terça-feira, 28 de julho de 2009
Entrando numa fria
Jogo virtual animado por pinguins estimula o consumo infantil
Renata Cabral
TROCA No Club Penguin, os pontos ganhos são transformados em moedas
Uma cidade virtual cheia de pinguins simpáticos e desajeitados está deixando crianças eufóricas e colocando os pais numa "gelada". O jogo Club Penguin, da Walt Disney, lembra o adulto Second life no exercício da interatividade. Mas, no site dos pinguins, ambiciona-se comprar iglus, decoração para o seu interior, roupas e até espaço vip em eventos e festas. Pode-se brincar de graça, mas a navegação é bem limitada.
A versão completa do jogo, e paga, é que é legal: tem festas e catálogos com produtos restritos para quem desembolsa, no cartão de crédito, R$ 8,90 por mês. Quem não assina, recebe mensagens interditando a entrada em determinadas áreas e convive com a frustração de não ter os mesmos privilégios. Mas não é no valor da mensalidade que o dinheiro escoa e sim na compra de acessórios e produtos. Como se vê, atrás da figura carismática do pinguim, há um negócio rentável e um aprendizado capitalista.
"Infelizmente, esse é o modelo que mais se vê no mundo virtual: eles jogam a isca e depois cobram", constata a designer e antropóloga carioca Zoy Anastassakis, 35 anos, que cedeu aos apelos da filha Mina, 7 anos, e fez uma assinatura do Club Penguin. Há poucas semanas, sua casa foi palco de uma crise que a assustou. Uma colega da filha caiu em prantos porque o pinguim dela estava "pelado", como disse. A menina revoltou-se contra a mãe que não tinha lhe dado, ainda, o pacote de mensalidade. "O jogo tem seus méritos, é bastante criativo e engraçado", avalia a psicanalista Lulli Milman, do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. "Mas acenar com uma ilusão, uma amostra de algo que a criança talvez não possa ter, é algo nefasto."
MEU MUNDO É UM IGLU As amigas Victoria e Renata brincam com os puffles, bichos de estimação dos pinguins. Antonio prefere colecionar exemplares
O sucesso do jogo, voltado para crianças de 6 a 14 anos, é tão grande no Brasil que o Club ganhou, em novembro, uma versão em português, graças a uma intensa campanha dos usuários brasileiros, que somavam meio milhão na ocasião. Um deles é o carioca Antonio Pedro, 11 anos, que tem uma coleção de 16 pinguins originais (que custam cerca de US$ 10 cada). O pai, o designer de interiores carioca Leonardo de Magalhães Pinto, 41 anos, controla o tempo que o filho passa plugado, mas aprova a brincadeira. "Não acho caro e me pareceu inofensivo", disse.
Os criadores defendem a criatura. "Damos a eles um lugar para aprender e praticar a administração do dinheiro, onde uma decisão mal tomada não tem uma repercussão tão rígida quanto no mundo real", justifica o canadense Lane Merrifield, vicepresidente- executivo da Disney Online Studios. Para a psicóloga Andréa Jotta, do núcleo de pesquisas de psicologia em informática da PUC-SP, esse contato precoce só será benéfico se bem orientado.
"Essa dinâmica pode ter um lado bom, desde que a criança compreenda que, quanto mais se esforça, mais ganha. O problema é se ela não aceitar parar de ganhar", alerta. As amigas Victoria Borda e Renata Ávila, 11 anos, batalharam em casa até convencer os pais de que a assinatura valia a pena. "Mas não compro os brinquedos extras para não instigar o consumismo", diz a mãe de Renata, a contadora carioca Denise Ávila. Estimular o consumo entre crianças é mesmo arriscado, explica a professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Leila Tardivo. "Que tipo de moral se está oferecendo? A de quem tem mais pode mais?" Eis a questão.
Psicóloga, Professora e Pesquisadora da Interface Ser Humano, Tecnologia, Informação e Comunicação da PUC/SP desde 2005. Compõe a equipe do Janus - Laboratório de Estudos da Psicologia, Tecnologia, Informação e Comunicação da PUC-SP. Leciona, pesquisa e palestra sobre o que vem acontecendo com o ser humano, as mídias tradicionais, a sociedade e as ferramentas tecnológicas contemporâneas, como a internet, sites de relacionamento, redes sociais, comunicadores instantâneos entre outros.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Meu primeiro e-mail - Estadinho
Meu primeiro e-mail
Que o pessoal que lê o Estadinho é conectado, disso ninguém duvida. Faz tempo que a a turma plugada navega por jogos online e sites divertidos. Mas chega um momento de ficar “grandinho” na internet. É a hora de ter o primeiro e-mail. Por quê? Ué, “para conversar com os nossos amigos”, eles respondem, de cara.
