descobriu-se que era um irmão mais velho do amigo dela que estava falando naquela hora, usando seu nome. O marido de Andréa conversou com a mãe dos garotos e vetou os dois no MSN da filha. Luana aceitou a decisão e explicou ao amigo que a partir dali só se falariam pessoalmente ou por telefone.
A internet aproxima ou afasta as pessoas?
Enviado por Jornal de Debates (não verificado(a)) em 15. setembro 2007 - 21:00
A fuga das meninas menores de idade na semana passada, que foram de carona de São Paulo a Curitibanos, em santa Catarina, trouxe à tona a discussão sobre os benefícios e malefícios da internet. Para encontrar as meninas, a polícia cogitou analisar as últimas conversas delas pelo MSN. No site de relacionamentos Orkut, é possível participar de comunidades como "Eu quero fugir de casa", "Me ajude a fugir de casa", "Hoje eu vou fugir de casa", em que jovens trocam experiências sobre a vontade de escapar da família, da escola e da rotina adolescente. A psicóloga da PUC Andréa Jotta, "na internet você acha todos os modos de pensar. Se você acha que fugir de casa é bom, vai achar gente que achou isso uma ótima experiência e recomenda, mas também vai achar gente que pede para você não fazer isso nunca. Tudo vai depender do que o adolescente busca", diz a psicóloga Andréa Jotta.
A fuga das meninas menores de idade na semana passada, que foram de carona de São Paulo a Curitibanos, em santa Catarina, trouxe à tona a discussão sobre os benefícios e malefícios da internet. Para encontrar as meninas, a polícia cogitou analisar as últimas conversas delas pelo MSN. No site de relacionamentos Orkut, é possível participar de comunidades como "Eu quero fugir de casa", "Me ajude a fugir de casa", "Hoje eu vou fugir de casa", em que jovens trocam experiências sobre a vontade de escapar da família, da escola e da rotina adolescente. A psicóloga da PUC Andréa Jotta, "na internet você acha todos os modos de pensar. Se você acha que fugir de casa é bom, vai achar gente que achou isso uma ótima experiência e recomenda, mas também vai achar gente que pede para você não fazer isso nunca. Tudo vai depender do que o adolescente busca", diz a psicóloga Andréa Jotta.
Vício em internet já é comparado a dependência química Conheça o problema e veja instituições que oferecem tratamento
Publicado em 09/04/2008 - 16:45
Marcel Frota
Anderson* é um adolescente normal como qualquer outro. Ele passou a ter problemas na escola, seu desempenho estudantil não era dos melhores e por causa disso procurou a evitar o colégio. Não usava a saúde, desculpa clássica para evitar as aulas, para fugir dos recorrentes fracassos. Ele escolheu outro caminho, o virtual. Foi no ciberespaço que ele encontrou um jeito de evitar as conseqüências do mau desempenho na escola. Lá ninguém o julgava ou o cobrava por nada. Esse meio tão aconchegante se transformou na fuga de Anderson. Mais tarde, esse foi o tormento em sua vida e de sua família.
Esse é um exemplo clássico identificado por psicólogos que tratam os viciados em Internet. Ou seja, a pessoa usa a rede mundial para suprir uma carência que tem na vida real. O vício em Internet nasce, na esmagadora maioria das vezes, assim. Não há nenhuma pesquisa brasileira sobre o tema, mas um levantamento realizado pela Universidade La Salle, nos Estados Unidos, estimou em 50 milhões o número de viciados em Internet. De acordo com o Internet World Stats, 1,3 bilhão de pessoas usam Internet no mundo todo.
Anderson passou a freqüentar Lan Houses onde varava noites acordado. Quando dormia, era picado e sobre o teclado. A alimentação e higiene passaram a ser sistematicamente negligenciados e os amigos que tinha na vida real eram ignorados. Somente os amigos virtuais tinham alguma relevância na sua precária vida social. O problema escolar se agravou e o desespero da família também, sobretudo porque o rapaz ficava arredio quando era impedido de usar o computador.
