terça-feira, 16 de novembro de 2010

Bullying Virtual - Navegar na internet nem sempre é divertido

Bullying Virtual
Navegar na internet nem sempre é divertido
Larissa Drumond

O mundo virtual é interessante por proporcionar muitas fontes de conhecimento, possibilitar que você volte a ter contato com amigos da infância e conheça pessoas, músicas, artistas e lugares; mas, o mesmo espaço destinado à diversão e ao entretenimento pode se transformar num meio de infernizar a vida dos outros.

Bullying virtual – ou cyberbullying – é o nome que se dá para a humilhação por meios eletrônicos, seja por e-mail, por rede de relacionamentos ou por conversas instantâneas, anonimamente ou não. “É preciso entender que para se estabelecer um caso de bullying, a depreciação deve acontecer por um longo período de tempo, a ponto de a vítima acreditar que o mundo também tem a mesma opinião que o agressor”, explica Andréa Jotta Nolff, psicóloga do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP.

Entretanto, não é sempre que humilhações pela internet são consideradas crime. “A Polícia Civil só atua a partir do momento em que podem ser configurados ameaça, crime contra a honra – como calúnia e difamação injustificada –, além de meios eletrônicos que incitem o suicídio e a prática de crimes, como destruição de objetos [delito de dano] ou difusão de brigas e confusões”, explica José Mariano de Araújo Filho, delegado do Departamento de Investigações sobre Crime Organizado (DEIC).

Realidades do mundo virtual
Beatriz Maciel, 16 anos, é amiga de uma menina muito popular na escola e, talvez por esse motivo, fizeram comunidade e perfis falsos com o intuito de atacá-las. “Rolaram xingamentos e acusações de coisas que nós nunca fizemos. Quanto mais pessoas se juntarem para denunciar, o perfil é excluído pelo Google, então, colocamos as contas falsas no nosso perfil para que os amigos nos ajudassem”, lembra.

Os anônimos a xingavam sem pudor e falavam que sua popularidade no colégio acabaria cedo ou tarde. “Eu imagino quem tenha feito tudo isso, mas eu não posso acusar alguém sem saber a verdade. Só gostaria de entender por que existem pessoas capazes de escrever coisas tão horríveis. É triste saber que alguém o odeia tanto a ponto de perder seu próprio tempo criando um perfil falso”, divide.

Quando Erika Jodas, 21 anos, estava no terceiro ano do Ensino Médio, ela e algumas amigas se tornaram alvos de brincadeirinhas de mau gosto de algumas meninas do colégio. Não satisfeitas, os xingamentos, que começaram no âmbito escolar, pararam numa comunidade do Orkut. “O curioso é que eu mesma me chamava de ‘leãozinho’ carinhosamente, porque meu cabelo é armado e enrolado; mas, elas aproveitaram o apelido para me insultar. Eu ficava muito magoada, não pelo apelido, mas por elas pegarem bem no meu pé. Eu comecei a me sentir excluída e a me perguntar ‘por que eu?’”

Freud explica
O agressor precisa sentir que exerce poder sobre os outros, além de querer ganhar prestígio e atenção. Ninguém tem coragem de detê-lo, muito menos de defender o agredido, devido ao medo de ser a próxima vítima. “Geralmente, os adolescentes que cometem o bullying são muito críticos na percepção pessoal. Eles vestem uma barreira protetora em torno de seus defeitos que os tornam capazes de enxergar com muita facilidade onde mora a baixa autoestima do outro”, explica a psicóloga Andréa.

Por incrível que pareça, os depreciadores, na maioria das vezes, têm características muito próximas de quem está sendo incomodado e fazem isso justamente por sofrerem em outros relacionamentos. “Esses jovens são repreendidos constantemente pelos pais por meio de abusos verbais e repetem esse tipo de comportamento nos mais fracos, ainda mais por internet, que parece ser um mundo livre, sem consequências e, por isso, muito mais fácil de se expor”, esclarece a profissional.

“Eram xingamentos que nenhuma menina gostaria de receber. Contei aos meus pais e eles me apoiaram a todo o momento, falando para eu não me deixar levar com o que escreviam”, revela Beatriz. A garota teve confiança nos pais para compartilhar sua situação constrangedora, mas não é o que os adolescentes fazem normalmente pelo receio do que pode lhes acontecer. Andréa afirma que os pais acreditam que resolverão o problema ao tirar o computador do filho. “Dessa forma, o jovem fica sem saber se ainda está sofrendo de cyberbullying e perde o controle da situação. Ele tem medo de ser mais punido ainda”.

Mãos à obra
Se os pais forem comunicados e o caso consistir em algum delito, é recomendado ir a alguma delegacia, relatar o ocorrido em qualquer unidade policial para que seja instaurado um inquérito e comece a apuração. “Seja site, e-mail ou rede de relacionamentos, é preciso levar as ameaças impressas e salvas em disquete, CD ou pen drive à qualquer delegacia para coleta e rastreamento do agressor”, explica o delegado José Mariano. O fato de não ter autoria não é caso impeditivo para o prosseguimento da operação. “Sempre há vestígios por causa do IP [números que representam o local do computador], então fazemos um trabalho de investigação até chegar ao endereço do meio eletrônico do responsável, que pode cumprir pena de dois a oito anos, dependendo do crime”, conclui.

Solução
Os adolescentes costumam ter amigos apenas na escola, no clube ou em cursos que frequenta, até pela dificuldade de locomoção, diferentemente dos adultos. A psicóloga Andréa diz que, para evitar o cyberbullying, o adolescente precisa fortalecer sua autoestima e aumentar os seus referenciais de acesso, que são as pessoas com quem se relaciona. “Se o bullying virtual já o atingiu, o melhor é se afastar e observar outros meios, ter amigos em diversos lugares e entender que aquela é a opinião de um grupo específico, não do resto do mundo”.

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