Fernando Valladares Gomes, de 9 anos, e Clara Arndt Borges, da mesma idade, criaram os seus e-mails no ano passado, com a ajuda de seus pais. “Fico fofocando com minhas amigas da sala e converso com meus primos do interior de Santa Catarina”, explica Clara, sem tirar os olhos de seu notebook. “Eu mando mensagens para a minha avó do Rio. Também falo com dois amigos, para saber quem de nós vai levar a bola na escola”, diz Fernando.
A dupla, assim como os irmãos Gabriel e Matheus Menasce, de 10 e 11 anos, quis ter e-mail próprio para poder mexer no MSN Messenger. “Só uso para isso”, diz Matheus. “Tenho 30 e pouquinhos amigos. A maioria é do meu prédio. Adoro usar aqueles emoticons de dar risada”, completa Gabriel.
A psicóloga Andrea Jotta, do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP, diz que o e-mail é usado como uma ponte para a garotada entrar nos sites de relacionamentos, como o Habbo e Club Penguin, que exigem um para o cadastro.
A PALAVRA É: AUTONOMIA
“A partir dos 8 anos, já se tem maior autonomia e vem o desejo de interagir com a internet. Antes, com os joguinhos, a relação era apenas passiva”, comenta a psicóloga.
Foi com essa idade mesmo que o pessoal ouvido pelo Estadinho quis ter seu primeiro e-mail, com o objetivo de criar uma conta no Messenger. “ No e-mail você não fala toda hora e não descobre quem está conectado junto de você. Por isso que o MSN é tão legal”, conta Fernando. “Converso até com minha professora de inglês e ela só me deixa falar se for em inglês. É bom para eu treinar, né?”, fala.
O primeiro e-mail serve de janela para o incrível mundo da comunicação que existe na internet. Mas vale lembrar: tudo tem seu tempo. O fato de ter um e-mail não indica que você já esteja pronto para ganhar uma conta no Orkut, por exemplo.
AS REGRAS DO JOGO
Antes de criar sua conta de correio eletrônico número 1, o quarteto entrevistado teve uma boa conversa com seus pais . Os responsáveis por essa turminha têm a senha das contas dos pimpolhos, para saber onde estão navegando ou com quem estão conversando. Parece chato, mas é importante. Acreditem.
“Internet não é mundo de se esconder nada. É preciso deixar claro que a internet é um meio público e que as regras do mundo virtual são as mesmas do presencial”, ensina a psicóloga Andrea.
A loirinha Clara sabe que não deve conversar com estranhos na internet. Também aprendeu que não deve clicar em nenhum link suspeito. É a mesma coisa que não aceitar presentes de quem não se conhece.
É com essas lições que se aprende a usar a internet. Que o diga o aplicado aluno Fernando, que acaba de receber a aprovação dos pais para montar seu primeiro blog. “É sobre videogame! Divulga aí”, ele pede: www.nando-games.blogspot.com.
Assunto: Jornal
Que o pessoal que lê o Estadinho é conectado, disso ninguém duvida. Faz tempo que a a turma plugada navega por jogos online e sites divertidos. Mas chega um momento de ficar “grandinho” na internet. É a hora de ter o primeiro e-mail. Por quê? Ué, “para conversar com os nossos amigos”, eles respondem, de cara.
Fernando Valladares Gomes, de 9 anos, e Clara Arndt Borges, da mesma idade, criaram os seus e-mails no ano passado, com a ajuda de seus pais. “Fico fofocando com minhas amigas da sala e converso com meus primos do interior de Santa Catarina”, explica Clara, sem tirar os olhos de seu notebook. “Eu mando mensagens para a minha avó do Rio. Também falo com dois amigos, para saber quem de nós vai levar a bola na escola”, diz Fernando.
A dupla, assim como os irmãos Gabriel e Matheus Menasce, de 10 e 11 anos, quis ter e-mail próprio para poder mexer no MSN Messenger. “Só uso para isso”, diz Matheus. “Tenho 30 e pouquinhos amigos. A maioria é do meu prédio. Adoro usar aqueles emoticons de dar risada”, completa Gabriel.
A psicóloga Andrea Jotta, do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP, diz que o e-mail é usado como uma ponte para a garotada entrar nos sites de relacionamentos, como o Habbo e Club Penguin, que exigem um para o cadastro.