"Quem passa por esse problema geralmente fica agressivo, briga com os pais e fica realmente atormentado quando está sem o computador", afirma a psicóloga Sylvia Van Enck Meira, voluntária da equipe do AMITI (Ambulatório dos Transtornos do Impulso) do Hospital das Clínicas. O hospital já tem uma equipe que presta assistência a pessoas viciadas em Internet. O tratamento tem diversas etapas e é multidisciplinar. Os pacientes passam por avaliações que irão nortear a abordagem usada para tratar o problema. Há casos em que o viciado é tratado individualmente ou em grupo, a depender da gravidade da situação.
Na opinião de Sylvia, as mesmas motivações que levam alguém a se drogar podem levá-lo ao vício no ciberespaço. "A maioria é formada por pessoas sem perspectiva de futuro que acabaram por se envolver com isso", diz ela. A médica revela que os casos não têm exatamente um perfil fixo. Há atendimentos para adolescentes, adultos e até idosos viciados em Internet. Os interessados em procurar ajuda no Hospital das Clínicas podem fazer isso de duas formas: por meio da página específica montada pelo hospital ou pelo telefone 11- 3069-6975.
Como identificar?
No mundo corporativo contemporâneo, o acesso à Internet é praticamente fundamental e muitos profissionais passam quase todo o tempo em que estão no escritório conectados à rede. Isso não faz de ninguém um viciado. "Há profissionais que passam o dia na rede. Um webdesigner pode ficar 14 horas na rede por causa do trabalho. O que determina o vício é a qualidade de uso. É possível diagnosticar o vício com base na repetição do uso. Por exemplo, uma pessoa fica três horas conectada e usa, o Orkut, o MSN, checa e-mails, lê notícias e pesquisa temas. É diferente de alguém que fica três horas conectado e só acessa sites de sexo em busca de possíveis parceiros sexuais ou conteúdos desse tipo", explica a psicóloga Andréa Jotta, pesquisadora do NPPI (Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática) da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
O NPPI tem um sistema on-line de atendimento para viciados em Internet. Quem tiver interesse em buscar a orientação dada pelo núcleo pode entrar em contato pelo endereço eletrônico nppi@pucsp.br. Andréa diz que o padrão baseado no tempo de conexão já não é tão utilizado para se configurar o vício justamente em função das demandas profissionais e da qualidade de uso. Tanto ela quanto Sylvia dizem que o viciado é identificado quando o uso da rede passa a ser feito em detrimento dos compromissos que a pessoa tem na vida real. "O referencial é esse, a pessoa deixa de fazer as coisas na vida dela para ficar na Internet. Deixa de cuidar da vida social, do trabalho, dos estudos, em função da rede. Ou seja, o uso que faz da Internet é abusivo e compromete a vida", resume Sylvia.
De acordo com Andréa, o modus operandi do viciado varia um pouco de acordo com o perfil da pessoa. Homens tendem a procurar parceiras sexuais e gastam muito tempo em sites com conteúdo erótico. Por outro lado, as mulheres tendem a procurar sites de relacionamentos, como o Orkut, e gastam muito tempo em salas de bate-papo ou usam muito softwares de conversas instantâneas, como o MSN.
Sylvia afirma que o vício em Internet pode ser a porta para outros vícios. "Abre a possibilidade para uso de drogas, ou para o aumento do uso em quem já consumia. Alguns se utilizam delas para se manter acordado, usam energéticos", declara ela. Sylvia diz ainda que a alimentação empobrecida dos viciados também é um fator de risco e o início de um ciclo vicioso. "Vemos casos de pessoas que se tornam obesas pela alimentação precária aliada à falta de movimentação. Essas pessoas passam a ter a auto-imagem comprometida, não querem correr o risco de se expor em público e nem de se relacionar fora do ambiente virtual. Têm vários amigos no Internet e nenhum fora. Os viciados se isolam, perdem emprego, imaginam que não serão mais aceitos e aí buscam cada vez mais conforto na Internet", alerta Sylvia.