A PALAVRA É: AUTONOMIA
“A partir dos 8 anos, já se tem maior autonomia e vem o desejo de interagir com a internet. Antes, com os joguinhos, a relação era apenas passiva”, comenta a psicóloga.
Foi com essa idade mesmo que o pessoal ouvido pelo Estadinho quis ter seu primeiro e-mail, com o objetivo de criar uma conta no Messenger. “ No e-mail você não fala toda hora e não descobre quem está conectado junto de você. Por isso que o MSN é tão legal”, conta Fernando. “Converso até com minha professora de inglês e ela só me deixa falar se for em inglês. É bom para eu treinar, né?”, fala.
O primeiro e-mail serve de janela para o incrível mundo da comunicação que existe na internet. Mas vale lembrar: tudo tem seu tempo. O fato de ter um e-mail não indica que você já esteja pronto para ganhar uma conta no Orkut, por exemplo.
AS REGRAS DO JOGO
Antes de criar sua conta de correio eletrônico número 1, o quarteto entrevistado teve uma boa conversa com seus pais . Os responsáveis por essa turminha têm a senha das contas dos pimpolhos, para saber onde estão navegando ou com quem estão conversando. Parece chato, mas é importante. Acreditem.
“Internet não é mundo de se esconder nada. É preciso deixar claro que a internet é um meio público e que as regras do mundo virtual são as mesmas do presencial”, ensina a psicóloga Andrea.
A loirinha Clara sabe que não deve conversar com estranhos na internet. Também aprendeu que não deve clicar em nenhum link suspeito. É a mesma coisa que não aceitar presentes de quem não se conhece.
É com essas lições que se aprende a usar a internet. Que o diga o aplicado aluno Fernando, que acaba de receber a aprovação dos pais para montar seu primeiro blog. “É sobre videogame! Divulga aí”, ele pede: www.nando-games.blogspot.com.
Assunto: Jornal
Bem-vindo à infância 00 - Folha de São Paulo
moda /minitecnologia
Bem-vindo à infância 00
iPod para ninar, sites próprios e videogames de última geração tirados de letra.Quem são as crianças de hoje em dia?
Julia Hossepian, 5, herdou um laptop do avô e tem até um site próprio
Julia Cotta Hossepian tem 5 anos, mas já usa podcasts com mais desembaraço que muito adulto por aí. É por meio deles que ela escuta as historinhas da avó, que vive em Minas Gerais. Para matar as saudades dela, a pequena usa a câmera e o microfone do laptop da mãe, a assessora de imprensa Priscila Cotta, de 28 anos.
Mesmo com tão pouca idade, Julia também ganhou um site próprio dos avós maternos, cheio de gifs animados e com links favoritos. Do avô paterno ela herdou um laptop e ali brinca com CD-ROMs de joguinhos. A irmã Laís, de apenas 2 anos, ainda não liga muito para eletrônicos ou internet, mas refere-se a tudo o que é da Barbie –incluindo aí sua escova de dentes– como "site da Barbie".
Prima de Julia, Lara Hossepian Hojaij tem 6 anos e acha que "só vai ganhar um celular com 15 anos...". Enquanto isso ela se diverte com o iPod do pai. Música preferida? "Hmmm, aquela assim: "I like Chopin... love me now and again", cantarola. Seu irmão, Matheus, de 8 anos, adora mandar e-mails e costuma escrever sempre para o pessoal do "Jornal Nacional", seus ídolos.
Pedro Souza Lima tem 7 anos e um corte de cabelo digno de um Rolling Stone. Mas gosta mesmo é de 50 Cent e Beyoncé. Usa Mac em casa e PC na escola, principalmente para jogos (já acabou vários) e para ver trailers de filmes.
Mesmo antes de saber ler, Rafael Mazza Policastro, 7, surpreendeu a mãe, a designer Patricia, 35, quando pediu que digitasse para ele o endereço do Cartoon Network na internet: "É só ponto com, mãe!". Hoje em dia, ele só pega no sono com o iPod para niná-lo.
Lara Hojaij, 6, guarda suas músicas preferidas no iPod
Nova infância, novos pais
Filhos da classe média e alta, estas crianças são uma síntese da nova infância. A geração que cresce no mundo ultratecnológico dos anos 2000 prefere TV a cabo à aberta, acessa a internet com facilidade, carrega celulares desde muito cedo e não se atormenta com as diferenças entre o mundo real e os virtual.
Há quem julgue que essa não é uma boa maneira de se passar a infância, em meio a tantos gadgets eletrônicos. Mas existem pais que discordam. "Acho ótima a infância atual. Há muito mais estímulos do que na minha época", diz Mauro Hossepian, 33, assessor de imprensa. "E a Julia tem tanto prazer em usar a internet, como em brincar no escorregador."
Nativos e cativos
Membro do Núcleo de Pesquisas de Psicologia em Informática da PUC-SP (NPPI), que estuda a relação dos homens com as tecnologias, a psicóloga Andrea Jotta Nolf não vê uma ameaça às crianças no acesso a computadores e outros acessórios de ponta. "A tecnologia não afrouxa relações entre pais e filhos, apenas preenche lacunas, criando casos de sedentarismo e babás eletrônicas. Crianças são naturalmente ativas, e no ambiente ideal elas rapidamente se cansam de fazer a mesma coisa por muito tempo", analisa.
Andrea explica que a idade que divide as novas crianças e as outras são os 10 anos. Até essa idade, elas são chamadas de "nativas", exatamente por terem crescido com todas as facilidades da tecnologia à mão. "Para elas a tecnologia não tem cunho de novidade, de exploração. Elas brincam de videogame e assistem TV, mas também seguem com a vida e fazem a lição de casa", afirma.
Segundo Andrea, com a banalização da tecnologia, estas crianças tendem a ser cada vez menos propensas ao exagero no uso das máquinas do que as gerações anteriores. Mas impor um limite é sempre bom. "Educação é a mesma coisa tanto na vida presencial como na vida virtual. Computador não é babá, mas uma ferramenta que abre caminhos para um novo mundo, com gente boa e ruim", diz Andrea.
A psicóloga, que também é mãe de duas crianças, só aconselha a navegação solitária dos pequenos pela internet se eles já tiverem bom senso para distinguir o que é confiável e o que é suspeito. Caso contrário procure estar sempre presente quando eles brincarem com a internet. Ela também não vê sentido em dar um celular enquanto a criança não começar a andar sozinha por aí.
Uma realidade múltipla
Muito mais do que acesso a um mundo de informações e pessoas, as novas tecnologias também são um ambiente perfeito para a criação de realidades "paralelas", caso do Second Life, um mundo absolutamente virtual na internet. "Hoje nós questionamos se o Second Life é uma segunda personalidade", conta Andrea. "Para nós, adultos, o real e o virtual ainda são muito distintos. Mas estas crianças lidam muito bem com a amplitude de personalidades que este mundo virtual propicia. É normal ser moreno na vida real e louro na virtual, por exemplo."
No âmbito pedagógico, há jogos eletrônicos nos quais você é um conquistador português que chega ao Brasil, por exemplo. "Isso está entrando com força nas escolas, mesmo para crianças de classe baixa, devido a iniciativas de doações de laptops mais baratos", diz a psicóloga. É graças a este conjunto de novas possibilidades que ela acredita que as crianças dos anos 2000 chegarão à vida adulta com uma desenvoltura intelectual e criativa muito maior do que a de gerações anteriores.
* O NPPI responde às dúvidas do público em relação ao uso de tecnologias, inclusive por e-mail.
Endereço: nppi@pucsp.br
Website: www.pucsp.br/nppi
por Gabriela Sampaio
fotos Paulo Ferreira
Bem-vindo à infância 00
iPod para ninar, sites próprios e videogames de última geração tirados de letra.Quem são as crianças de hoje em dia?
Julia Hossepian, 5, herdou um laptop do avô e tem até um site próprio
Julia Cotta Hossepian tem 5 anos, mas já usa podcasts com mais desembaraço que muito adulto por aí. É por meio deles que ela escuta as historinhas da avó, que vive em Minas Gerais. Para matar as saudades dela, a pequena usa a câmera e o microfone do laptop da mãe, a assessora de imprensa Priscila Cotta, de 28 anos.
Mesmo com tão pouca idade, Julia também ganhou um site próprio dos avós maternos, cheio de gifs animados e com links favoritos. Do avô paterno ela herdou um laptop e ali brinca com CD-ROMs de joguinhos. A irmã Laís, de apenas 2 anos, ainda não liga muito para eletrônicos ou internet, mas refere-se a tudo o que é da Barbie –incluindo aí sua escova de dentes– como "site da Barbie".
Prima de Julia, Lara Hossepian Hojaij tem 6 anos e acha que "só vai ganhar um celular com 15 anos...". Enquanto isso ela se diverte com o iPod do pai. Música preferida? "Hmmm, aquela assim: "I like Chopin... love me now and again", cantarola. Seu irmão, Matheus, de 8 anos, adora mandar e-mails e costuma escrever sempre para o pessoal do "Jornal Nacional", seus ídolos.