Existem formas diferentes de abordar o viciado. O consenso é que a conversa é sempre a melhor maneira de iniciar uma aproximação e assim, tentar demonstrar para o viciado os malefícios de sua atitude. Andréa recomenda que, no caso dos adolescentes, os país façam valer sua autoridade. "Cabe aos pais o controle. Em princípio você pode dialogar, mas se chegar a uma situação extrema, é preciso impor a autoridade", recomenda ela. Mas por autoridade, não leia-se radicalismos. Sylvia lembra que um de seus pacientes sofreu de uma espécie de síndrome de abstinência quando foi proibido pelos pais de usar o computador. Arredio, buscou acesso na casa de amigos e por fim, passou a vender objetos de casa para poder financiar sua permanência em Lan Houses.
Para os adultos, Andréa recomenda muita conversa e em último caso a busca por ajuda especializada. "É preciso conversar porque muitas vezes o adulto não se dá conta do problema que atravessa. Mas é preciso insistir, envolver outras pessoas da família e conversar muito. Se depois de tudo isso o problema não for resolvido, busque ajuda médica", recomenda ela.
* Nome fictício
Marcel Frota
Anderson* é um adolescente normal como qualquer outro. Ele passou a ter problemas na escola, seu desempenho estudantil não era dos melhores e por causa disso procurou a evitar o colégio. Não usava a saúde, desculpa clássica para evitar as aulas, para fugir dos recorrentes fracassos. Ele escolheu outro caminho, o virtual. Foi no ciberespaço que ele encontrou um jeito de evitar as conseqüências do mau desempenho na escola. Lá ninguém o julgava ou o cobrava por nada. Esse meio tão aconchegante se transformou na fuga de Anderson. Mais tarde, esse foi o tormento em sua vida e de sua família.
Esse é um exemplo clássico identificado por psicólogos que tratam os viciados em Internet. Ou seja, a pessoa usa a rede mundial para suprir uma carência que tem na vida real. O vício em Internet nasce, na esmagadora maioria das vezes, assim. Não há nenhuma pesquisa brasileira sobre o tema, mas um levantamento realizado pela Universidade La Salle, nos Estados Unidos, estimou em 50 milhões o número de viciados em Internet. De acordo com o Internet World Stats, 1,3 bilhão de pessoas usam Internet no mundo todo.
Anderson passou a freqüentar Lan Houses onde varava noites acordado. Quando dormia, era picado e sobre o teclado. A alimentação e higiene passaram a ser sistematicamente negligenciados e os amigos que tinha na vida real eram ignorados. Somente os amigos virtuais tinham alguma relevância na sua precária vida social. O problema escolar se agravou e o desespero da família também, sobretudo porque o rapaz ficava arredio quando era impedido de usar o computador.
"Quem passa por esse problema geralmente fica agressivo, briga com os pais e fica realmente atormentado quando está sem o computador", afirma a psicóloga Sylvia Van Enck Meira, voluntária da equipe do AMITI (Ambulatório dos Transtornos do Impulso) do Hospital das Clínicas. O hospital já tem uma equipe que presta assistência a pessoas viciadas em Internet. O tratamento tem diversas etapas e é multidisciplinar. Os pacientes passam por avaliações que irão nortear a abordagem usada para tratar o problema. Há casos em que o viciado é tratado individualmente ou em grupo, a depender da gravidade da situação.
Na opinião de Sylvia, as mesmas motivações que levam alguém a se drogar podem levá-lo ao vício no ciberespaço. "A maioria é formada por pessoas sem perspectiva de futuro que acabaram por se envolver com isso", diz ela. A médica revela que os casos não têm exatamente um perfil fixo. Há atendimentos para adolescentes, adultos e até idosos viciados em Internet. Os interessados em procurar ajuda no Hospital das Clínicas podem fazer isso de duas formas: por meio da página específica montada pelo hospital ou pelo telefone 11- 3069-6975.