Pedro Souza Lima tem 7 anos e um corte de cabelo digno de um Rolling Stone. Mas gosta mesmo é de 50 Cent e Beyoncé. Usa Mac em casa e PC na escola, principalmente para jogos (já acabou vários) e para ver trailers de filmes.
Mesmo antes de saber ler, Rafael Mazza Policastro, 7, surpreendeu a mãe, a designer Patricia, 35, quando pediu que digitasse para ele o endereço do Cartoon Network na internet: "É só ponto com, mãe!". Hoje em dia, ele só pega no sono com o iPod para niná-lo.
Lara Hojaij, 6, guarda suas músicas preferidas no iPod
Nova infância, novos pais
Filhos da classe média e alta, estas crianças são uma síntese da nova infância. A geração que cresce no mundo ultratecnológico dos anos 2000 prefere TV a cabo à aberta, acessa a internet com facilidade, carrega celulares desde muito cedo e não se atormenta com as diferenças entre o mundo real e os virtual.
Há quem julgue que essa não é uma boa maneira de se passar a infância, em meio a tantos gadgets eletrônicos. Mas existem pais que discordam. "Acho ótima a infância atual. Há muito mais estímulos do que na minha época", diz Mauro Hossepian, 33, assessor de imprensa. "E a Julia tem tanto prazer em usar a internet, como em brincar no escorregador."
Nativos e cativos
Membro do Núcleo de Pesquisas de Psicologia em Informática da PUC-SP (NPPI), que estuda a relação dos homens com as tecnologias, a psicóloga Andrea Jotta Nolf não vê uma ameaça às crianças no acesso a computadores e outros acessórios de ponta. "A tecnologia não afrouxa relações entre pais e filhos, apenas preenche lacunas, criando casos de sedentarismo e babás eletrônicas. Crianças são naturalmente ativas, e no ambiente ideal elas rapidamente se cansam de fazer a mesma coisa por muito tempo", analisa.
Andrea explica que a idade que divide as novas crianças e as outras são os 10 anos. Até essa idade, elas são chamadas de "nativas", exatamente por terem crescido com todas as facilidades da tecnologia à mão. "Para elas a tecnologia não tem cunho de novidade, de exploração. Elas brincam de videogame e assistem TV, mas também seguem com a vida e fazem a lição de casa", afirma.
Segundo Andrea, com a banalização da tecnologia, estas crianças tendem a ser cada vez menos propensas ao exagero no uso das máquinas do que as gerações anteriores. Mas impor um limite é sempre bom. "Educação é a mesma coisa tanto na vida presencial como na vida virtual. Computador não é babá, mas uma ferramenta que abre caminhos para um novo mundo, com gente boa e ruim", diz Andrea.
A psicóloga, que também é mãe de duas crianças, só aconselha a navegação solitária dos pequenos pela internet se eles já tiverem bom senso para distinguir o que é confiável e o que é suspeito. Caso contrário procure estar sempre presente quando eles brincarem com a internet. Ela também não vê sentido em dar um celular enquanto a criança não começar a andar sozinha por aí.
Uma realidade múltipla
Muito mais do que acesso a um mundo de informações e pessoas, as novas tecnologias também são um ambiente perfeito para a criação de realidades "paralelas", caso do Second Life, um mundo absolutamente virtual na internet. "Hoje nós questionamos se o Second Life é uma segunda personalidade", conta Andrea. "Para nós, adultos, o real e o virtual ainda são muito distintos. Mas estas crianças lidam muito bem com a amplitude de personalidades que este mundo virtual propicia. É normal ser moreno na vida real e louro na virtual, por exemplo."
No âmbito pedagógico, há jogos eletrônicos nos quais você é um conquistador português que chega ao Brasil, por exemplo. "Isso está entrando com força nas escolas, mesmo para crianças de classe baixa, devido a iniciativas de doações de laptops mais baratos", diz a psicóloga. É graças a este conjunto de novas possibilidades que ela acredita que as crianças dos anos 2000 chegarão à vida adulta com uma desenvoltura intelectual e criativa muito maior do que a de gerações anteriores.
* O NPPI responde às dúvidas do público em relação ao uso de tecnologias, inclusive por e-mail.
Endereço: nppi@pucsp.br
Website: www.pucsp.br/nppi
por Gabriela Sampaio
fotos Paulo Ferreira
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