Como identificar?
No mundo corporativo contemporâneo, o acesso à Internet é praticamente fundamental e muitos profissionais passam quase todo o tempo em que estão no escritório conectados à rede. Isso não faz de ninguém um viciado. "Há profissionais que passam o dia na rede. Um webdesigner pode ficar 14 horas na rede por causa do trabalho. O que determina o vício é a qualidade de uso. É possível diagnosticar o vício com base na repetição do uso. Por exemplo, uma pessoa fica três horas conectada e usa, o Orkut, o MSN, checa e-mails, lê notícias e pesquisa temas. É diferente de alguém que fica três horas conectado e só acessa sites de sexo em busca de possíveis parceiros sexuais ou conteúdos desse tipo", explica a psicóloga Andréa Jotta, pesquisadora do NPPI (Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática) da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
O NPPI tem um sistema on-line de atendimento para viciados em Internet. Quem tiver interesse em buscar a orientação dada pelo núcleo pode entrar em contato pelo endereço eletrônico nppi@pucsp.br. Andréa diz que o padrão baseado no tempo de conexão já não é tão utilizado para se configurar o vício justamente em função das demandas profissionais e da qualidade de uso. Tanto ela quanto Sylvia dizem que o viciado é identificado quando o uso da rede passa a ser feito em detrimento dos compromissos que a pessoa tem na vida real. "O referencial é esse, a pessoa deixa de fazer as coisas na vida dela para ficar na Internet. Deixa de cuidar da vida social, do trabalho, dos estudos, em função da rede. Ou seja, o uso que faz da Internet é abusivo e compromete a vida", resume Sylvia.
De acordo com Andréa, o modus operandi do viciado varia um pouco de acordo com o perfil da pessoa. Homens tendem a procurar parceiras sexuais e gastam muito tempo em sites com conteúdo erótico. Por outro lado, as mulheres tendem a procurar sites de relacionamentos, como o Orkut, e gastam muito tempo em salas de bate-papo ou usam muito softwares de conversas instantâneas, como o MSN.
Sylvia afirma que o vício em Internet pode ser a porta para outros vícios. "Abre a possibilidade para uso de drogas, ou para o aumento do uso em quem já consumia. Alguns se utilizam delas para se manter acordado, usam energéticos", declara ela. Sylvia diz ainda que a alimentação empobrecida dos viciados também é um fator de risco e o início de um ciclo vicioso. "Vemos casos de pessoas que se tornam obesas pela alimentação precária aliada à falta de movimentação. Essas pessoas passam a ter a auto-imagem comprometida, não querem correr o risco de se expor em público e nem de se relacionar fora do ambiente virtual. Têm vários amigos no Internet e nenhum fora. Os viciados se isolam, perdem emprego, imaginam que não serão mais aceitos e aí buscam cada vez mais conforto na Internet", alerta Sylvia.
Existem formas diferentes de abordar o viciado. O consenso é que a conversa é sempre a melhor maneira de iniciar uma aproximação e assim, tentar demonstrar para o viciado os malefícios de sua atitude. Andréa recomenda que, no caso dos adolescentes, os país façam valer sua autoridade. "Cabe aos pais o controle. Em princípio você pode dialogar, mas se chegar a uma situação extrema, é preciso impor a autoridade", recomenda ela. Mas por autoridade, não leia-se radicalismos. Sylvia lembra que um de seus pacientes sofreu de uma espécie de síndrome de abstinência quando foi proibido pelos pais de usar o computador. Arredio, buscou acesso na casa de amigos e por fim, passou a vender objetos de casa para poder financiar sua permanência em Lan Houses.
Para os adultos, Andréa recomenda muita conversa e em último caso a busca por ajuda especializada. "É preciso conversar porque muitas vezes o adulto não se dá conta do problema que atravessa. Mas é preciso insistir, envolver outras pessoas da família e conversar muito. Se depois de tudo isso o problema não for resolvido, busque ajuda médica", recomenda ela.
* Nome fictício
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